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Diretor diz que Corinthians não está fechado para reforços e explica perfil: “A tal cereja do bolo”

A filosofia do Corinthians para 2021 é de pés no chão e cortes de gastos, mas isso não significa que o clube esteja fechado para reforços. Em entrevista

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Redação Publicado em 25/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h51


Em entrevista exclusiva, Roberto de Andrade detalha planejamento e fala sobre chegadas e saídas de jogadores; apesar de corte de gastos, Timão fará contratações e prioriza o ataque

A filosofia do Corinthians para 2021 é de pés no chão e cortes de gastos, mas isso não significa que o clube esteja fechado para reforços. Em entrevista exclusiva ao ge, o diretor de futebol do Timão, Roberto de Andrade, afirmou que o clube está de olho no mercado de jogadores e prioriza a contratação de atacantes.

Os principais trechos da entrevista com Roberto de Andrade podem ser vistos no vídeo acima, e a íntegra da conversa está disponível abaixo em texto e formato podcast.

Segundo o dirigente, o Corinthians prioriza qualidade e não quantidade:

– O que não queremos é trazer um jogador que não vai resolver. Nós temos que entender que no Corinthians não dá para pôr, como a gente costuma dizer, “mais um”. Mais um não precisa, nós já temos muitos aqui – disse Roberto de Andrade, antes de emendar:

– O que a gente precisa é a tal cereja do bolo!

Roberto de Andrade, diretor de futebol do Corinthians, em treino no CT — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Roberto de Andrade, diretor de futebol do Corinthians, em treino no CT — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Roberto de Andrade, que já havia sido diretor de futebol e presidente do Timão na década passada, voltou ao clube no começo deste ano.

Nesta entrevista, ele também falou sobre o planejamento para a temporada que está prestes a começar, a possível saída de alguns atletas, as expectativas em relação a Luan e as negociações para renovar os contratos de Cazares, Jemerson e Otero. Confira:

Qual o balanço destes dois meses de trabalho no Corinthians?
– Na realidade não faz nem dois meses, assumimos em 4 de janeiro, em 4 de março completará 60 dias. É uma fase meio diferente, porque normalmente em janeiro é pré-temporada e neste ano não foi o que aconteceu. Chegamos com o Campeonato Brasileiro em andamento, nosso planejamento é trocar o pneu com o carro andando, e a gente vai indo, trocando ideia, tentando fazer sempre do Corinthians melhor.

A demora para definir se o clube iria disputar ou não a Copa Libertadores atrapalhou o planejamento?
– Não, de forma alguma. A gente tem que montar o time independente de em qual competição está. Temos agora Paulista, depois vem Copa do Brasil, Sul-Americana e, depois, o Brasileiro, no segundo semestre. O planejamento é pensando na temporada toda, não tem que ter diferença se você está ou não na Libertadores.

Temos ouvido um discurso de austeridade financeira. Neste sentido, o torcedor deve ficar desconfiado se surgirem especulações de possíveis reforços? Ou, mesmo sem dinheiro, o clube pode contratar?
– É difícil falar “nós não vamos contratar ninguém”. Para ter uma ideia do que a gente quer fazer, pela quantidade de jogadores que temos, pela meninada que está treinando no profissional, isso foi uma determinação nossa junto com o Mancini, para a gente observar melhor todos esses garotos. Entre esses garotos, tem bastante qualidade. De repente, a gente pode solucionar algum problema do elenco com essa meninada, eles são jogadores do Corinthians, tudo pode ser. Mas o Corinthians não está fechado para contratações. O que não queremos é trazer um jogador que não vai resolver. Nós temos que entender que no Corinthians não dá para pôr, como a gente costuma dizer, “mais um”. Mais um não precisa, nós já temos muitos aqui. Precisamos de alguém que tenha um peso, uma responsabilidade grande, entre no time e, como a gente fala, resolva. É mais ou menos por aí. O Corinthians não está fechado, estamos observando tudo. Logicamente, dentro daquilo que caiba no nosso bolso. Por determinação do presidente, não vamos fazer nenhuma loucura, se endividar mais para ter um elenco cheio. Já está cheio, não tem necessidade disso. O que a gente precisa é a tal cereja do bolo.

