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Denúncias de lesão corporal contra mulheres com deficiência no estado de SP aumentaram 68% em 2020

As denúncias de lesão corporal contra mulheres com deficiência aumentaram 68% em 2020 em relação a 2019, de acordo com a Prefeitura de São Paulo. Somente na

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Redação Publicado em 10/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h27


No total, capital paulista teve mais de 24 mil denúncias de violência contra a mulher em 2020, de acordo com prefeitura. Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência tem canais para denúncia.

As denúncias de lesão corporal contra mulheres com deficiência aumentaram 68% em 2020 em relação a 2019, de acordo com a Prefeitura de São Paulo. Somente na capital paulista foram mais de 24 mil denúncias de violência contra a mulher em 2020.

O governo do estado passou a divulgar o dado de agressões contra mulheres com deficiência, que antes ficava invisível.

Helena Góis, dona de casa, perdeu a visão aos 9 anos por causa de um problema genético e, desde então, passou a ser violentada dentro de casa pelo próprio pai. Agora, adulta, ela quis mostrar o rosto para incentivar outras mulheres a denunciar.

“Eu sofri esses abusos dos 10 aos 14 anos… E violências de todas as ordens: psicológica, sexual, física… Ele sempre me obrigou a fazer coisas e dizia que, se eu não fizesse, ele ia abusar das minhas irmãs”, conta ela.

O pai foi condenado a 45 anos de reclusão. Mas, para que isso fosse possível, Helena enfrentou mais uma dificuldade típica nesses casos.

“Eu acho que o primeiro empecilho é se fazer ouvir. A conduta dele era inquestionável na sociedade, na nossa cidade, e dentro da família também. Então até hoje existem pessoas da família que sempre fizeram questão de encobrir o que aconteceu. Eu cheguei a ouvir que tinha inventado tudo aquilo, ou seja, a minha versão colocada em xeque por ser uma menina com deficiência, por ser menor de idade.”

A psicóloga Ana Rita é consultora do projeto Caliandra, uma iniciativa que pretende reunir dados sobre a violência contra a mulher com deficiência. Tetraplégica há 50 anos, ela é uma das principais vozes do movimento que luta pelos direitos de pessoas vulneráveis.

“Eu costumo dizer que a ausência de dados já é uma informação: é uma informação do quanto esse assunto está oculto, está sepultado. O objetivo do projeto Caliandra é capacitar e qualificar os serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência para poder atender, prevenir a violência e acolher essas vítimas.”

Uma paraibana de 22 anos que prefere não se identificar é mais uma das vítimas desse tipo de violência. Ela tem deficiência visual desde que nasceu. O agressor era o pai adotivo.

“No início, foram apenas abraços. Só que, né, a gente sente quando o abraço é de pai para filha e quando abraço tem malícia, tem algo mais. Eu senti isso, mas como eu era muito jovem, muito criança, para mim era normal…. Depois que eu fui vendo que não era certo, que era abuso. Não piorou mais porque, como ele é pastor de uma igreja, com a esposa dele, ele não quis ir além porque seria prejudicial para ele.”

Helena participa de palestras sobre o tema e está escrevendo um livro sobre a própria história.

“A minha força, a minha resistência, eu sempre falo que foi tudo aquilo que meu pai não queria que eu fosse. Ele sempre disse que eu era inválida, que eu não tinha valor algum, eu sou uma pessoa muito observadora. Então, quando ele falava que eu sou inválida, eu entendia que sou válida, que eu tenho muito valor, que eu valho muito…”

O livro dela trata de resiliência, amor próprio, autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e maneiras de sobreviver, segundo ela.

“Eu acho que a gente fortalecendo mais, tendo casos que se resolvam com facilidade e com rapidez, eu acho que as mulheres vão ter mais certeza de que podem denunciar, de que não vai ser esquecido. Essa é a visão que eu tenho sobre isso.”

A Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com deficiência tem canais para denúncias. São dois números de whatsapp. O primeiro, para pessoas com deficiência é o (11) 99918-8167. Já o número exclusivo para pessoas surdas, com intérprete de libras, é (11) 99918-8167.

Também há o telefone fixo: (11) 3311-3380 e o email: [email protected]

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Fonte: G1 – Globo.

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