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Diretor do São Paulo sugere bolha para Paulistão e diz que pandemia tirou R$ 130 mi do clube em 2020

O diretor de futebol do São Paulo, Carlos Belmonte, defende que seja criada uma bolha para que as equipes que disputam outros torneios além do Paulista possam

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Redação Publicado em 26/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h06


Ao podcast GE São Paulo, Carlos Belmonte admite necessidade de vender jogadores

O diretor de futebol do São Paulo, Carlos Belmonte, defende que seja criada uma bolha para que as equipes que disputam outros torneios além do Paulista possam adiantar rodadas do estadual caso a suspensão de eventos esportivos seja mantida pelo governador João Doria (PSDB) na semana que vem, quando expira o primeiro prazo da fase emergencial de combate à pandemia de Covid-19.

Para Belmonte, uma opção é confinar São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos, Red Bull Bragantino e Ponte Preta em um único local para que joguem entre si, adiantando rodadas do torneio e abrindo espaço no calendário desses times, que disputam torneios como a Copa do Brasil e a Libertadores.

Há o temor de que uma nova longa paralisação cause mais prejuízos aos clubes. No ano passado, segundo Belmonte, o São Paulo deixou de arrecadar R$ 130 milhões por causa da pandemia.

– Nós vivemos em um ambiente controlado, o futebol teve cerca de 2,2% de infecção entre jogadores. Estamos com protocolo bastante rígido, a gente está treinando. Todos os times estão treinando, então me parece de pouco peso se esses times estivessem se enfrentando – disse ele ao podcast GE São Paulo, em entrevista exclusiva.

Belmonte afirmou que o clube, que fez seis contratações até agora, aumentou a folha salarial em 1,5% por enquanto (entre chegadas e saídas de atletas), mas que o plano é cortar até 15% dessa despesa ao fim da temporada. Ele admitiu que terá que vender outros jogadores para cumprir o orçamento que prevê R$ 176 milhões na negociação de direitos econômicos – Brenner foi negociado em janeiro por cerca de R$ 80 milhões.

Ao ge, o diretor também comentou sobre a dívida de cerca de R$ 10 milhões com Daniel Alves, incluindo a busca por uma solução com o atleta, e sobre o retorno de Milton Cruz ao clube.

Leia abaixo trechos da entrevista:

Qual a análise desses primeiros três meses de trabalho?

Carlos Belmonte: Esses três meses foram muito intensos e muito diferentes. Assumimos no dia 2 de janeiro, o São Paulo era líder do Brasileiro, a comissão técnica do Diniz aqui estava, tinha ainda a permanência do Raí. O que fizemos naquele momento, eu e o Muricy? Foi o de não fazer absolutamente nada. Deixar que o processo continuasse do jeito que ele vinha, com o Diniz e o Raí. Teve aquela derrota, aquele 5 a 1 no Morumbi para o Inter. Em seguida tivemos o empate contra o Coritiba e a derrota para o Atlético-GO. A gente achou que era o momento que não dava mais para continuar. Com o Crespo, começamos a tomar conta de toda a operação, estamos muito felizes até este momento. A gente tem visto muita intensidade, trabalho muito forte, que a gente acredita que vai ter resultados.

– Falando um pouco das contratações, a gente achava que nosso elenco era desequilibrado. Era um bom time, chegou à semifinal da Copa do Brasil, em quarto no Brasileiro, mas a gente achava que precisava de algumas peças. Por isso fomos atrás de jogadores, com pouco recurso. Por isso a vinda do William, do Éder e do Miranda, jogadores com um pouco mais de idade, mas que estavam naquele momento livres no mercado.

– Gastamos um pouco mais na contratação do Orejuela, já que estávamos também abrindo mão do Juanfran, e também trouxemos o Benítez, um meia um pouco mais clássico, que a gente achava não ter no elenco, e um pouco antes do Crespo já tínhamos trazido o Bruno Rodrigues.

– Ainda não saímos totalmente do mercado, ainda analisamos a possibilidade de mais um zagueiro, que também é pedido do Crespo, que gosta de jogar com três zagueiros.

O orçamento para 2021 prevê R$ 37 milhões em investimentos. Com comissão técnica e seis novos jogadores, quanto sobrou?

