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Dono de casa de reggae é preso com 35 pés de maconha em apartamento

Após denúncia anônima e duas semanas de investigação, a Polícia Civil encontrou 35 pés de maconha em duas estufas dentro de um apartamento de menos de 40 m²,

Dono de casa de reggae é preso com 35 pés de maconha em apartamento
Dono de casa de reggae é preso com 35 pés de maconha em apartamento

Redação Publicado em 27/07/2016, às 00h00 - Atualizado às 16h53


Plantas são para consumo próprio por causa de religião, diz advogado.
Ele foi indiciado por tráfico de droga e solto; veja vídeo da plantação em SP.

Após denúncia anônima e duas semanas de investigação, a Polícia Civil encontrou 35 pés de maconha em duas estufas dentro de um apartamento de menos de 40 m², na Rua General Jardim, na República, no Centro de São Paulo.

O morador do local, Marcelo Luis Micheli, de 40 anos, foi preso em flagrante, na tarde de segunda-feira (25), por suspeita de tráfico de droga. A polícia informou, nesta quarta-feira (27), que investiga se o homem usava a “CCPC General Club”, casa de reggae da qual ele é apontado como proprietário, para traficar. O local fica na mesma rua do prédio onde as plantas de maconha foram localizadas.

O advogado do suspeito, Marcelo Feller, negou o crime de tráfico e informou que seu cliente foi solto na terça-feira (26), por decisão da Justiça, para responder ao inquérito em liberdade. A polícia não confirmou essa informação. O advogado alegou que Micheli é usuário e que o cultivo da erva era para consumo próprio devido à religião que ele segue: a rastafari.

“Apesar de Marcelo ter negado que usasse a planta para traficar maconha, ele mesmo disse à investigação que pessoas usavam maconha em seu bar de reggae. “Isso é um indício de tráfico de droga”, disse Amadeu Ricardo dos Santos, delegado adjunto do 1º Distrito Policial (DP), na Sé, onde o caso foi registrado.”

Segundo a página da casa de reggae na internet, a CCPC existe desde 2007 para “receber artistas e clientes para encontros de boas energias e paz… em busca de equilíbrio através da expressão musical e artística.”

De acordo com o delegado, policiais civis tinham ido ao espaço cultural administrado por Micheli para checar a denúncia de que o homem plantava mudas de maconha em sua residência.

“Eles foram recebidos pelo dono da casa de reggae e os levou ao apartamento onde mantinha a plantação. No imóvel tinham anotações na parede com indicações de temperatura e luz que as plantas deveriam ficar”, disse o delegado.

Além dos pés de maconha que estavam em vasos dentro de estufas, a polícia informou ter apreendido balança de precisão, embalagens plásticas e sementes. Também foram encontradas luminárias e climatizadores na residência. O material será levado ao Instituto de Criminalística (IC) da Superintendência da Polícia Técnico-Científica.

“Posteriormente a maconha vai ser destruída, incinerada. Somando tudo, deu quase cinco quilos de maconha”, disse o delegado.

Casa de shows de reggae e suspeito (Foto: Reprodução/Dan Matheus/General Club e Divulgação/Polícia Civil)Polícia investiga se ocorria tráfico de droga dentro da casa de shows de reggae; ao lado, suspeito detido falou a advogado que não queria que policiais cortassem dreadlocks (Foto: Reprodução/Dan Matheus/General Club e Divulgação/Polícia Civil)

Filmagem feita pela investigação mostra como as plantas eram cultivadas no apartamento. “Elas ficavam em duas estufas, uma na sala e outra na área de serviço. Do lado de fora do imóvel já dava para sentir o cheiro forte da maconha”, disse o delegado.

A polícia investiga se a as plantas de maconha encontradas na residência seriam utilizadas para a fabricação de skunk, uma versão potencializada da erva, conhecida como supermaconha. Ela tem concentração maior de tetrahidrocannabinol (THC), substância ativa com poder narcótico presente na planta.

Segundo o delegado, essa foi a segunda passagem do dono do bar do reggae pela polícia. “A primeira foi há muitos anos por porte de entorpecente, quando foi enquadrado como usuário e liberado à época.”

