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Diabetes gestacional: exercício ajuda prevenção e tratamento

Durante a gravidez, algumas mulheres podem desenvolver o diabetes mellitus gestacional. O problema costuma aparecer de forma assintomática e desaparecer após

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Redação Publicado em 09/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h19


No Dia das Mães, médicas ginecologista e endocrinologista explicam a doença, falam de causas como obesidade e dão orientações de atividades físicas e alimentação para gestantes

Durante a gravidez, algumas mulheres podem desenvolver o diabetes mellitus gestacional. O problema costuma aparecer de forma assintomática e desaparecer após o parto. Dentre os fatores de risco estão o sobrepeso, a obesidade e o ganho de muito peso na gestação, bem como a influência de fatores genéticos. Esse tipo de diabetes que a mulher desenvolve na gravidez também é recorrente em gestações tardias. Trata-se de um dos problemas mais prevalentes entre gestantes a partir dos 35 anos, especialmente após os 40 anos. Contudo, o diabetes gestacional tem tratamento e prevenção. A associação de prática de atividades físicas e alimentação balanceada e individualizada é o caminho para as mulheres que planejam a gestação ou mesmo para aquelas que já estão grávidas e querem evitar desenvolver a resistência insulínica na gravidez. Além disso, ainda que após o diagnóstico a mulher precise fazer um controle nutricional e verificar a glicemia antes e após as refeições, é essencial que ela incorpore esses hábitos saudáveis ao seu dia a dia.

Fatores de risco do diabetes gestacional

  • Sobrepeso e obesidade;
  • Ganho de peso excessivo na gravidez;
  • Aumento da gordura na região abdominal durante a gravidez ou previamente;
  • Crescimento fetal excessivo e ou presença de muito líquido amniótico;
  • Gestação tardia. Essa é uma das patologias que acometem mulheres em idade materna avançada. A partir dos 35 anos, especialmente após os 40 anos, elas já apresentam alterações nos níveis de estrogênio e uma predisposição para a deposição de gordura na região do abdômen;
  • Histórico de diabetes na família, especialmente entre parentes de primeiro grau;
  • Quadro de síndrome dos ovários policísticos;
  • Antecedentes obstétricos de abortamento de repetição;
  • Hipertensão e pré-eclâmpsia.

Membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a médica ginecologista Juliana Silva Esteves explica que o diabetes gestacional é uma resposta mais acentuada de alterações que acontecem no corpo da mulher durante a gravidez. Há hormônios que causam uma resistência insulínica para garantir mais aporte de glicose para o bebê. Acontece que algumas pacientes desenvolvem uma resistência maior.

– É por isso que para o diagnóstico do diabetes gestacional não são usados os mesmos critérios do diabetes fora da gestação. São outros valores. O diagnóstico é feito no período de maior nível de resistência insulínica, entre 24 e 28 semanas. Quando é detectada uma alteração no início da gestação, há a suspeita de que a mulher já tivesse esse quadro clínico antes da gravidez e não diagnosticado – explica, acrescentando que, para diagnóstico do diabetes gestacional, por volta do início do que seria o sexto mês, é verificada a glicose em jejum normal e também após ingestão de líquido bem doce, o que ajuda a entender a dificuldade da paciente em normalizar os níveis após uma sobrecarga.

A médica endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP) Adriana Moretti reforça que manter um Índice de Massa Corporal (IMC) abaixo de 25 kg/m² e evitar a concentração de gordura abdominal são importantes medidas para prevenir o diabetes gestacional. Essa patologia é mais rara entre mulheres que adotam uma alimentação saudável, praticam atividade física e estão dentro do seu peso ideal. Quando ocorre nesses casos, pode haver uma influência genética. É por isso que, como ela destaca, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recomenda que, durante o pré-natal, todas as gestantes que não tenham diagnóstico prévio de diabetes tipo 1 e 2 tenham investigada a curva glicêmica.

– Todos os fatores de risco predispõem. Mas há mulheres que têm fatores e não desenvolvem. Quando a gravidez é programada, é importante tentar engravidar dentro do peso adequado para a mulher e o objetivo durante a gestação é que ganhe 300 g a 400 g por semana a partir do segundo trimestre. Quanto mais peso ganhar, maior a chance de desenvolver (o diabetes) – expõe a endocrinologista, acrescentando que números divulgados pela SBD sugerem que o diabetes gestacional pode ocorrer em de 3% a 25% das gestações.

É importante comentar que essa doença não apresenta sintomas. A endocrinologista acrescenta que, quando dá sinais, podem ser confundidos com situações comuns às mulheres durante a gravidez.

– Quando percebe níveis de glicose muito altos, ela pode ter muita sede e urinar muito. Mas esses também são sintomas da gravidez – observa Moretti.