– A gente está totalmente dentro desse valor, gastamos pouco do ponto de vista de contratação. O único jogador que a gente pagou para trazer foi o Orejuela. E agora o empréstimo do Benítez. O restante são jogadores livres, então tem luvas, mas essa luva você dilui ao longo do contrato todo. Não tem uma repercussão muito grande no dia a dia financeiro

– A gente teve um acréscimo, nesse primeiro momento, na folha (salarial) como um todo, de R$ 1,5 (milhão). Ou seja, é um acréscimo muito pequeno na folha, mas que a gente sabe que tem que reduzir e, até o final do ano, a gente vai reduzir. A gente quer entregar a folha, no dia 1 de janeiro de 2022, entre 10% e 15% menor do que recebemos em 1 de janeiro de 2021.

Para essa conta fechar, dois nomes são fundamentais: Daniel Alves e Hernanes. Está dentro desse planejamento financeiro uma renegociação salarial com os dois, com algum dos dois? Qual seria a solução?

– É muito difícil falar de renegociação salarial com atletas que têm contrato. Na verdade, tem que dizer o que é claro, eu gosto de ser claro nessas situações: os atletas não pediram para jogar no São Paulo. Foi o São Paulo que foi atrás dos atletas. Eles têm um contrato, está assinado. O que a gente pode fazer não é uma renegociação do valor dos rendimentos do atleta, e sim uma renegociação na forma de pagamento. Ou seja, um alongamento maior talvez no pagamento. Mas isso tem que ser aceito.

– O Hernanes não vem sendo titular, mas é um ídolo do São Paulo. O Crespo gosta muito do Hernanes. Temos que trabalhar isso com muito cuidado. Vamos trabalhando, conversando para alongar os pagamentos.

– O Daniel Alves é uma situação um pouco diferente, ele é titular do time, um jogador importantíssimo no nosso dia a dia. Há um passivo, se falam de alguns valores, esses valores vão se alterando. Tivemos uma conversa com ele, que tem desejo de continuar no São Paulo, é tentar ajustar da melhor forma possível esses pagamentos. Se não for possível, aí a gente conversa num outro formato.

Qual é o modelo que vocês têm discutido para tentar manter o Daniel Alves no clube?

– Tem que ter entendimento de que não é fácil para um time como o São Paulo trazer um jogador como o Daniel Alves. É um jogador que para o São Paulo talvez estivesse um pouco fora da realidade no momento que se trouxe. Mas ele está aqui, nós somos o São Paulo, não importa a gestão que estava à frente. Importa que somos o São Paulo, e o Daniel tem contrato conosco. Num primeiro momento a gente está tentando quitar um pedaço do passivo do ano passado numa negociação, pagar uma parte do que se deve do ano passado, e alongar um pouco o que seria a dívida a ser paga ao longo deste ano.

– A gente vai receber, por exemplo, os recursos da (venda do) Brenner. Pode separar uma parte para quitar o passado, alongar um pouquinho à frente. Você falou de uma possível renovação por mais uma temporada. Isso pode estar dentro da conversa.

– Se for pegar o que ele recebeu até agora do São Paulo, é menos do que um jogador mediano. Isso precisa ficar claro, senão daqui a pouco sai aqui e ali que o Daniel é mercenário. Muito pelo contrário. O que ele recebeu do contrato até agora é menos do que recebem jogadores que não tem nem perto do destaque dele. A gente tem que buscar o entendimento. Não será fácil, mas acho que é possível que todo mundo está buscando esse entendimento.

De quanto é essa dívida?

– Essa dívida, eu não tenho número certo por que ela é muito variável, tem alguns vencimentos intermediários, mas é isso, em torno de R$ 8 milhões a R$ 10 milhões, R$ 11 milhões, variando um pouco. A gente tem feito pagamentos. A gente pagou imagem do ano passado. O salário CLT está em dia. O passivo de 2020 é em torno de R$ 10 milhões, um pouco mais, um pouco menos.

Ele está recebendo só o valor da CLT?

– Não é só o valor da CLT, ele teve alguns pagamentos de imagem no período. Mas ele estava recebendo valores semestrais que não eram pagos, depois foram pagos parcialmente. Quando junta tudo o que recebeu, de CLT e imagem, está longe do salário de um jogador do nível do Daniel Alves. Em nenhum momento criou qualquer situação em razão disso. Cabe ao São Paulo, que é quem deve, buscar as soluções para resolver.

O São Paulo vendeu o Brenner por um valor que representa quase metade do que estava previsto orçamento. É indicativo de que o São Paulo ainda tem que fazer muitas vendas na temporada?

