A reportagem do Combate também entrou em contato com Rayla, que num primeiro momento disse que daria entrevista. Logo depois, no entanto, a lutadora alegou
Redação Publicado em 23/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h20
Uma cena num evento nacional de MMA viralizou nesta semana. O card do “Lutador Internacional MMA (LMI)”, original do México e com sua primeira edição no Brasil, aconteceu no último sábado, em Brasília, e uma luta feminina no peso-casado de 60kg chamou a atenção. A paraense Rayla “Índia” Nascimento aplicou uma série de cabeçadas na atleta candango Laura Fontoura. A princípio, Rayla foi declarada vencedora por decisão unânime, mas o evento reviu as imagens e reverteu a vitória para Laura, por desclassificação da rival.
– Não tem como você conversar com ela porque os médicos fizeram um travamento na boca dela (…). Desde o acontecido, a Laura tem que dormir sentada porque não tem como deitar no travesseiro. Não dá nem para mexer a cabeça direito, o lado direito dela está completamente inchado (…). O médico disse que vai ter que colocar uma chapa e uns parafusos. Para ela voltar a treinar, ele disse que só depois de uns três meses – contou ele, ao lado de Laura – que manteve seu cartel invicto, agora com seis vitórias em seis lutas.
A reportagem do Combate também entrou em contato com Rayla, que num primeiro momento disse que daria entrevista. Logo depois, no entanto, a lutadora alegou ter conversado com sua equipe e achou melhor não “expor agora”. No entanto, ela afirmou que entrará com recurso para tentar reverter a decisão que deu a vitória à adversária.
A luta entre elas foi casada dias antes do evento, a pedido de Laura, já que as duas tinham criado pelas redes sociais uma certa rivalidade. Foi combinado ainda que não teria bolsa envolvida, e Laura, apesar de ser uma peso-palha (até 52kg) de origem, aceitaria lutar no peso-casado de até 60kg.
– A Laura começou a lutar agora e já estava com cinco vitórias consecutivas, dona de dois cinturões aqui em Brasília, onde é muito ruim de achar atleta mulher para lutar. Fizemos um vídeo da Laura perguntando se tinham algumas mulheres que se interessavam em vir lutar com ela para disputar o cinturão de 52kg (no Centro Oeste Fight), e essa Rayla colocou: “se fosse mais para frente teria o prazer de ir aí te arrebentar”. Tinha tempo que ela vinha cutucando a Laura nas redes sociais – disse Ninja. Mais adiante, Rayla estava em Brasília e as duas começaram a negociar o duelo, que ficou combinado nos termos já citados.
No sábado, no LMI, com pouco mais de dois minutos do primeiro round, Laura puxou Rayla para a guarda para tentar atacar no armlock. A rival abraçou a cintura de Laura e ficou com os braços travados. Foi aí que vieram as primeiras cabeçadas, num total de oito. Ninja ainda protestou, como mostra o vídeo no início da reportagem.
– Do nada, ela deu uma cabeçada. Depois, deu outra cabeçada. Falei: “ô juiz, está dando cabeçada”. No que levantei do meu córner para ir até a mesa dos juízes, ela já tinha dado mais umas seis, sete cabeçadas – completou Ninja.
Com um ferimento na testa de Laura, os médicos socorristas do evento entraram para avaliá-la. O árbitro central Wendel Alves foi cobrado pelo córner da lutadora, enquanto o árbitro Wilson Neto, da Federação Goiana de MMA, que estava no evento, falou com Rayla sobre as cabeçadas e determinou a retirada de um ponto. A reportagem não conseguiu contato com Wendel Alves.
– Na hora que entrei no cage, a Laura me disse: “Ninja, a testa dela bateu no meu queixo e acho que tirou do lugar”. Mas a Laura disse que queria voltar a lutar, e o juiz disse que ela podia parar, mas seria dado nocaute técnico para a menina. Laura disse que não, que ia voltar, não queria perder a luta. Dava para ver que Laura estava grogue, avoada. Laura voltou a lutar e só foi piorando, e no final deram a decisão para a menina.