Segundo a ginecologista, a gestante apresentará uma queixa maior quando o quadro do diabetes estiver descompensado. No geral, trata-se de um problema silencioso, motivo pelo qual é importante fazer o rastreio.

– O diabetes gestacional é diferente, por exemplo, de um quadro pré-eclampsia, quando a mulher tem pressão alta e dor de cabeça. Seu quadro é silencioso – reforça.

A seguir, o EU Atleta, com o apoio das médicas endocrinologista e ginecologista apresenta algumas orientações que ajudam a evitar o diabetes gestacional.

Ideia é manter atividade física praticada antes da gestação, mas converse com seu médico para realizá-la com segurança — Foto: Istock

Ideia é manter atividade física praticada antes da gestação, mas converse com seu médico para realizá-la com segurança — Foto: Istock

Antes de engravidar

  • Procure se planejar para iniciar um processo para melhorar o seu nível glicêmico e adequar a sua dieta. Durante a consulta pré-gestacional, o ginecologista poderá fazer essas orientações. Assim, quando engravidar, já estará acostumada com as mudanças e se adaptará melhor durante a gestação;
  • Considere a possibilidade de consultar um endocrinologista. Converse com o seu ginecologista a respeito;
  • Pratique atividades físicas regularmente.

Durante a gestação

  • Peça orientações ao seu ginecologista para a prática de atividades físicas ser realizada com segurança;
  • Tenha uma alimentação balanceada. É indicado consultar endocrinologista e/ou nutricionista. Isso vale especialmente para quem se enquadra nos fatores de risco. No caso de diagnóstico positivo de diabetes gestacional, o acompanhamento de médico endocrinologista é indispensável;
  • Mantenha a orientação médica para a realização dos testes de glicemia capilar, para que o problema esteja sob controle. Diabetes gestacional requer cuidado, uma vez que pode estar associado aumento do risco cardiovascular para a mulher, além das chances de desenvolver o tipo 2 da doença. Já o bebê pode estar sujeito a quadros de hipoglicemia neonatal e macrossomia, quando nasce bem grande, além de síndrome metabólica na infância. Quando o diabetes está descompensado, pode resultar em morte súbita do bebê no final da gravidez.

Após o parto

  • Consulte seu endocrinologista seis semanas após o parto, caso tenha apresentado um quadro de diabetes gestacional. Geralmente, essa doença desaparece no puerpério. Mas é importante reavaliar se a resistência insulínica normalizou. Para tanto, não deixe de realizar essa consulta seis semanas depois do parto. Se por acaso apresentar um quadro de diabetes tipo 2, será preciso manter o acompanhamento com endocrinologista conforme indicado pelo médico.

Atividades físicas: prevenção e tratamento

Natação é uma das atividades que a mulher pode optar por realizar durante a gravidez para melhorar resistência insulínica — Foto: iStock Getty Images

Natação é uma das atividades que a mulher pode optar por realizar durante a gravidez para melhorar resistência insulínica — Foto: iStock Getty Images

Além de conhecer o status glicêmico, Esteves diz ser necessário praticar atividades físicas para melhorar a resistência insulínica e a capacidade periférica de absorver melhor a glicose. Para tanto, é importante conversar com o ginecologista e obstetra que faz o acompanhamento para ter orientações personalizadas, especialmente se a mulher está sedentária e com sobrepeso. Caso a mulher já pratique alguma atividade física antes da gestação, a recomendação é mantê-la. Alguns ajustes na intensidade do exercício podem até ser necessários, mas não haverá a orientação de abandoná-lo. A exceção é apenas para casos que requeiram repouso absoluto e que demandarão o seu afastamento de quaisquer outras atividades, conforme orientação individualizada do médico.

Benefícios atividades físicas no controle do diabetes gestacional:

  1. Melhora a resistência insulínica;
  2. Contribui para a melhor absorção periférica da glicose;
  3. Ajuda a manter o peso sob controle, além de melhorar a saúde de uma forma geral.

– É fundamental manter a atividade física. Mas muitas mulheres param durante a gestação e, com isso, podem aumentar a resistência à insulina. Se a paciente está acostumada, a orientação é que mantenha (a atividade física). Não precisa começar uma nova atividade. Sempre costumo recomendar que continue com a mesma, inclusive se for a corrida, se tem esse hábito. Ela terá uma redução da capacidade de condicionamento e um aumento da frequência cardíaca, cansando mais, e precisará fazer uma adaptação. O exercício não será extenuante como antes – detalha a ginecologista.

Como as atividades físicas melhoram o processo de resistência à insulina, a endocrinologista observa que também previnem o diabetes gestacional. Moretti recomenda que a mulher converse com o seu médico ginecologista, mas comenta que atividades como hidroginástica, caminhada e pilates não impõem grandes restrições. O importante é fazer atividades físicas antes e durante a gestação.