O Corinthians já está no mercado de olho nesta “cereja” ou vai esperar todos os jogadores voltarem para serem analisados pelo Mancini?
– A gente sabe, isso já está detectado. Para vocês terem ideia, a gente olha quatro ou cinco jogadores, todo dia olha jogador para ver se é interessante dentro do grupo. Não é simplesmente trazer o jogador, você precisa trazer o jogador que tenha a característica que o time joga, alguém que vá somar no elenco. Isso não é tão fácil achar. Quando você acha esse jogador, a parte comercial fica impeditiva, porque são valores… Aquilo que tem qualidade custa mais caro. É assim que o mercado funciona. Mas, dentro do nosso elenco, com a meninada, dá para formar um bom time, não tenha dúvida disso. “Ah, vocês vão fazer um time para ser campeão?” Não sei, nós vamos disputar o título. Mas, lógico, se puder trazer uma qualidade, é sempre bom, né?

Quais posições a diretoria e a comissão técnica avaliam como mais carentes de reforços?
– Na realidade, é atacante, é atacante que a gente acha que tem espaço para encaixar. É a necessidade de todos os clubes, fazer gol. Não tem jeito. Eu entendo que nossa zaga é bem sólida. Apesar de todo mundo achar o contrário, eu acho que nossa zaga é uma das melhores do Brasil. É atacante, a base é atacante.

Recentemente, nossa reportagem ouviu que o Corinthians tem interesse no atacante Gilberto, do Bahia. Mas ele já tem 31 anos e, pelas informações que temos, não possui um salário baixo. Ele é um jogador que está na mira? E além disso: qual o perfil de reforço buscado: precisa ser jovem e barato?
– A gente tem foco no bom jogador, ele pode ter 20 ou 30, tem que ser bom jogador, dentro das características do nosso grupo. O Gilberto, para você ter uma ideia, ele nunca foi cogitado, em nenhuma conversa foi cogitado o nome dele. Não sei de onde as pessoas tiram essas coisas, às vezes é o próprio empresário que fica provocando o assunto para dar mídia, eu não sei o que é, mas nunca foi falado.

Essas especulações irritam?
– Muito, muito, muito. Enche o saco isso o dia inteiro. Vocês são vocês, mas multiplica isso por todos os meios de comunicação, jornal, rádio… Se o cara é da Bahia, vem toda a imprensa da Bahia perguntando e daqui de São Paulo também. Se o cara é do Rio, vem a imprensa carioca. Se é uma coisa que tem sentido, nós procuramos o jogador, tudo bem. Mas são nomes que não tem sentido.

– Outro dia recebi diversas mensagens perguntando do Quiñones (do Tigres). Eu vi o Quiñones uma vez, que foi no jogo contra o Palmeiras. Bom jogador? Bom jogador, mas não sei de onde tiram isso, e aí fica o mundo perguntando se estamos conversando com sei lá quem.

As renovações de Cazares e Otero podem ser as primeiras “contratações” de 2021?
– Eles já estão inseridos no grupo, nem conto isso como renovação. Não dá para falar, primeiro porque o contrato vence em julho. Iniciamos as conversas, mas não considero isso uma contratação, posso usar hoje, amanhã. O que a gente quer é trazer alguma coisa que se junte a esses atletas para que o time fique mais forte.

A proposta para esses dois jogadores é de três anos de contrato?
– Ainda não conversamos dessa parte, estamos vendo valores e tal, mas não chegamos no prazo. Pode até ser, pode ser um ano a menos, depende de como a gente vai conduzir, o que eles querem também e achar um bom termo.

E a situação do Jemerson? Pelo fato de o Corinthians ter pago R$ 4,5 milhões ao Monaco, da França, é certo que ele permanecerá depois do meio do ano, quando acaba o contrato dele?
– Possibilidade existe tanto de ficar como de não ficar, depende da base financeira do negócio, a parte comercial toda para a gente chegar numa conclusão. Ele é um excelente jogador? Sim, mas tem que analisar o pacote todo. Tudo isso está sendo visto para a gente conversar um pouco mais lá na frente.

