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‘El ultimo baile’: dez anos após título, geração do Uruguai estreia na Copa América antes de despedida

Para o Uruguai - e por que não para o futebol mundial? - , a Copa América do Brasil é uma canção de despedida. As notas de uma melodia que deve ter seu fim na

URUGUAI
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Redação Publicado em 18/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h42


A Celeste estreia na competição diante da Argentina, nesta sexta-feira, no estádio Mané Garrincha

Para o Uruguai – e por que não para o futebol mundial? – , a Copa América do Brasil é uma canção de despedida. As notas de uma melodia que deve ter seu fim na Copa do Mundo do Catar, em 2022. Como na série de Jordan, Cavani admitiu estar dando os passos de sua “última dança” pela Celeste, na companhia do maestro Óscar Tabárez, de sua dupla Luis Suárez e do zagueiro Godín.

Nesta sexta-feira, às 21h (Brasília) o Uruguai enfrenta a Argentina, pela estreia da Copa América, no estádio Mané Garrincha. O soar do apito, mais do que o início de jogo, será o sinal de largada para o fim de uma das mais importantes gerações que defenderam a camisa uruguaia. Uma seleção que encantou o futebol mundial pela técnica apurada, mas sem perder a garra tradicional de seu país.

ge relembra os principais feitos dessa geração, com depoimento do atacante Loco Abreu, uma das caras dessa equipe. Entre as histórias marcantes, estão o quarto lugar na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, e o título da Copa América, em 2011, na Argentina, o auge desse grupo.

De volta ao topo

Após passar anos sem resultados relevantes em nível internacional, o maestro Óscar Tabárez iniciou em 2006 a construção da equipe que resgatou a importância da seleção uruguaia. Com uma mescla de jogadores experientes como Forlán, Lugano e Loco Abreu e novidades como Suárez, Godin e Cavani, a Celeste penou para se classificar para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Obteve a vaga somente na repescagem, ao passar pela Costa Rica.

Loco Abreu comemora gol contra a Costa Rica, em 2010 — Foto: AFP

Loco Abreu comemora gol contra a Costa Rica, em 2010 — Foto: AFP

Na Copa, o Uruguai surpreendeu ao fazer a melhor campanha de seu grupo. Foram duas vitórias, sobre México e África do Sul, e um empate com a França, que nem sequer avançou à fase seguinte. Nas oitavas, a Celeste venceu a Coréia do Sul, por 2 a 1, com gols de Suárez.

O duelo de quartas de final foi um dos mais emocionantes das últimas edições da Copa, novamente com Suárez protagonista, contra Gana. Depois de o jogo terminar empatado no tempo normal, os uruguaios tomaram sufoco na prorrogação. No último minuto, Suárez defendeu uma bola com endereço certo, mas salvou com as mãos.

Pênalti para Gana e expulsão para o atacante. Para sorte da Celeste, Asamoah Gyan bateu no travessão e a decisão foi para os pênaltis. Brilharam o goleiro Muslera, que defendeu duas cobranças e o atacante Loca Abreu, que entrou no lugar de Cavani, e converteu, com uma bela “cavadinha” a cobrança que garantiu a ida à semi. Contra o Holanda, o time Tabárez acabou derrotado, mas voltou ao país com o quarto lugar, o melhor entre os sul-americanos, e festa da torcida.

“Ninguém coloca na parede as fotos do quarto lugar”

Loco Abreu admite a importância da campanha no Mundial, mas, para ele, foi a conquista da Copa América de 2011, realizada na Argentina, o que colocou sua geração na história do futebol uruguaio.

– Na Copa do Mundo, ficar no quarto lugar foi muito bom, mas ninguém coloca na parede as fotos do quarto lugar, só coloca as fotos do título. Ganhar um título reafirmou aquele grupo. A Copa América será mais lembrada por causa do título – considerou o jogador.

Uruguai na Copa América de 2011 — Foto: Divulgação/AUF

Uruguai na Copa América de 2011 — Foto: Divulgação/AUF

A trajetória no torneio continental começou mais complicada do que na Copa do ano anterior. Só na última rodada da fase de grupos o Uruguai conseguiu assegurar uma vaga direta para o mata-mata. E logo nas quartas de final teve uma pedreira pela frente, a Argentina, time da casa, comandada por Lionel Messi.

Mais um episódio de superação. A Celeste segurou um empate por 1 a 1 mesmo com um jogador a menos desde o primeiro tempo, e garantiu, nos pênaltis, a passagem para as quartas de final. O jornalista uruguaio Carlos Bardakian, comentarista da rádio Oriental, relembra a ânimo do país depois daquela partida.

