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Em um confronto verbal entre Lula e Moro, quem venceria o debate?

Por Reinaldo Polito

Em um confronto verbal entre Lula e Moro, quem venceria o debate?
Em um confronto verbal entre Lula e Moro, quem venceria o debate?

Redação Publicado em 09/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h31


Por Reinaldo Polito

Em um confronto verbal entre Lula e Moro, quem venceria o debate?

Ainda que Moro esteja patinando nas pesquisas sobre intenção de votos, é quase certo que ele acabe por enfrentar Lula em um debate. Imagine só, um bate-boca entre o ex-juiz da Lava jato, e aquele que foi para trás das grades por causa de suas decisões no tribunal! Essas cenas eram impensáveis na época em que vimos Lula se dirigindo à reclusão em Curitiba.

Quando os dois estiveram frente a frente no tribunal a situação era muito diversa. Moro estava em seu bunker, majestaticamente acomodado na cadeira de magistrado, que, pelas circunstâncias, mais lembrava um trono. Com o processo em mãos, que ele conhecia de capa a capa, se valia de toda sua experiência de longos anos para conduzir o interrogatório com segurança e competência.

A extensa estrada percorrida durante décadas transformou Moro em estrategista da retórica. Formulava questões aparentemente ingênuas, que à primeira vista davam a impressão de não possuir nenhum objetivo, mas que mais à frente se mostravam como verdadeiras armadilhas para expor as contradições do interrogado.

Quem assistiu àquelas sessões vai se lembrar de que o juiz com voz esganiçada, apresentando problemas de dicção, expressando-se com ruídos irritantes durante as pausas, não se alterava em nenhum momento. Até nos instantes em que precisava repreender o depoente ou seus advogados.  Foi assim, com esse jeito até meio simplório, que conquistou a simpatia de boa parte do povo brasileiro.

De outro lado estava Lula. Um político traquejado, acostumado a enfrentar toda sorte de desafios. Basta dizer que, com sua oratória, saiu da porta das fábricas, mobilizando as manifestações de trabalhadores, até chegar à presidência da República por duas vezes, fazendo também sua sucessora, Dilma Rousseff, uma quase desconhecida pela maior parte da população.

Ali, diante de Moro, sua situação era muito desfavorável. Como velha raposa no mundo político, mediu cada uma de suas palavras para atingir seus objetivos. Até tentou algumas bravatas, mas seu instinto o alertou que essa não seria uma boa estratégia. Puxou o freio de mão e recuou.

Conseguiu antever com clareza as armadilhas que o juiz preparava nos questionamentos. Por mais arguto que pudesse se mostrar, todavia, naquelas circunstâncias, estava tão fragilizado que a sobrevivência já seria uma vitória. Não deu. Sucumbiu. Foi preso.

Agora, na campanha eleitoral, a situação é totalmente distinta. De certa forma, estarão em igualdade de condições para debater. Lula até com certa vantagem, pois essa é sua arena.

O ex-presidente se comunica com linguagem que chega mais facilmente ao coração dos eleitores. Para explicar seu ponto de vista lança mão das metáforas, uma de suas especialidades. Por mais complexo que seja o tema, consegue simplificá-lo, comparando-o ao futebol ou aos churrascos. Ele tem a mensagem certa para o povão.

Para Lula não há situação morna. Ou se expressa exultante para falar de alegrias e conquistas, ou com indignação para abordar os problemas. Quando não parte para os extremos, aplica duas outras de suas habilidades, a ironia e o sarcasmo. É bom debatedor, embora eu o veja mais competente como negociador.

Quem, entretanto, julga que Moro, por causa de sua inexperiência política, já entrará derrotado nesse ringue está equivocado. O tribunal deu a ele um jogo de cintura que poucos possuem. Os anos a fio interrogando bandidos de toda espécie aperfeiçoaram sua sensibilidade para descobrir, até intuitivamente, onde estão as fragilidades, os pontos vulneráveis do adversário. Sem contar que está investindo no aprimoramento da sua comunicação.

Possui uma grande vantagem – conhece mais sobre Lula que Lula sobre ele. Ainda que nos debates, de maneira geral, valha mais a emoção que a razão dos argumentos, não há dúvida de que ele poderá mencionar fatos da biografia do ex-presidente que talvez tirem o equilíbrio do adversário.

Demonstrou essa característica de forte combatente nas diversas vezes em que teve de falar na Câmara dos Deputados e no Senado. Em nenhum momento ficou intimidado naqueles palcos repletos de desafetos.

Essa vai ser uma briga boa de assistir. Além de ajudar no esclarecimento de fatos que permitirão aos eleitores escolher com mais propriedade seu candidato, será também um bom teste para mostrar quem tem fibra e tenacidade para liderar o país.

Se continuar escorregando nas pesquisas, talvez os debates não mudem muito a posição de Moro, mas dependendo de sua atuação nesses confrontos, poderá fazer estragos nas pretensões do líder petista, muito mais que nos objetivos de reeleição de Bolsonaro.

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Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]
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