Roberto de Andrade, diretor de futebol do Corinthians, em entrevista ao ge — Foto: Reprodução

Roberto de Andrade, diretor de futebol do Corinthians, em entrevista ao ge — Foto: Reprodução

Em uma entrevista recente, ao jornalista Alexandre Praetzel, você falou sobre a intenção de realizar trocas de jogadores. O São Paulo, clube que no passado já trocou atletas com o Corinthians, vem sendo bastante questionado e teria algumas opções disponíveis. Vocês já procuraram o rival atrás de negociações?
– Não necessariamente com o São Paulo. Quando eu falo de troca, é pela dificuldade financeira que não só a gente atravessa, mas todo mundo. Por conta da pandemia, isso agravou. É uma forma de dar uma oxigenada no elenco das duas equipes que forem fazer a troca. A gente cansou de ver isso no futebol, um jogador que não vai bem com uma camisa, troca e acaba despontando. Enfim, acho que é uma opção. Não procuramos nenhum clube, não fomos procurados por ninguém, é difícil falar em troca quando um clube está na reta final do campeonato, não é um assunto bem-vindo nesse momento, mas a partir da próxima semana é um tema que deve vir à mesa. Eu acho interessante. Não estou dizendo que é com o São Paulo ou o Palmeiras, você tem o Brasil inteiro para negociar atletas envolvendo outro atleta gastando o mínimo de dinheiro possível.

Mas o telefone de vocês deve estar tocando com dirigentes de outros clubes interessados em jogadores do Corinthians…
– Isso é normal, todo fim de temporada acontece, clubes de fora de São Paulo sempre tem, ou para reforçar times para o Campeonato Paulista no primeiro semestre. Já até fizemos alguns empréstimos para a disputa do Paulista. Mas acho que isso vai aquecer um pouco mais a partir do término do Campeonato Brasileiro.

Alguns jogadores estão sem espaço no elenco, como Davó, Everaldo… Já há propostas por eles?
– Não, por enquanto, não. Tem algumas conversas, mas nada certo ainda. É aquilo que eu falo: estamos empurrando isso para semana que vem para a gente fazer o melhor negócio. Às vezes, por um atleta vem três clubes na procura. Um não consegue pagar nada, outro propõe pagar a metade, outro oferece pagar dois terços. Você fica tentando achar um clube legal para o jogador mostrar seu futebol e que junte a parte financeira, para que seja agradável para todo mundo. A gente tenta levar até os 45 minutos do segundo tempo para fazer um bom negócio.

Nestas negociações por empréstimo, por que o Corinthians não tenta ficar com porcentagem dos direitos de uma promessa do clube como contrapartida?
– A gente até propõe, mas nem todo mundo aceita, é difícil. Esse é o problema, as pessoas têm que aceitar do lado de lá. Nem sempre isso é bem-vindo dentro do clube. A gente tenta, mas nem sempre o que eu quero o outro quer.

Hoje o Corinthians tem um elenco bastante numeroso, que deve ficar ainda maior com a volta de empréstimo de alguns jogadores. Com quantos atletas o clube pretende trabalhar?
– Você sabe muito bem que o Campeonato Paulista tem a determinação de uma quantidade de atletas. São 26 jogadores que a gente pode inscrever na lista A, e a Lista B, com meninos da base, não tem limite, são quantos estiverem aptos a isso, que são os nascidos até 2000 e com mais de um ano no clube. Essa lista será de acordo com tudo o que a gente tem disponível. Muitos ficarão fora. São só 26 e hoje nosso elenco é maior do que isso. E muitos garotos da base não contemplam a lista B, por serem de 1998 ou 1999. O Mancini está finalizando isso para, na sexta-feira, entregarmos à Federação.

Fessin, Janderson, João Victor, Marquinhos, Matheus Jesus… dos atletas emprestados em fim de contrato, quais serão aproveitados?
– Não tem ninguém definido no grupo ainda porque a lista (do Paulistão) não está pronta. Todos esses jogadores retornam ao clube, é assim que funciona, e depois a gente vê, junto com a comissão, aqueles que serão aproveitados e aí damos um destino a eles.

