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Descanso forçado na Coréia do Sul

O Globo (Hooyeon Kim, da Bloomberg)

Descanso forçado na Coréia do Sul
Descanso forçado na Coréia do Sul

Redação Publicado em 08/03/2019, às 00h00 - Atualizado às 16h42


Obrigação de tirar intervalos para almoçar, desligamento automático de computadores e outras ações mudam cenário nas empresas e nas instituições do mercado financeiro em particular

O Globo (Hooyeon Kim, da Bloomberg)

Kim Junsoo, treinador na academia do Banco Shinhan em Seul, não se lembra a última vez em que houve tanta demanda por seus serviços.

Outrora um canto solitário no porão do prédio do banco, o ginásio agora está lotado, mas a mudança na verdade pouco tem a ver com ficar em forma. É uma reação a regras que entraram em vigor no ano passado reduzindo a jornada máxima de trabalho de 68 para 52 horas semanais, num esforço para fazer os sul-coreanos se focarem em outras coisas que não seus empregos.

O governo quer mudar a reputação e cultura do país que mais trabalha na Ásia. Os empregados da nação trabalharam uma média de 2.024 horas em 2017, menos apenas que no México entre os 35 países integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de acordo com dados do próprio grupo.

Sob a nova política, todas empresas públicas e privadas da Coreia do Sul com mais 300 funcionários deve limitar as horas trabalhadas até julho, com poucas exceções, incluindo companhias de transporte aéreo e rodoviário de bens. Empresas menores também devem aderir às novas regras até 2022.

A cultura de trabalhar muitas horas que alimentou o desenvolvimento da Coreia do Sul está agora sob ataque, com o presidente Moon Jae-in responsabilizando o excesso de trabalho por problemas como infelicidade pessoal, produtividade estagnada, acidentes industriais e a baixa taxa de natalidade do país.

Nas bolsas de Seul, corretores de câmbio estão tentando encaixar a parada obrigatória do meio do dia e o trabalho nas horas limitadas no mercado que movimenta US$ 55,5 bilhões por dia. No Banco Woori, os computadores foram programados para se desligarem depois de oito horas de funcionamento. Se mais tempo for necessário, o funcionário pode pedir uma extensão de dez minutos, o procurar aprovação para trabalhar mais até duas horas. Já o Banco Shinhan usa protetores de tela automáticos para manter os empregados longe de suas mesas pela totalidade da hora do almoço.

Com isso, as manhãs ficaram menos apressadas, conta um corretor que pediu para não ser identificado por não estar autorizado a falar publicamente sobre o assunto. O trabalho agora começa em algum momento entre 8h e 8h30, uma hora inteira mais tarde do que há um ano, e os corretores também são encorajados a descansar por outra hora inteira fora do escritório, disse ele.

Mas nem todo mundo está satisfeito com as mudanças. Alguns reclamam que precisam correr para fechar posições antes que suas estações de trabalho se deliguem no meio do dia. E outros resmungam ser uma perturbação ter que buscar permissão para ligar seus computadores se quiserem trabalhar além das horas prescritas.

As instituições dizem que algumas preocupações são exageradas e que estão escalonando os intervalos para garantir que os negócios não parem. O Bando Hana está revisando plano de adiantar os horários de trabalho para que os corretores se preparem para o mercado antes que ele seja aberto.

Os mercados sul-coreanos operam por seis horas e meia diárias, de 9h às 15h30. A moeda do país, o won, é considerada a mais líquida entre as moedas das nações emergentes, com menos restrições de negócios. A dependência do país das suas exportações também faz dela uma das mais sensíveis a fatores externos.

A maioria dos funcionários dos bancos parece estar gostando das mudanças, já que não são mais compelidos a trabalhar até tarde, disse outro corretor que pediu para não ser identificado em razão de políticas internas.

E embora estudos sugiram que jornadas de trabalho reduzidas e mais humanas ajudem na produtividade, os efeitos colaterais são inevitáveis. As empresas provavelmente vão substituir trabalhos de baixo rendimento por serviços automatizados, eventualmente minando o objetivo do governo de criar mais empregos, destaca Choi Yoo-june, analista sênior da Shinhan Investment Corp.

Mas, por enquanto, os gerentes acreditam que as jornadas mais curtas serão benéficas tanto para os indivíduos quanto para as empresas.

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