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Duras na queda: Bia Ferreira, a “doida” que protege os amigos e orgulha o pai e o Brasil no boxe

Campeã mundial na categoria 60kg, do Pan-Americano e com outros títulos no país e no exterior, uma das grandes referências no esporte brasileiro na atualidade

Bia Ferreira
Bia Ferreira

Redação Publicado em 08/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h25


Referência mundial, pugilista prende preconceito no corner, não dá espaço para críticas destrutivas e afirma: “Lugar de mulher é onde ela quiser”

Quando a pequena Bia ouvia barulhos vindos da garagem de casa, onde o pai treinava garotos da rua dela em Salvador, na Bahia, a menina de apenas quatro anos não poderia imaginar que, duas décadas depois, ela própria seria responsável por fazer barulho no boxe nacional e internacional.

Campeã mundial na categoria 60kg, do Pan-Americano e com outros títulos no país e no exterior, uma das grandes referências no esporte brasileiro na atualidade é Bia Ferreira.

A pugilista vive o sonho em um ciclo olímpico recheado de troféus, bons resultados e a esperança de mais conquistas em um futuro próximo. Em meio ao sucesso e às vésperas dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Bia olha para trás e relembra das lutas, dentro e fora do ringue, para conquistar respeito e espaço.

No Dia Internacional da Mulher, ela cerra os punhos e afirma que as vitórias dela falam por si e abafam qualquer forma de preconceito de gênero que já tenha vivido no esporte.

— Com os meus resultados, com a minha vontade, com o amor que tenho de fazer isso, não dou espaço para haver preconceito. Isso não acontece frequentemente comigo porque não dou espaço para isso acontecer — disse.

Os nocautes e vitórias em geral dão respaldo à baiana radicada em Juiz de Fora. No entanto, Bia também teve sorte. Desde pequena, via o pai e ex-boxeador Raimundo “Sergipe” na academia, na preparação de meninos.

Bia Ferreira tem ligação muito estreita com o pai e treinador Sergipe — Foto: Arquivo pessoal

Bia Ferreira tem ligação muito estreita com o pai e treinador Sergipe — Foto: Arquivo pessoal

Beatriz afirma que essa fase de conhecimento do esporte entre os homens foi uma espécie de preparação para o que estava por vir. Embora tenha lidado com alguma preocupação por parte dos familiares, a presença de Sergipe e a criação que recebeu dos pais facilitaram as coisas para ela. A pugilista afirma que sempre se sentiu à vontade para trilhar o caminho das lutas.

“É um tipo de blindagem que meus pais criaram para mim. Às vezes recebo críticas e preconceito como um gás a mais, como um incentivo. ‘Está duvidando que eu sou capaz porque sou menina?’. Mostro que não tem nada a ver e que menina pode fazer o que quiser. Lugar de mulher é onde ela quiser. O céu é o limite”.

Entre os amigos, admiração e orgulho. Afinal, não é todo mundo que tem o privilégio de ter uma boxeadora ao lado, principalmente com o status de Bia Ferreira. De acordo com ela, as pessoas mais próximas brincam que a atleta é a segurança da turma.

— Meus amigos admiram e se sentem um pouco protegidos. “Não, deixa com a Bia, ela que luta”. Tem gente que me chama de doida, né? “Boxeadora? Nossa, não! Apanhar? Não, tem que treinar, fazer isso ou aquilo”. Mas eu gosto de ser boxeadora e gosto de ser a segurança da galera — contou.

Beatriz Ferreira se tornou inspiração para outras mulheres ingressarem no esporte — Foto: Jonne Roriz/COB

Beatriz Ferreira se tornou inspiração para outras mulheres ingressarem no esporte — Foto: Jonne Roriz/COB

A boxeadora entende que atingiu um patamar diferente no boxe nacional e internacional e que isso serve de inspiração para outras mulheres, mais jovens e mais velhas, ingressarem nos ringues para treinar ou competir. Ela afirma que os resultados nos últimos anos têm aparecido e que o cenário é bem melhor atualmente, embora pudesse ser melhor.

“Com luta hoje em dia não tem mais isso, a cabeça está mais aberta, entendendo que mulher sabe lutar, sabe jogar bola, fazer outros esportes que tinham o rótulo de serem esportes só para homens. Aos pouquinhos a mulherada está tomando conta, está pegando o lugar de direito”.

— Se não é tudo, o esporte para mim é quase tudo. Através do boxe me tornei a Bia que sou hoje. Conheci muitos lugares, amadureci. É o boxe que me sustenta, que me deu essa disciplina. Sempre esteve presente na minha casa. Desde pequena sempre fui envolvida com isso e hoje conseguir trabalhar e ter as coisas que eu tenho através disso me deixa muito feliz. Não poderia escolher outra profissão sem ser atleta — concluiu.

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Fonte: G1 – Globo.

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