Ouvimos que o Atlético-GO deseja manter o Janderson. Como o Corinthians avalia um novo empréstimo?
– Quem vai determinar isso é o Mancini. Se o Mancini for contar com o jogador, ele vai ser reintegrado ao elenco. Caso não, a gente vai estudar se será reemprestado ao Atlético-GO ou outra situação que surja para o atleta. Nos próximos dias vamos ter uma definição. E não necessariamente precisa ser de quinta-feira até domingo, quando é o primeiro jogo, podemos decidir isso ao longo da próxima semana e fazer com calma o que é melhor para o clube. A gente está fazendo umas coisas com muito pé no chão, bem pensado, bem analisado, porque depois a movimentação de atletas, tanto para ficar como para sair, fica mais complicada. A gente quer resolver no início do Campeonato Paulista para deixar tudo pronto.

Quem ficar fora da lista do Paulistão será negociado?
– Não necessariamente. A gente tem, por determinação, que fazer a lista de inscritos para o jogo de domingo. Você pode fazer a lista para o jogo de domingo e, na próxima semana, incluir outros jogadores. Mesmo que alguém tenha ficado fora da lista de sexta-feira, não significa que vai ficar fora do campeonato todo. É isso o que a gente vai definir nos próximos dias.

O atacante André Luis, que voltou ao clube após uma passagem pela Coréia do Sul, será aproveitado?
– Não tem definição nenhuma, o Mancini que está vendo. Essa parte de quem serão os 26 atletas (inscritos no Paulista) não tem a participação nossa, não sou eu que vou lá e falo que tem que por o André Luis ou tirar o André Luis. Isso é exclusividade do treinador e da comissão técnica, ele é quem determina quem quer contar para o ano. Depois disso, cabe à diretoria se vai emprestar ou se vai tentar achar um negócio em definitivo. Primeiro, a comissão técnica tem que dar o aval para tudo isso.

O Jonathan Cafú só disputou três partidas pelo Corinthians e não tem ficado nem sequer no banco de reservas. Ele pode ser negociado mesmo tendo sido contratado há pouco tempo?
– Tudo pode. Quem vai decidir quem fica ou quem sai ou fica como segunda opção é o treinador. Pode não estar sendo usado, mas compondo a lista de relacionados. Fica no banco. Ou não vai contar com o atleta. Quem precisa definir é o treinador, parte técnica, para arranjarmos solução após a decisão.

Você voltou para a diretoria do clube depois da contratação do Cafú, mas sabe dizer se o Mancini deu aval para a contratação dele?
– Não sei te falar. Não sei nem se Cafú chegou antes ou depois. Se ele chegou depois, não tinha nem como…

Já foi possível ter uma conversa “olho no olho” com o Luan? Na sua avaliação, por que ele ainda não rendeu o que era esperado?
– Olha, estou tentando entender. Penso assim: alguns exemplos num passado recente ajudam a gente a concluir nosso pensamento. Já trouxemos outros jogadores de nome, que chegaram no Corinthians e demoraram muito para desenvolver o top do futebol. Ele pode estar inserido nisso, também. É grande jogador, domínio técnico fora de série. Ninguém contou, nós vimos isso. Jogou bem no Grêmio, na conquista da Libertadores. Ninguém desaprende. Eu prefiro achar a resposta que ainda está se adaptando ao clube. Eu acredito que ele possa voltar a nos ajudar muito. O Luan é trabalhador, se dedica nos treinos, em campo, não dá trabalho, é super profissional. Dá para ter mais um pouco de paciência com ele para ver esse futebol.

– Luan é muito introspectivo. Ele não é uma pessoa de se abrir. Eu não seria a pessoa indicada a falar com ele, pelo fato de não ter essa proximidade. Não sei. Talvez uma pessoa mais próxima (seja melhor). Ele passou por problemas pessoais na vida dele, pode estar atrapalhando. Deve ter algum motivo. Talvez a gente consiga bater um papo, esclarecer algo. Diretor falar com jogador tem hierarquia. Eu, por ser mais velho… Talvez o Alessandro tenha aproximação e liberdade maior para poder conversar. Acho legal. Temos que respeitar as pessoas. Todos somos seres humanos e podemos ter problemas em casa. Espero que o que a gente puder fazer para trazer de volta o futebol brilhante, vamos trazer.