Pés de maconha (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Pés de maconha foram encontrados em apartamento de suspeito detido por tráfico (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Maconha para religião
Procurado nesta quarta-feira para comentar a prisão de Micheli, o advogado Marcelo Feller rebateu a informação da polícia de que o homem seja traficante.

“O único motivo que fez com que o delegado achasse que fosse tráfico de droga foi a quantidade da planta. A própria denúncia anônima não falava de tráfico, mas de plantação de mudas de maconha. Não há indicativo de que Marcelo [Micheli] usasse essa plantação para fim de traficância”, disse Feller.

De acordo com o advogado, seu cliente é dono da casa de reggae, casado e usa maconha desde a adolescência. Na opinião de Feller, o suspeito deveria ter sido autuado e liberado para responder pela plantação da droga sem autorização.

“Marcelo [Micheli] admitiu o plantio da maconha para consumo próprio por causa da sua religião, a Rastafari”, contou Feller. “Pela religião, ele não deve usar a erva que não é consagrada, que vem do tráfico de droga, da criminalidade. Só pode usar a planta que ele mesmo cultiva.”

A defesa pretende recorrer na Justiça da prisão e autuação do dono do bar pela polícia por tráfico de droga, que tem pena prevista de 5 anos a 15 anos de reclusão em caso de condenação.

Maconha em estufa (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Pés de maconha estavam em estufas dentro de apartamento de dono de casa de reggae (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

“O que diferencia uma atuação de um usuário de droga de uma prisão por tráfico é a intenção da pessoa: se é para consumir ou traficar”, explicou o advogado de Micheli. “Se ele fosse todo dia numa biqueira e comprasse maconha, ele não seria preso mesmo que fosse a 20ª reincidência. Ele faz o inverso, planta a própria erva, sem ser do tráfico. A gente prefere quem quer fumar sozinho essa maconha ou alguém que todos os dias financia o tráfico e organizações criminosas?”

Segundo Feller, durante a prisão a maior preocupação de Micheli foi em relação aos cabelos. “Ele disse que são sua interação com Deus. Ele tinha medo que os cabelos fossem raspados, que seria como cortar os braços dele”, contou o advogado sobre os dreadlocks.

Feller informouque o dono da casa de reggae foi solto na segunda-feira após uma audiência de custódia na Justiça. “Foram colocadas medidas cautelares ao Marcelo, como proibição de sair de São Paulo e comparecer ao fórum quando for chamado”, disse.

Não há indicativo de que Marcelo usasse essa plantação para fim de traficância”.”
Marcelo Feller, advogado

Outro rastafari preso
A religião Rastafari nasceu na década de 1930 na Jamaica. Ela prega adoração do deus Jah, que teria reencarnado no século 20 como o imperador etíope Haile Selassie I.

Seus seguidores, os rastas, evitam cortar  os cabelos e aparar a barba. A maconha para eles é usada em rituais de meditação.

Em 2014, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou por unanimidade pedido de liberdade feito pela defesa de Geraldo Antonio Baptista, conhecido como Rás Geraldinho Rastafári, líder da Primeira Igreja Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil, que prega a crença rastafári e o consumo de maconha.

Baptista foi preso em agosto de 2012, em Americana, no interior de São Paulo, porque a guarda municipal encontrou 37 pés de maconha plantados na igreja. Em 2013, ele foi condenado a mais de 14 anos pelo crime de tráfico de drogas.

A defesa do líder religioso pediu que o STJ reconhecesse que o cliente fez uso religioso da maconha e o libertasse com base no artigo quinto da Constituição, que garante a liberdade religiosa.

No local funciona a "Primeira Igreja Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil" (Foto: Divulgação/ Guarda Municipal de Americana)
Em 2012, a Guarda Municipal de Amaericana apreendeu 37 pés de maconha no local reservado a “Primeira Igreja Niubingui Etíope Coptic de Sião do Brasil” (Foto: Divulgação/ Guarda Municipal de Americana)
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