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E se você estiver errado?

Por Kleber Carrilho

E se você estiver errado?
E se você estiver errado?

Redação Publicado em 14/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h21


Por Kleber Carrilho

E se você estiver errado?

Este é um exercício que eu faço de tempos em tempos. Paro tudo o que estou fazendo e me questiono: e se eu estiver errado? E se as opiniões que tenho sobre as coisas, baseadas na minha forma de ver o mundo, na minha formação e no meu ambiente cultural, não trouxerem os melhores reflexos da realidade?
É um exercício terrível, no início. Desenvolver a dúvida, tentar desconstruir as certezas (que, por mais que não queiramos, sempre temos), rever coisas que parecem óbvias, tudo isso toma tempo, incomoda, deixa a gente sem conseguir produzir. Mas, no final das contas, é libertador. Cada vez que faço isso tenho certeza de que valeu a pena.
Mas, para fazer de verdade, é preciso querer. É essencial começar pelas maiores certezas, aquelas que parecem indiscutíveis. E se a minha forma de acreditar em algo (no caso de quem tem religião) não estiver contribuindo com o mundo, nem com a humanidade? Você teria coragem de duvidar daquilo em que você crê?
E se os valores políticos nos quais acredito não forem os melhores para que tenhamos um futuro mais estável, mais seguro, mais pacífico? E se os líderes em quem acredito (e voto) não forem os melhores para conduzir a minha cidade, o estado e o país? E se outros que estão aí forem mais preparados para esses papéis?
Porém, para perguntar tudo isso, tem que ter uma capacidade interna de duvidar. E, pelo menos quando estimulo esse pensamento entre as pessoas que conheço, principalmente entre alunos, noto que tem gente que não consegue ultrapassar certos pontos. Pode até duvidar de algo na superfície, mas não na profundidade.
Para mim, esse exercício define a capacidade de argumentação. Quem não consegue se aprofundar para duvidar do que acredita também não consegue argumentar para dizer por que acredita.
Isso mesmo! A capacidade de duvidar é o alicerce para desenvolver os porquês, as motivações, os propósitos e as finalidades. Cada vez que você duvida daquilo que acredita, se fizer isso com sinceridade, vai voltar reconstruindo os argumentos, que podem fazer com que você mude a forma de ver algo ou melhore as possibilidades de defender as ideias e de convencer os outros.
Portanto, neste momento em que os ânimos se exaltam e os ataques, que já começaram, tendem a se intensificar, nas ruas e nas redes, vale a pena se preparar fazendo este exercício, principalmente duvidando do seu pensamento político.
Com certeza, ao reconstruir seus pensamentos e argumentos, você vai entender quais são os pontos-chave para convencer alguém que não pensa como você. Ou, melhor ainda, vai construir uma forma nova de ver o mundo, com certeza muito melhor do que a anterior.

Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
Instagram: @KleberCarrilho
Facebook.com/KleberCarrilho
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