Roberto de Andrade e Alessandro conversam com Fagner em treino do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Roberto de Andrade e Alessandro conversam com Fagner em treino do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag.Corinthians

Com uma temporada emendando na outra, o Corinthians pretende poupar alguns atletas no início do Paulistão?
– A gente tem o acompanhamento na parte científica. Vamos levando os jogadores até estarem extenuados, quando vem alguma determinação do departamento médico e da fisiologia e você acaba tirando o jogador para não ter nenhum trauma na parte muscular. Afora isso, tudo normal, vai jogando. Se conseguir jogar todas as partidas, vai jogar, não tem como. O que a gente pensa é sempre pôr em campo aquilo que entendemos ser o melhor. Isso é com o Mancini. Aqueles que estiverem disponíveis vão para campo.

Você já mencionou o Mancini várias vezes. Como está sendo o trabalho com ele?
– 
Temos conversas diárias, ele é um treinador muito aberto, fácil de se lidar, uma excelente pessoa. Eu me surpreendi, pois antes só escutava falar. Ao lado de um profissional como ele, você tem a certeza disso. O grupo de jogadores gosta muito dele, explicações para o elenco são simples, ele é direto no que ele quer. A gente se fala desde o café da manhã. Na hora do almoço, a conversa continua. Durante o treino, no campo, ele está trabalhando. Às vezes, a conversa se estende até mais do que no almoço.

– O Mancini é uma pessoa de facilidade grande em conduzir elenco, temos ambiente tranquilo. Sadio. Não temos problema de relacionamento com ninguém. Sabemos que troca de peças gera desconforto, é normal. Só jogam 11. Ele leva isso tranquilamente, conversa, explica. As coisas passam sem stress. Alguns ficarão fora da lista mesmo.

Nos últimos anos, o futebol brasileiro recebeu diversos técnicos estrangeiros. Aliás, os outros três grandes de São Paulo têm gringos no comando atualmente. Como avalia esse cenário e por que o Corinthians não optou por esse caminho?
– Não houve necessidade. A gente acha que o Mancini poderia ser de qualquer outra nacionalidade e não faria diferença. Acho que é o momento. Alguns treinadores não sei porque vieram. O que veio para o Vasco, o Sá Pinto, não sei para que veio. O senhor que veio para o Santos, Jesualdo, foi a mesma coisa. Não houve evolução. Acho que o diferente é do Palmeiras, rapaz novo, com ascensão bem legal. Particularmente, não acho que Sampaoli seja tudo isso. Ele vem para o Brasil, faz barulho todo, só arranja confusão na beira do gramado e não ganha nada, não ganhou nada. Não tem necessidade de ser estrangeiro. Qualquer outro treinador que estivesse à frente do Atlético-MG faria o mesmo trabalho. Não vejo qualidade estando na nacionalidade, a qualidade está na pessoa. Temos grandes nomes no Brasil, isso cansou de ser mostrado. Tem treinadores bons, médios e mais fracos, como são os atletas também. Agora ficou mais fácil, não sei se saiu um pouco do comodismo, mudar um pouco. Acho tudo bacana.

Por que o clube optou pela contratação dos ex-jogadores Alex e Danilo para ocuparem cargos na base (o primeiro virou coordenador técnico, e o segundo, técnico do sub-23)?
– Na realidade, eu penso que é sempre importante ter boas pessoas perto de você. A qualificação de cada um vai para as áreas certas. Danilo parou de ser atleta, poderia ficar jogando futevôlei, que ele gosta, cuidando da fazenda, mas foi estudar, se preparar para ser treinador. Pela pessoa dele, com a vontade que ele tem, o desejo de estudar, se licenciar para ser treinador… Juntamos o útil ao agradável. Alex é a mesma coisa, grande pessoa, nível excelente, também tem esse cheiro de campo. É uma pessoa que veio para nos ajudar, fez cursos de treinador. Tudo isso vai somando. Na base e no sub-23 a gente precisava de alguém mais firme, com conhecimento melhor, para dar atenção devida ao sub-23. Com a figura do Alex, tenho certeza que tudo isso vai melhorar. Você está vendo os meninos que já estão treinando com profissional, sete num dia, seis no outro… Tudo isso já é reflexo do Alex, vamos identificando talentos no sub-20, no sub-23 e trazendo para cá. É preciso ter uma harmonia grande com o departamento amador, é o futuro do Corinthians, não só na parte financeira, mas também na parte técnica.

