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Doria dá calote em universidades e prejudica estudantes

Jair Viana

Doria dá calote em universidades e prejudica estudantes
Doria dá calote em universidades e prejudica estudantes

Redação Publicado em 15/05/2020, às 00h00 - Atualizado às 17h02


Acionado em Sumaré, MP aponta sobrecarga e rejeita ação contra o Estado.

Jair Viana

O calote do governo de João Doria (PSDB) perante universidades paulistas desde o primeiro semestre de 2019, do programa “Escola da Família”, levou ao fechamento de dezenas de unidades de ensino superior, além de enterrar o sonho de milhares de estudantes.

Atualmente, as poucas universidades que ainda estão dentro do programa não recebem e quando cobram o governo são intimidadas com a cobrança de impostos estaduais. Na Baixada Santista, região metropolitana de Campinas e outras regiões do Estado, a indignação de estudantes e diretores de universidades é muito grande.

CORTE BRUTALO programa Escola da Família teve um corte de 46,5% nas bolsas de estudos concedidas a universitários em 2019. Nos últimos anos, o programa que chegou a 30 mil bolsas, foi desidratado. A bolsa paga pelo governo é por 50% da mensalidade, sendo a outra metade dada pelas instituições de ensino. O valor máximo paga pelo governo também não ultrapassa R$ 500,00 – último reajuste em 2013 – concedidas a estudantes de universidades particulares participantes do programa.

A gestão João Doria reduziu para apenas 5.360 bolsas neste ano. Vale ressaltar que os beneficiários atuam nas Escolas Estaduais, cumprindo carga horária aos finais de semana, ou seja, trabalham em prol da bolsa, não sendo um benefício gratuito, é mão de obra ignorada pela gestão.

Criado em 2003, inspirado no projeto Parceiros do Futuro, o programa auxiliou na formação de mais de 200 mil universitários nesses últimos 17 anos. Sem a bolsa, muitos alunos já deixaram os estudos e outros milhares temem agora interromper os cursos universitários, já que não têm como pagar as mensalidades.

O Programa “Escola da Família”, reconhecido também como PEF, tem como objetivo abrir as escolas da rede estadual de ensino aos finais de semana e promover atividades para alunos e também para a comunidade. Reunindo professores da escola, voluntários e universitários.

A universitária Carla, que pediu para ter o nome trocado pois ainda tem esperança que o governo volte atrás e lhe conceda a bolsa de estudos, foi uma das que teve o benefício cortado.

A estudante cursa pedagogia na Uninove. “Não me explicaram nada sobre o fim da minha participação no projeto. Se eu não fosse atrás, nem saberia que teria a bolsa cortada. O pior é que eu estava muito feliz, desenvolvendo atividades pedagógicas e educacionais com as crianças. O programa é muito importante para elas, faz toda a diferença”, diz.

SEM AVISO – Bruno, que também pediu para ter o nome trocado pelo mesmo motivo, cursa pedagogia na UniSantaRita e teve a bolsa cancelada, sem receber qualquer tipo de aviso.

“Sei de muitos casos na faculdade e também na escola onde eu trabalhava. Só que não existe informação, estou quase parando de estudar por não ter como pagar. Se tivessem explicado antes, talvez poderíamos ter nos organizado para achar outro trabalho antes do cancelamento”, afirma.

CRÍTICAS – Professores da rede estadual que participam do Programa Escola da Família, sob a responsabilidade do governo estadual, da gestão João Doria (PSDB), também reclamam das mudanças promovidas neste ano. Segundo os professores, a hora trabalhada no programa do governo estadual não é mais paga como bônus, mas sim como hora normal de aula, o que acaba não compensando diretamente para eles.

“Na minha escola neste ano, de oito universitários que estavam conosco ficaram apenas dois”, afirma um professor que trabalha no projeto em uma escola localizada em Guarulhos (Grande SP). “Os outros perderam a bolsa sem muita explicação. Sem o bônus, os professores foram desestimulados e não participam mais. Por falta de pessoas, agora só abrimos em um único dia do final de semana. Isso é uma perda para a toda a sociedade”, lamenta o professor.

MP ARQUIVA – O Ministério Público Estadual, em Sumaré, chegou a ser provocado por estudantes que reclamavam do fim do benefício.

A apuração do MP, no entanto, indeferiu o pedido de impetração da ação, alegando sobrecarga de serviço e que a Secretaria da Educação já teria revisto a suspensão do auxílio.

Os dirigentes das universidades procurados pelo Diário, temendo retaliações do governo, preferiram o silêncio. Até o fechamento desta edição, o governo, também procurado, não havia se manifestado.

Em resposta, o governo de João Doria, divide a responsabilidade pelo corte com o Coronavírus, como fica claro na nota:

Informamos que as ações do Programa Escola da Família estão suspensas nas escolas estaduais por conta da pandemia do coronavírus. As universidades terão os seus pagamentos garantidos nesse período, uma vez que os alunos bolsistas continuam tendo aulas à distância. Assim terão as suas bolsas garantidas pelo Projeto Bolsa Universidade. O valor da bolsa é de cinquenta por cento da mensalidade paga pelo aluno, até o teto de R$ 500,00.”

*matéria atualizada às 16:27 para acréscimo de nota.

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