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Discípulo de Diniz, Pedro Carmona se diverte com gol pelo Palmeiras no Ajax e quer virar técnico

Ex-jogador do Palmeiras, Pedro Carmona teve de mudar os planos de sua carreira e antecipou sua aposentadoria. O meia foi obrigado a parar aos 33 anos de idade

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Redação Publicado em 06/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h09


“Torcedor deve me achar ruim para caramba, mas fiz gol no Cillessen”, diz ex-meia, que passou por depressão e anunciou a aposentadoria aos 33 anos após problemas no joelho

Relembre: Com gol de Pedro Carmona, Palmeiras vence Ajax em amistoso em 2012

Relembre: Com gol de Pedro Carmona, Palmeiras vence Ajax em amistoso em 2012

Ex-jogador do Palmeiras, Pedro Carmona teve de mudar os planos de sua carreira e antecipou sua aposentadoria. O meia foi obrigado a parar aos 33 anos de idade por conta de uma lesão no joelho que o fez lidar até com um caso de depressão.

– Quando eu tive a dor no joelho no final de 2019 no Sport, era pequena. Nenhum médico, nem do Sport, nem fora do clube falavam que aquilo representava algum problema. Davam algumas semanas, porque parecia só um edema ósseo no joelho. O tempo foi passando, e a dor aumentando. E eu sem saber o porquê. Eu estava tentando me recuperar fisicamente para me apresentar em algum clube, porque tinha propostas e rejeitava, esperando meu joelho melhorar. Passaram vários meses e quis fazer uma artroscopia investigativa. E aí acharam um pedaço da cartilagem um pouco saltado, digamos. E no movimento do joelho, prensava contra o osso e causava o edema. Fiz a limpeza e fiquei felizão, achei que o problema tinha resolvido.

– Só que o tempo foi passando de novo e as coisas evoluíram, mas não a ponto de conseguir fazer um esporte de impacto, como é o futebol. Eu fiquei muito mal de cabeça, aquilo estava me corroendo. Sempre consegui dar a volta por cima e desta vez não foi assim. Já tinha passado um ano nisso, e em fevereiro comecei a ver os jogadores da minha idade onde estavam jogando e o nível que estavam jogando. E eu comecei a pensar quem iria me querer. Será que vou ser feliz no clube que me abrir a porta? Isto se eu conseguisse me recuperar. Isto pesou muito, não poderia continuar me frustrar. Eu já estava meio depressivo e a melhor decisão foi parar. Pensei pelo lado positivo, de iniciar outro projeto mais cedo – completou.

Pedro Carmona jogou pelo Palmeiras entre 2011 e 2012 — Foto: Agência Estado

Pedro Carmona jogou pelo Palmeiras entre 2011 e 2012 — Foto: Agência Estado

Por conta de outra lesão séria que teve no joelho em 2014, quando jogava pelo Náutico, Carmona evitava falar sobre o que estava passando. Não queria ficar marcado como um atleta que se machucava demais, por não concordar com a crítica. Assim, foi se afastando até de amigos e familiares.

– Eu moro sozinho em Florianópolis, e as pessoas me perguntavam onde eu estava jogando. E eu estava cansado de explicar a situação, sabe? E no meio do futebol eu estava escondendo. Pela lesão no meu joelho em 2014, que foi muito grave, eu fiquei rotulado no futebol como um cara que se machuca muito, mesmo não sendo tão verdade. Lesões acontecem, e lesões por trauma você não controla. Estava cansado de responder às pessoas e sumi. Desativei redes sociais, e sem perceber parei de falar com amigos, família, parei de sair de casa e a minha mãe me ligou um dia e eu caí no choro. Ela me perguntou o que eu estava fazendo e eu não saia, só pedia comida. Percebi o que estava acontecendo, eu achava antes que não iria acontecer comigo. Eu achei que não chegaria neste quadro. Procurei terapia, que me ajudou a aceitar a situação – lembrou.

Carmona diz que ainda vive “altos e baixos”, mas tem focado no futuro e no seu hobby, o surfe, que ele pouco praticou quando tentava se recuperar do problema no joelho. O plano, agora, é intensificar os estudos para virar um técnico no futuro.

A ideia de continuar no futebol após a aposentadoria era algo impensável para ele até trabalhar com Fernando Diniz no Audax. Os ensinamentos do ex-comandante do São Paulo fizeram com quem ele decidisse que precisaria continuar no esporte para passar suas ideias adiante.

O Sport foi a última equipe de Pedro Carmona — Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press

O Sport foi a última equipe de Pedro Carmona — Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press

– Ele foi um cara que mudou minha visão do futebol. Tanto da tática, quanto psicológica. Quantas vezes, por ser um volante construtor de jogo com ele, eu pegava a bola dentro da área e ficava com receio de errar, porque poderia sair o gol. E ele estimulava que se perdesse não teria problema, que era para tentar jogar. A primeira visão parecia muito louca, mas vi que funcionava. O torcedor não gosta muito pelo frio na barriga, mas a gente vai se acostumando e vê que quando se fura a linha que o adversário está muito em cima, tem muito espaço para atacar. É uma forma inteligente de se jogar – analisou.