– A gente gostaria de vender o Brenner? Óbvio que não, era um jogador que estava nos entregando em campo. Mas a necessidade, ela vem, e você tem que fazer, senão você não consegue manter o elenco como um todo. Você deu números muito próximos, temos quase metade do valor previsto em orçamento com o Brenner. Deve ter mais um acréscimo até o mês de julho com o Helinho. O Red Bull (Bragantino) também já disse que deve adquirir o Helinho, deve dar na casa de R$ 22 milhões a R$ 23 milhões. Mas ainda vai faltar.

– A gente acha que terá sim que, na abertura da janela no meio do ano, vender mais um jogador para conseguir cumprir a questão orçamentária. O que a gente tem dito, que a gente quer ao longo do processo, é que os jogadores consigam nos entregar desportivamente antes de sair. A gente tem tido essa dificuldade.

Pode detalhar a busca por um zagueiro que o Crespo pediu? Fala-se em Sabino, Alan Franco e Adonis Frías.

– O Sabino a gente acha muito bom jogador. Isso sempre passa pelo Muricy Ramalho e pelo scout, e recebi avaliação positiva. Mas não fizemos nenhum contato, o desejo do Crespo é por outro perfil. A gente não fez sequer contato com o Santos ou empresário para negociar o Sabino.

– Os zagueiros argentinos também. O Alan Franco (do Independiente) foi embora, para o Atlanta, o time mais poderoso do futebol americano. A gente sabia que o valor era muito alto, fizemos um contato, e quando veio o valor sabíamos não tínhamos condições.

– O Adonis, como a gente não tem recursos, a gente precisava buscar um empréstimo, e aí sim com previsão de compra na segunda temporada. Sabemos que vamos ter uma temporada de 2022 melhor financeiramente do que essa.

– Estamos com calma, não há nenhum nome em discussão neste momento. A gente mandou para o scout, de novo, uma série de nomes, eles nos devolvem, o Muricy avalia, com calma. Não é nada de muita urgência, podemos andar um pouco, conversar, para ver se a gente chega num nome.

Como essa paralisação do Paulista afeta o São Paulo?

– Ano passado, a gente teve, por conta da pandemia, uma perda de R$ 130 milhões de faturamento. Metade disso é bilheteria. Nosso orçamento, bastante conversador, não tem bilheteria esse ano. Nós vivemos em um ambiente controlado, o futebol teve aí cerca de 2,2% de infecção entre jogadores. Estamos com protocolo bastante rígido, a gente está treinando. Todos os times estão treinando, então o que me parece de pouco peso se esses times estivessem se enfrentando.

– Não há brasileiro que não esteja indignado e triste com a situação, muito por parte dos nossos governantes.

– Há que se ter um entendimento agora, se estender por mais 15 dias, de buscar formatos. Temos seis times que estão disputando vários campeonatos. Os quatro grandes, São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Santos, mais o Red Bull e a Ponte. Buscar de repente uma bolha com esses seis times para que eles joguem entre eles e consigam antecipar algumas rodadas, mesmo que o restante ainda não volte. O restante, como tem uma agenda mais diluída, pode ir jogando de forma mais espaçada ao longo do tempo quando voltar.

– Mas levar esses times para uma bolha num único local, jogando em dois estádios. Essa bolha poderia ser em São Paulo. Fecha os seis times num hotel durante o período e faz os jogos aqui nos estádios da capital. Jogar não quer dizer que você é negacionista, não há nenhuma ligação. Aliás, o Julio Casares, o presidente, foi um dos primeiros a oferecer o Morumbi para vacinação.

Diretor do São Paulo fala sobre prejuízo na pandemia e sugere bolha para Paulistão

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Qual sua opinião sobre a limitação da troca de treinadores que será imposta no Brasileiro deste ano?

– Acho que é uma boa novidade para a gente fazer nesta temporada um primeiro teste. Ao final da temporada a gente avalia. O dirigente acaba se escondendo na demissão do treinador. Não pode ser assim. Tem que ter convicção. Por isso a gente trabalhou muito na escolha do treinador. A gente tem certeza de que vai acertar? No futebol não tem certeza. Você faz o máximo para acertar, mas eventualmente dá errado. Estamos tranquilos nesse momento pois temos a convicção de fizemos a escolha certa. Espero terminar a temporada sem ter que usar uma única vez essa troca.

Você chegou a dizer que o Milton Cruz seria incorporado à comissão técnica do Crespo, mas o São Paulo informou que ele faria a relação entre Cotia e a Barra Funda. Qual será a função do Milton?

– Apesar de ser jornalista, a gente também às vezes não se expressa de forma adequada, e nesse caso foi uma falha de expressão minha. O que quis dizer é que ele estava se integrando à comissão técnica como um todo, mas eu não coloquei claramente que ele estaria em Cotia para fazer essa transição.

