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Escolas particulares pedem volta às aulas e falam em “calamidade educacional”

Associações de creches e escolas particulares do Rio divulgaram uma carta conjunta, ontem, para pedir a retomada das aulas presenciais . Intitulado

Escolas particulares pedem volta às aulas e falam em “calamidade educacional”
Escolas particulares pedem volta às aulas e falam em “calamidade educacional”

Redação Publicado em 03/09/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h39


Apesar do comunicado das instituições, secretário de Educação diz que retorno depende de aval da Saúde

Associações de creches e escolas particulares do Rio divulgaram uma carta conjunta, ontem, para pedir a retomada das aulas presenciais . Intitulado “Calamidade educacional”, o documento alerta para as consequências negativas do isolamento social em relação às crianças e aos adolescentes e afirma que o desenvolvimento das futuras gerações está sendo deixado em segundo plano.

A carta diz que a educação é um serviço essencial, e lança uma provocação ao lembrar outras atividades que já foram autorizadas: “Que país sério abriria bares, boates, saunas coletivas, shoppings, cinemas, piscinas de condomínios, teatros, parquinhos, academias, casas de festas, cursos de atividades extracurriculares, espaços babies e kids, antes de creches e escolas ?”.

“A educação está sendo ignorada, deixada para segundo plano. Perdemos as contas de quantas vezes tentamos audiência com as autoridades competentes. É inadmissível o que está acontecendo”, diz Helena de Castro, Presidente da Associação de Creches e Escolas Particulares do Rio, uma das signatárias da carta.

As escolas se dizem preparadas para retomar as atividades em segurança: “Investimentos foram realizados para atender os protocolos estabelecidos pelos governos”.

Também assinam o documento a presidente da Associação de Proprietários de Escolas Particulares do Rio, Rosane Tavares Fernandes, e a presidente da Associação Brasileira de Educação Infantil, Celia Moreno Maia.

“Essa carta é um posicionamento da sociedade civil, representada pelos educadores. A educação não pode ser objeto de disputas político partidário”, diz Celia.

Confira a íntegra da carta:

“CALAMIDADE EDUCACIONAL

No dia 16 de março do corrente ano, presenciamos o fechamento compulsório de creches e escolas do estado do Rio de Janeiro em decorrência da pandemia que chegava ao território nacional.

Conscientes da extrema importância da ciência em nossas vidas, nos mantivemos atentos e resguardados. Respeitamos o isolamento social determinado pelas autoridades governamentais. Cumprimos com o nosso papel de cidadãos brasileiros pela saúde.

Decorrido, no entanto, quase meio ano do fechamento das creches e escolas, apresentação de queda significativa das curvas de transmissão e óbitos, desarticulação dos hospitais de campanha e esvaziamento dos leitos dos hospitais permanentes, tornou-se impossível ignorarmos os fatos que ocorrem no Rio de Janeiro.

Ao longo de todo esse período, as escolas se prepararam para receber seus alunos de volta, em total segurança. Investimentos foram realizados para atender os protocolos estabelecidos pelos governos. Após meses de tratativas e solicitações frustradas para audiências com os Chefes dos Poderes Executivos do Estado e do Município, não podemos mais aguardar de braços cruzados. Estamos assistindo dia após dia a comunidade escolar ser arruinada.

As primeiras perguntas que fazemos são: que país sério abriria bares, boates, saunas coletivas, shoppings, cinemas, piscinas de condomínios, teatros, parquinhos, academias, casas de festas, cursos de atividades extracurriculares, espaços babies e kids, antes de creches e escolas? Que país sério colocaria a educação em último plano e ignoraria as consequências dessa atitude?

Uma pergunta ainda mais importante é: que país é esse que o Poder Judiciário se sobrepõe ao Poder Executivo e o impede de tomar decisões de sua competência?