– Ele mostrou como sair de situações, posicionamentos. Não tenho nem como explicar isso. Parece que tudo que eu tinha aprendido deu uma limpada e ele botou na minha cabeça outra ideia que eu não tinha, de um futebol ofensivo, para frente. Defensivamente, eu aprendi demais com o Lisca. Para arrumar o time, ele é incrível. E o time dele no Náutico era marcado como reativo. Mas o prazer que me deu de ter a bola, foi muito maior. O Diniz me deu isso. No Audax, eu trocava quase 100 passes por jogo. Tem time que joga defensivamente e não troca 200 em uma partida toda. Me dava prazer ver os outros correrem atrás de ti. De ser coletivo, algo que eu não tive antes. Tenho que mostrar para outras pessoas – acrescentou.

Pedro Carmona, inclusive, teve uma conversa no fim do mês passado por telefone com Fernando Diniz, que hoje está desempregado. Durante o papo, tirou dúvidas sobre o início da carreira como treinador e ouviu do ex-comandante que está aberto para trocar ideias.

Reveja golaço de Pedro Carmona, pelo Audax, narrado em inglês

Reveja golaço de Pedro Carmona, pelo Audax, narrado em inglês

Gol no Palmeiras rendeu piada até com Messi

Pedro Carmona fez apenas 12 jogos pelo Palmeiras entre 2011 e 2012 e deixou o clube tendo feito só um gol, contra o Ajax, em amistoso disputado no Pacaembu. Ainda que considere o feito irrelevante para a história alviverde, o ex-meia se diverte ao falar das mensagens que recebe a cada 14 de janeiro, data do triunfo por 1 a 0 sobre os holandeses.

– Eu estava louco para entrar no jogo, enfrentar o Ajax, mundialmente conhecido. Entrei muito bem, quase fiz um gol de fora da área e depois teve o gol de cabeça. Eu acho muito engraçado, foi um amistoso, não representou, na minha opinião, praticamente nada para o Palmeiras. Mas o contexto de depois ver vários jogadores na Copa do Mundo. Blind, Cillessen, Vertonghen, Alderweireld… o meio-campo era muito bom. Ele ficou marcado para depois, porque todos os jogadores ficaram conhecidos. “O Messi não consegue fazer gol no Cillessen”. E aí faziam piada comigo (risos).

– Torcedor do Palmeiras deve me achar ruim para caramba, mas fiz gol no Cillessen. Todo dia 14 de janeiro me marcam falando deste gol do Ajax – contou.

Quando se aposentou, a página “Joguei na SEP”, que homenageia atletas com passagens modestas pelo Verdão, publicou um agradecimento a ele. Até seus amigos o encaminham as brincadeiras pela passagem pelo atual campeão da Libertadores.

– Quando surgem estas piadas, meus amigos me mandam, não adianta. Tenho amigos palmeirenses, eles sempre mandam e eu vejo estas palhaçadas (risos).

Contratado em 2011 após se destacar pelo Criciúma, Pedro Carmona não deslanchou sob o comando de Luiz Felipe Scolari. Para ele, faltou experiência para se firmar no Verdão.

– Eu lembro dos jogos, minha estreia foi muito ruim, contra o Atlético-GO. Contra o Vasco fui muito bem. Eu oscilei. Com poucos minutos em campo, é uma bola ou outra que vai definir sua atuação. Eu acredito que joguei duas partidas como titular, contra o Santos, na Vila, perdemos de 1 a 0. E outra no Paulista (contra o Comercial). Mas foram dois como titular. Os outros dez eu entrei. Muito difícil mostrar alguma coisa. Eu admito que não tinha experiência suficiente para ser titular do Palmeiras. A pressão é grande, não tem tempo. Na época eu ficava chateado, mas entendo a situação – justificou.

– Foi um salto na carreira muito rápido. Em 2010 estava jogando o Gauchão pelo São José. Fui para o Figueirense, fiz bons jogos em 2010 e em 2011 fui para o Criciúma. E ainda em 2011 fui para o Palmeiras. Aquilo foi até um choque para mim, meu crescimento tão rápido. O Felipão me tratava muito bem, dava confiança, mas eu tinha uma concorrência pesada, mesmo com o Palmeiras sem passar por uma fase legal. O clima estava um pouco conturbado. Eu entendia não jogar, mas fiz o melhor que pude – disse.

Com passagens também por Náutico, Sport, Juventude, Internacional, Oeste, Audax, Grêmio Nororizontino, São Caetano, Paysandu, Vila Nova, Fortaleza e Suwon, da Coreia do Sul, Pedro Carmona lembra com destaque dos times de Recife e do desempenho no Criciúma.

– Eu era muito querido no Náutico, estava muito bem, artilheiro do campeonato. Estava voando e tive a lesão que me fez parar um ano. Eu estava muito bem, mesmo pelo período curto que joguei em 2014. Depois de um ano, fiz gols, fiz boas partidas, mas aconteceram problemas internos e saí. No Sport foi o contrário, comecei sem jogar e terminei bem. Fiquei marcado por participar de gols no fim das partidas. Eu saí muito querido dos dois clubes, mas o intervalo de tempo foi grande, entre 2014 e 2019. Eu tenho um carinho especial por Recife, até pelo Santa Cruz. Achava que iria jogar lá também, sempre fui bem tratado por todos os torcedores, independente dos torcedores. Mas o melhor momento acho que foi no Criciúma, antes de ir para o Palmeiras. Eu estava dando muita assistência, sendo muito regular. Foi por isso que fui parar no Palmeiras – finalizou.

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fonte: GE – Globo Esportes.

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