– Tivemos que enfrentar mais de 40 minutos com um homem a menos. O último pênalti convertido pelo Cáceres foi inesquecível, desencadeou uma euforia impressionante em todo o país – recordou.

Em franca evolução, o time de Tabárez não deu chances para os rivais que viriam adiante. Venceu o Peru por 2 a 0 na semifinal e, na grande decisão, ganhou o Paraguai com autoridade, por 3 a 0, com dois gols de Forlán e um de Suárez. Enfim, o Uruguai voltava a conquistar um título, após 16 anos.

Cavani comemora conquista de Copa América 2011 — Foto: Divulgação/AUF

Cavani comemora conquista de Copa América 2011 — Foto: Divulgação/AUF

Veja a escalação do Uruguai naquela final: Muslera; Maxi Pereira, Lugano, Coates, Martín Cáceres (Godín); Álvaro González, Diego Pérez (Eguren), Arévalo, Álvaro Pereira (Cavani); Forlán e Luis Suárez.

– Houve uma profunda alegria popular, confirmando a plena identificação do povo com a seleção nacional, que devolveu a esperança com a Copa do Mundo 2010 e ratificou sua hierarquia com a conquista da Copa América após 16 anos, passando a ser a mais premiada com 15 títulos – comentou Bardakian.

Mais do que o orgulho do torcedor uruguaio e um troféu, o time celeste pôs abaixo a imagem de equipe violenta, que vigorava no imaginário brasileiro para se consolidar como um seleção aguerrida, mas de muita qualidade técnica e inteligência tática. Com recurso desde a defesa até o ataque, que teve um dos melhores trios do mundo, com Cavani Forlán e Suárez. Sintonia de talento e disciplina orquestrada pelo maestro Óscar Tabárez.

A última dança

Dez anos depois do título, na última semana, Cavani tornou pública a intenção de aposentar a camisa celeste. Mas, antes, pretende disputar sua última Copa América e buscar a classificação para a Copa do Mundo do Catar, em 2022.

– Acredito que a vida de cada ser humano se baseia em objetivos e quero poder realizar aquele sonho de ir para o Catar e a partir daí poder me afastar e me dedicar um pouco mais às minhas coisas, à minha família, ao meu povo. Acho que estamos nessa última dança também – disse, em coletiva, o atacante do Manchester United.

Óscar Tabárez, técnico do Uruguai — Foto: EFE/Joédson Alves

Óscar Tabárez, técnico do Uruguai — Foto: EFE/Joédson Alves

O técnico Tabárez, Suárez e Godín também indicaram que podem encerrar o ciclo pela Celeste em 2022. A eles devem se juntar o goleiro Muslera e o defensor Cáceres. O maestro conta 74 anos de vida, e comanda a equipe desde 2006. Enquanto os jogadores têm entre 34 e 35, o que tornaria muito improvável uma participação em mais uma Copa, além do Catar.

Mas a vaga para 2022 ainda não está garantida e, para chegar lá, vão precisar melhorar o desempenho. Embora esteja na zona de classificação, o Uruguai acumula uma derrota e dois empates nos últimos jogos das Eliminatórias, rendimento que levou o time a ser questionado em seu país. Nesse cenário, a Copa América é uma oportunidade para recuperar o bom futebol e ganhar confiança.

Uma boa notícia é o retorno de Cavani para o jogo de sexta, contra a Argentina, pela estreia da Copa América. O atacante não jogou as últimas partidas e estará à disposição de Tabárez.

Para essa última dança, Cavani projeta um desfecho positivo, sem pressão por resultados, mas garante luta até o final.

– Eu sinto e vejo as etapas da vida vão passando, uma vai e outra vem, e isso sempre gera algo especial. Eu adoraria terminar de um jeito bom. Desejo me sentir bem, conseguir algo de bom nessa última dança. Fico orgulhoso de continuar bem fisicamente depois de tantos anos. Não fico triste, porque são etapas do futebol, e tem outras coisas fora do futebol também. É especial estar aqui e vou dar o meu melhor até ao fim.

As prováveis escalações de Uruguai x Argentina:

Uruguai: Muslera; Cáceres, Gimenez, Godín, Viña; Torreira, Betancur, De La Cruz, González; Suárez e Cavani.

Argentina: Emi Martínez; Montiel, Cuti Romero, Otamendi, Tagliafico (Acuña); De Paul, Leandro Paredes, Lo Celso; Messi, Lautaro Martínez e Nicolás González.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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