– O diabetes gestacional pode ser prevenido e melhorado com o exercício físico – enfatiza a médica endocrinologista.

Dicas das médicas:

  • Converse com seu ginecologista e obstetra para ter mais orientações sobre como as atividades físicas devem estar presentes no seu dia a dia para prevenir e tratar o diabetes gestacional. Isso vale antes mesmo de engravidar, caso se enquadre em algum fator de risco;
  • Como ao fazer a atividade física a frequência cardíaca é aumentada, considere usar frequencímetro durante os exercícios na gestação. Se nunca utilizou esse aparelho, essa pode ser uma boa hora para começar. Assim, conseguirá acompanhar melhor a sua frequência cardíaca e esforço realizado;
  • Lembre-se de que as atividades físicas podem ser ajustadas conforme as suas particularidades e intercorrências. Para mulheres grávidas que sentem dor na coluna, pode ser indicado optar pelas aquáticas, que têm menos impacto. Natação é uma atividade que, de uma forma geral, pode ser praticada até o fim da gravidez. Corredoras, por exemplo, podem ter dificuldade para manter essa modalidade, com o avançar das semanas da gestação. Mas sempre haverá uma atividade possível de ser praticada.

Cuidados com a alimentação

A prevenção e o tratamento do diabetes gestacional também passam pela alimentação. A endocrinologista comenta que a recomendação nutricional deve ser individualizada para cada paciente. Algumas gestantes podem precisar de um aporte proteico maior. O consumo de frutas também inspira atenção. Moretti lembra que essa ingestão deve ser orientada por endocrinologista ou nutricionista, para que a mulher saiba em que horário e quantidade comer. No entanto, é importante adotar uma alimentação balanceada, com carboidratos de baixo índice glicêmico, proteínas e gorduras boas que não aumentem o colesterol LDL, conhecido como ruim.

Frutas devem fazer parte da alimentação, mas endocrinologista ou nutricionista deve orientar quantidade e horário de consumo para evitar aumento da glicemia — Foto: iStock Getty Images

Frutas devem fazer parte da alimentação, mas endocrinologista ou nutricionista deve orientar quantidade e horário de consumo para evitar aumento da glicemia — Foto: iStock Getty Images

Embora o plano alimentar deva ser individualizado, com o apoio das médicas, listamos alguns alimentos e nutrientes que devem estar presentes na alimentação e aqueles que precisam ser evitados para afastar os riscos do diabetes gestacional ou tratar essa doença.

O que comer:

  1. Frutas, legumes e verduras. No caso das frutas, vale lembrar que é preciso orientação sobre horário para comê-las e quantidade, uma vez que têm altos teores glicêmicos;
  2. Fontes de gordura boa, como salmão, que é rico em ômega-3, e oleaginosas;
  3. Alimentos ricos em proteína, como carnes e leguminosas;
  4. Barras de proteína, oleaginosas e frutas secas, que são alternativas para lanches e aqueles momentos em que a gestante precisa de um alimento que seja fonte de energia rápida;
  5. Comida de verdade. Ou seja, é preciso preparar mais os alimentos em casa e evitar os industrializados. Ao escolher produtos prontos para consumo, quanto menos ingredientes tiver, melhor.

O que evitar:

  1. Alimentos ricos em açúcar e gordura saturada;
  2. Açúcar refinado;
  3. Produtos industrializados.

No caso em que a gestante tem o diagnóstico desse tipo de diabetes, a médica comenta que, além dos cuidados com a alimentação, precisará fazer cerca de quatro a sete exames de glicemia diariamente.

– Ela precisará furar o dedo (com a agulha do aparelho para teste da glicemia capilar) para verificar antes e uma hora após cada refeição. Há uma meta de glicemia para antes e depois das refeições. Se não ficar dentro, precisará fazer uso de insulina – explica a endocrinologista.

A ginecologista lembra que, na gravidez, a mulher não tolera grandes intervalos entre as refeições e sente vontade de comer alimentos que fornecem energia rapidamente. Sem contar com o que se chama de perversão alimentar. Esteves conta que há pacientes que não gostam de comer biscoitos e bolos mas passam a consumir esses produtos na gravidez.

– É preciso comer com moderação e tirar a necessidade de alimentação rápida. Opte por alimentos com menores teores glicêmicos. Tenha barras de proteína na bolsa, pois consegue ter acesso a um alimento que dá energia rapidamente. Substitua os biscoitos por elas – sugere a médica ginecologista, acrescentando que oleaginosas e frutas secas também são uma opção nessas horas e nos lanches.

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Fonte: Ge – Globo Esporte.

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