Diante da lesão, Laura e Ninja foram imediatamente para o Hospital de Base. E foi diante das postagens da rival que o lutador ficou indignado e buscou a contestação do resultado.
– Quando essa menina colocou nas redes sociais: “falei que ia acabar com ela, falei que ia tirar a invencibilidade dela, fui lá e tirei”. Aí não aguentei, fiquei indignado. Que sacanagem, essa menina faz a cagada e ainda está desse jeito? Mandei mensagem para ela, disse que ela não ganhou por nocaute, ganhou por pontos, e ainda depois que deu certas cabeçadas na cara dela. Ela ficou tirando onda com a minha cara – disse Ninja. Ele então decidiu divulgar os vídeos das cabeçadas nas redes sociais, e alertou o organizador do evento para o ocorrido.
Ainda na última segunda-feira, dois dias após o evento, o LMI já tinha emitido um comunicado oficial revelando a mudança do resultado (confira a nota oficial mais abaixo). O organizador Danilo Noronha explicou que não tinha visto o ocorrido durante o evento, e que só no dia seguinte teve acesso às imagens após o pedido feito por Josimar Ninja.
– O vídeo viralizou muito, só que na correria eu não tinha visto. Pedi a imagem ao meu evento e falei com o (árbitro Wilson) Neto, que olhou e viu que tinha coisa errada. Ali na hora (da luta) não deu para ver de baixo, com jogo de luz. Quando é uma ou duas (cabeçadas), é uma coisa, pode bater cabeça com cabeça, mas ela (Rayla) estava com os dois braços travados pela Laura, e o único lugar que ela tinha solto para bater era a cabeça, e ela deu várias cabeçadas. Vendo aquela situação, me senti no direito de conversar com o árbitro responsável pelo evento para dar uma analisada e ver o resultado. E, analisando, o pessoal deu a luta como desclassificação devido àquele tanto de cabeçadas. Vou acatar o que o chefe de arbitragem está me passando.
Danilo Noronha ainda disse que Rayla Nascimento – agora com um cartel de seis vitórias e oito derrotas – e sua equipe não aceitaram a mudança do resultado para a vitória de Laura. Eles queriam um “no contest”, ou seja, uma luta sem resultado.
– Foi uma coisa muito absurda. Mas o que está pegando é que ela (Rayla) quer que a gente não dê a vitória para a Laura. Ela reconheceu o erro, mas está pegando porque ela quer “no contest” (…). A Natacha (Front), professora dela, tinha me perguntado se a Laura estava bem, e eu disse: “vocês que deviam entrar em contato com ela, pedir desculpas pelo acontecido. O vídeo não está ficando legal para vocês, e a gente não quer isso. Vocês estão caçando uma briga onde estão erradas”.
Confira a nota do evento que promoveu a luta:
“A empresa LMI (Lutador Misto Internacional) vem por meio desta mostrar o posicionamento referente ao infeliz incidente ocorrido no dia 19 de junho, em Brasília-DF, na luta entre as atletas de MMA Rayla “Índia” Nascimento e Maria Laura Gomes. Após rigorosa análise por vídeo, foi constatada sequência de faltas graves, faltas essas não permitidas em quaisquer eventos de MMA. O vídeo foi analisado pelos árbitros presentes, principalmente o árbitro Wilson Neto, da FGMMA (Federação Goiana de MMA) e, por decisão unânime, fica oficialmente decidida a vitória para a atleta Laura Gomes, por desclassificação de sua adversária. A atleta vitimada sofreu várias lesões e, após laudo comprovado, a mesma terá de realizar uma cirurgia urgente para consertar o maxilar, quebrado durante a ação nada desportiva da oponente. A equipe, juntamente com a diretoria, deixa claro que não compactua com quaisquer atitudes que não sejam menos que desportivas, e prestará o devido apoio à atleta”.
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Fontes: Ge – Globo Esporte.
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