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Detesto ouvir a minha voz gravada!

Por Reinaldo Polito*

Detesto ouvir a minha voz gravada!
Detesto ouvir a minha voz gravada!

Redação Publicado em 27/03/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h29


Por Reinaldo Polito*

Detesto ouvir a minha voz gravada!

Um comentário bastante recorrente da maioria das pessoas é que não gostam de se ver nos vídeos, nem de ouvir a própria voz gravada. Essa é uma atitude que deve ser reconsiderada. Por várias razões.

O vídeo é um recurso extraordinário no processo de aprendizagem e de aperfeiçoamento da comunicação.  Com a ajuda de gravações é possível perceber quais são os defeitos que precisam ser corrigidos e, principalmente, quais são as qualidades que devem ser cultivadas, ou que estejam potencialmente prontas para serem aprimoradas.

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Gravações em vídeo são ótimos exercícios para aprimorar a comunicação

A segurança é fator fundamental para o sucesso de quem fala em público. E essa segurança ocorrerá quando houver consciência dos próprios aspectos positivos da comunicação. Nesse sentido, a gravação de uma apresentação transforma-se em recurso eficiente para que você possa

observar se possui postura elegante, bom ritmo de fala, vocabulário fluente, etc. Ainda que exista um ou outro ponto deficiente, quase sempre é possível corrigir rapidamente essas falhas e melhorar.

Eu me lembro de um fato bastante curioso. Em uma das minhas participações no programa do Jô Soares, discutimos sobre a importância de assistir às próprias apresentações gravadas. Ele, espirituoso, me disse: Polito, eu não gosto de ver os meus vídeos porque me sinto gordo.

Se você for muito jovem, talvez nunca tenha visto uma propaganda do xampu Colorama. O anúncio mostrava uma moça com voz bastante desafinada, esganiçada. A peça publicitária foi surpreendente. As pessoas indagavam como a empresa havia concordado com aquela espécie de contrapropaganda.

Nunca soube se a participação dela se deu por descuido da agência responsável, com o aval da própria Bozzano, que era a empresa anunciante, ou se tudo fora propositalmente planejado como base para o que veiculariam a seguir. Por um ou outro motivo, acertaram em cheio.

No anúncio seguinte lá estava a moçoila toda saltitante entoando com a voz ainda mais descolorida a seguinte mensagem: Ei, ei, você se lembra da minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos – quanta diferença! E no final a mesma moça surgia com voz melodiosa e sedutora dizendo: Quando os cabelos são lindos, tudo é lindo numa mulher.

Com milhares de tantos outros anúncios que se seguiram, as pessoas nunca mais se esqueceram da voz desagradável da modelo. Quando alguém diz: “a minha voz continua a mesma”, logo surge outro para completar “mas, os meus cabelos, quanta diferença!”

Embora existam pessoas com qualidade vocal ruim, esse não é um fato tão corriqueiro. A maioria não gosta de ouvir a própria voz gravada ainda que tenha boa qualidade estética. Essa é a questão: se a voz é boa, por que há tanta resistência em ouvi-la nas gravações?

De maneira geral, não gostamos da nossa voz numa gravação, porque é comum julgarmos que ela seja bem melhor. Quando uma pessoa ouve sua própria voz gravada, estranha tanto o som que chega até a afirmar que não parece ser ela quem está falando. Ou, ainda, põe a culpa no gravador.

Temos essa impressão porque, quando falamos, ouvimos o som da voz dentro de nossa cabeça com toda a ressonância produzida pelos ossos. Entretanto, os ouvintes e, da mesma maneira, o gravador, captam a vibração de uma onda de ar, isto é, um som distinto daquele a que nos acostumamos. Depois de ouvir a própria voz gravada várias vezes, a pessoa vai se habituando e passa a aceitá-la naturalmente.

Cuidado, portanto, com conclusões precipitadas. Se não gostar de ouvir a sua própria voz gravada, saiba que, provavelmente, sua avaliação está equivocada. Assim como acontece com quase todas as pessoas, sua voz deve ter mais qualidade do que imagina.

Por outro lado, se concluir que a sua voz é mesmo ruim, sugiro que consulte um fonoaudiólogo para uma avaliação. Com rápido exame ele poderá dizer se há alguma deficiência que precisa ser corrigida.

Convém ressaltar ainda que alguns dos grandes oradores, que conquistaram sucesso em suas atividades, sempre tiveram voz feia. São os casos dos ex-presidentes Jânio Quadros e Lula. Nenhum deles pode ser tomado como exemplo de oradores com voz bonita. Mesmo assim, são pessoas que apesar da voz conquistaram o mais elevado cargo político do país.

O mais importante é que, independentemente da qualidade da sua voz, ela tenha “personalidade” e que ajude a transmitir credibilidade na sua comunicação. Siga pelo Instagram @polito

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*Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Presidente Emérito da Academia Paulista de Educação. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]
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