– A gente tomou uma decisão, que hoje é compactuada pelo Crespo, de que a cada semana ao menos dois jogadores da base virão treinar com o profissional. Neste momento o número é até maior, estamos com cinco meninos da base: o Young, goleiro, Gabriel, lateral, Beraldo, zagueiro, Vitinho, atacante, e o Talles, meio-campo.

– O Milton tem o olho muito bom para jogadores novos, contratações. Achávamos que precisávamos de alguém que tivesse o conhecimento do que é o São Paulo para poder olhar lá, conversar com os treinadores, e trazer os jogadores mais prontos para vir a cada semana fazer o treinamento.

Como tem sido o trabalho de dia a dia com o Crespo?

– O que percebo de diferente, o treino do Crespo parece sempre muito mais intenso. Tem a questão da pegada o tempo inteiro, que os treinos sejam muito disputados, que a marcação seja muito forte. Ao perder a bola, busquem rapidamente recuperá-la. Outra coisa que me chama a atenção é que eles fazem o treinamento em circuito. Ele utiliza os três campos de treinamento, faz três tipos de treinamento diferentes sempre terminando no campo 1, em campo aberto, para que você tanto movimentos defensivos como ofensivos.

Diretor do São Paulo, conta como é o trabalho de Hernán Crespo no dia a dia

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Como está a negociação de renovação de contrato de Rodrigo Nestor?

– Você tem contrato de três anos com jogador, você tem que ter a noção exata que esse contrato na verdade é de dois anos e meio, porque ele pode assinar um pré-contrato seis meses antes. Se é dois anos e meio, essa avaliação tem que ser feita a partir de um ano, um ano e meio do contrato, e aí sim você parte para a negociação. Do Rodrigo Nestor, e aí você colocou bem, houve tentativas sim da última gestão, especialmente nos últimos meses de 2020, e acho que já era muito próximo, acho que já devia ter sido feito antes, mas enfim…

– A coisa melhorou agora. Não a ponto de aproximar o acordo, mas o que estava acontecendo antes que me incomodava é que o São Paulo fazia uma proposta e não havia resposta por parte dos representantes do atleta. Agora isso mudou, fizemos proposta na quarta passada, demos como prazo para ter resposta, qualquer que fosse, a sexta-feira.

– Na sexta chegou uma contraproposta falando em 15 dias para gente apresentar a nossa também. Acredito que na segunda-feira, por aí, nós já vamos mandar a nossa contraproposta.

– Loucura nós não podemos fazer, o Rodrigo é promissor, mas basicamente não jogou no time titular. A gente acha que ele tem potencial, por isso queremos manter, mas vamos conversar. Eu não posso fazer uma reforma de contrato de um jogador que se distancie dos jogadores que estão no mesmo patamar e mesmo nível, eu tenho que manter a uniformidade.

Dentre as renovações, essa é a prioridade?

– Dos meninos novos, claro que é o Rodrigo. Mas coloquei aqui, temos que resolver a situação do Daniel, é uma prioridade. Resolver a situação do Hernanes é outra. São todas muito importantes para nós.

Sobre Germán Cano, atacante do Vasco, existiu algum interesse?

– Nada, nenhum contato, nenhuma conversa, zero.

Quais as metas do São Paulo?

– O São Paulo não pode se furtar da busca pelos títulos, esse é o tamanho do São Paulo, temos que brigar sempre. A gente sempre acha que quanto mais você brigar, perto, a conquista vem. Você tem que estar disputando a conquista sempre. As metas são buscar títulos. É fácil, óbvio que não, há times com mais investimento, o Flamengo, o Palmeiras, o Atlético-MG. Mas acho que times como, hoje no futebol brasileiro, São Paulo, Corinthians, Santos, Flamengo, Fluminense, que se recuperou e tem base forte, Grêmio, Inter, Atlético-MG, todos esses podem pleitear a conquista de títulos, e mais alguns, Athletico-PR, faz campeonatos fortes, a disputa está aí e vamos brigar pelos títulos.

Há dívidas com elenco além da que há com Daniel Alves?

– No dia 5 (de abril) a gente começa a pagar o acordo que foi feito da pandemia, a gente tem toda a folha, mais uma parcela dos acordos que foram feitos. Para não dizer que não, temos um valor pequeno com Hernanes, mas muito pequeno. O forte que a gente tem é com o Daniel Alves. A gente pode ter alguma coisa de imagem, mas até o meio do ano tá zerado, sem problemas.

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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