Esse país se chama Brasil. Aqui, o lazer e as festas vêm antes da educação. Aqui, o direito das crianças e adolescentes é ceifado sem o menor pudor. Neste País, faz-se uso de um discurso hipócrita com o objetivo de mascarar uma guerra política, inclusive entre Poderes, cujas consequências serão drásticas para a sociedade como um todo.

Há pouco tempo, era impensável um cenário como esse. As crianças estão adoecendo a cada dia. Consultórios de pediatras e psicanalistas infantis revelam uma triste realidade decorrente da falta de convívio social com outras crianças. Pesquisas médicas sérias vêm sendo ignoradas. Informações estão sendo manipuladas de forma a justificar uma decisão sem precedentes.

Enquanto se tratava de saúde pública, nós, na qualidade de educadores, éramos os primeiros a apoiar a decisão do isolamento social. Criamos mecanismos e plataformas para melhor atender nossos alunos e familiares. Mas, agora, não há mais justificativa plausível para o que está acontecendo.

Que país é esse que ignora a sua responsabilidade no desenvolvimento das futuras gerações? Como um país não reconhece o serviço essencial e assistencial das creches e escolas de educação infantil? Será que as consequências negativas do isolamento social em relação às crianças e adolescentes não merecem destaque pela imprensa? Será que nossas autoridades desconhecem o papel da responsabilidade social das escolas no que concerne à segurança das crianças diante de abusos e denúncias aos órgãos competentes? Como os responsáveis podem sair para trabalhar sem o apoio da escola?

Acreditamos que questões como essas estejam sem respostas e não podemos mais aceitar de braços cruzados enquanto a realidade das crianças e adolescentes de nosso País é ignorada pelas autoridades brasileiras.

A quem será que interessa a falência da educação? Essa é uma pergunta que nós todos deveríamos fazer”.

“Sem previsão”

Depois de anunciar a reabertura das escolas públicas para os alunos que não possuem acesso à internet, o Secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro, Pedro Fernandes , afirmou ontem que não há previsão para o retorno das aulas presenciais. As unidades serão abertas apenas para receber estudantes que não têm meios para assistir às atividades virtuais de casa. O governador interino, Claudio Castro, liberou R$ 82 milhões para a compra de 40 mil computadores para os colégios.

“A Secretaria estadual de Saúde estabeleceu a partir de quando poderíamos abrir as escolas, e demos autonomia para todas as redes estabelecerem suas prioridades. No caso da rede estadual de Educação, a nossa maior preocupação é com os alunos que não têm acesso à internet e ao computador, por isso eles serão priorizados”, disse o secretário, em entrevista ao “Bom Dia Rio”.

Ainda de acordo com o secretário, a proposta de priorizar essa parcela de alunos foi uma demanda dos diretores e funcionários das próprias unidades estaduais. Como foi estabelecido o limite de um terço dos alunos para frequentar os colégios, o retorno será autorizado apenas para os estudantes que não têm, comprovadamente, acesso à internet.

Apesar de anunciar a medida a secretaria ainda não informou, no entanto, quantos alunos da rede estão nessa condição e como será feita a triagem de estudantes que têm ou não meios de assistir às atividades virtuais a partir de suas casas.

À espera do ‘ok’ da Saúde

Em nota, a Secretaria estadual de Educação informou que, para garantir o distanciamento entre os estudantes, as salas de aula serão transformadas em laboratórios de informática. Cada escola organizará a utilização de seus espaços, que vão funcionar três vezes por semana.

Questionado sobre o retorno das aulas presenciais na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, o secretário Pedro Fernandes afirmou que depende do aval da Secretaria estadual de Saúde.

Segundo decreto estadual publicado no dia 20 de agosto, as aulas presenciais na rede estadual poderão ser retomadas nas regiões que permaneçam em baixo risco de contaminação pela Covid-19 , com a bandeira amarela, no mínimo, duas semanas seguidas antes da data prevista para a abertura.

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Agência O Globo

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