Já está definido quem será o técnico do sub-20?
– Não sei ainda. A gente estava pensando nisso porque até então a base não tinha diretor. Hoje já tem, que é o (Osvaldo) Neto. Com isso, a gente se afasta e deixa o diretor tocar esse tema com toda a equipe dele. Não falei com eles sobre isso, estão vendo o que é melhor para o clube. Diretor vai se empenhar, não tenho dúvida.

O Corinthians ainda tem pendências financeiras com o elenco profissional?
– Temos o salário que venceu dia 6 ou 7 de fevereiro que a gente está tentando quitar até o fim dessa semana agora. Estou sendo honesto contigo, é algo que a gente fala no dia a dia. Com todo jogador que a gente conversa, eu explico. Por isso, todos entendem. É uma situação hiper desagradável. Mas estamos correndo atrás e vamos solucionar o mais rápido possível.

O departamento financeiro do clube, liderado pelo diretor Wesley Melo, deseja cortar 20% dos gastos em relação ao último ano. Você acha possível aplicar isso no departamento de futebol já em 2021?
– Eu acho que sim. Quando o Wesley fala em cortar 20% não é só do futebol, é do clube num todo. Às vezes, você tem outras áreas do clube mais carregadas de gente… Pode ser que você consiga tirar 15% de despesas do clube e sobre 5% para o futebol. Ou meio a meio. Não é só no futebol. A gente sabe que o futebol é prioridade, por ser o carro-chefe do clube. Logicamente, não precisamos ter despesas desnecessárias, mas tem que ter o essencial. Tem que avaliar tudo isso, ele está fazendo isso e tem competência para não trazer nenhum prejuízo ao futebol.

Roberto de Andrade, diretor de futebol do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

Roberto de Andrade, diretor de futebol do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

O torcedor ficou decepcionado com esse fim de temporada do Corinthians. É possível vislumbrar um futuro melhor mesmo com pouco investimento?
– Oscilamos em alguns momentos. Fizemos um jogo muito abaixo da média contra o Bahia. Fomos hiper bacana contra o Flamengo. Não dá para comparar Bahia com Flamengo, que é muito superior a qualquer clube. Fizemos ótimo jogo e uma vitória não seria anormal. Não existe explicação. Treinamos, há dedicação, entrega, apesar da oscilação nestes jogos sem três pontos, mas, se reparar, a entrega dos atletas foi total. Às vezes, as coisas não acontecem. Já vimos outros times tidos como inferiores terem muito mais sucesso do que tivemos esse ano. É futebol. Paulista é um novo campeonato, energia nova, todo mundo se mexe. Com duas ou três alterações já muda a cara do time. É muito cedo para ficar ironizando. Estamos trabalhando. Nem nós temos essa certeza. Temos que ir alterando, vendo o que é melhor. O que temos de laboratório? Treinamentos. É isso que mostra quem está melhor. É preciso aguardar. Ter um pouco de paciência do torcedor. São meninos ainda. Nem todos têm a capacidade de vestir a camisa do Corinthians. Uns vão com mais naturalidade, outros vão com a perna mais pesada. Não é fácil vestir a camisa do Corinthians, que tem pressão por ganhar tudo. Mas temos que iniciar, dar o start e ir fazendo alterações. É assim que penso.

Você vê o elenco corintiano com potencial para vendas de jogadores? A ideia de promover jovens tem relação com a possível valorização deles para vendas futuras?
– Acho que tudo é válido. O mercado mudou muito, retraiu pela pandemia. A gente lê que clubes como o Barcelona tem dívida altíssima. Dificuldades no Bayern, que é um gigante do mundo. Corinthians não é diferente perante a esses clubes. Temos que começar a ver as coisas com olhos mais voltados à parte comercial. Nenhum clube do Brasil hoje fecha o balanço no azul se não fizer venda de atleta. Os valores encolheram. O que valia dez, duvido que consiga mais do que cinco ou seis atualmente. Todos clubes tiveram encolhimento de receita. O que vai acontecer: idade diminuiu muito, os clubes querem investir em jogadores mais novos, 20, 21 ou 22 anos. Precisamos estar prontos para isso. Jogador com parte técnica bacana, vai ser vendido por valor mediano, não serão valores expressivos. O caminho é esse, sim.

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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