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Deborah Secco fala sobre feminismo: “A minha luta na vida é pelo respeito e pela igualdade”

Deborah Secco está fazendo o maior sucesso como a vilã Karola na novela Segundo Sol e na próxima quinta-feira (05), se prepara para apresentar uma nova

Deborah Secco fala sobre feminismo: “A minha luta na vida é pelo respeito e pela igualdade”
Deborah Secco fala sobre feminismo: “A minha luta na vida é pelo respeito e pela igualdade”

Redação Publicado em 03/07/2018, às 00h00 - Atualizado às 16h43


Atriz lança na próxima quinta-feira (05) o filme ‘Mulheres Alteradas’

Deborah Secco está fazendo o maior sucesso como a vilã Karola na novela Segundo Sol e na próxima quinta-feira (05), se prepara para apresentar uma nova personagem que promete ter uma identificação direta com muitas mulheres: Keka, do filme Mulheres Alteradas, baseado nas HQs de Maitena.

“Talvez a Keka seja a personagem que mais represente nós mulheres. A Keka é aquela personagem que deram para ela uma caixa que dizia que aquilo era o que ela tinha direito: casar, ter filhos, que não exigisse muito dela para não ficar muito ausente da família. Ela tá ali dentro daquela caixa do que era permitido à mulher. E ela não é feliz com aquilo”, afirma a atriz em entrevista exclusiva à Glamour.

Deborah posa com Mônica Iozzi, Alessandra Negrini e Maíra Casadevall (Foto: Instagram/Reprodução)

Deborah posa com Mônica Iozzi, Alessandra Negrini e Maíra Casadevall (Foto: Instagram/Reprodução)

Além de falar sobre o filme, que também tem no elenco Mônica Iozzi, Maria Casadevall e Alessandra Negrini, é claro que Deborah falo um pouquinho sobre Karola e seu sotaque maravilhoso. Aliás, ela contou de quem copiou o jeito de falar da vilã: da sogra!

“A Karola é uma mulher que é mais velha, mais bem sucedida, mais dondoca. Ela tem que falar de uma maneira mais correta. Com o Remi e com Laureta não muito. Mas com Beto e com Valetim ela tem que ser uma mulher mais refinada. E aí peguei minha sogra como referência. Eu, modéstia à parte, acho que faço igualzinho a ela. Se alguém falar que o meu sotaque tá ruim, o dela tá ruim também”, dá risada.

Deborah Secco como Karola (Foto: Reprodução/Instagram)

Deborah Secco como Karola (Foto: Reprodução/Instagram)

Na conversa, Deborah ainda falou sobre feminismo, o casamento com Hugo Moura, machismo nas artes, Maria Flor e o único assunto que prefere não abordar nas redes sociais.

Confira a entrevista completa:

Vamos começar falando de ‘Mulheres Alteradas’. Keka está presa em um relacionamento infeliz, com um cara super chato, dependente da mãe e ainda por cima que não quer saber de transar com ela. Você acha que muitas mulheres se enxergam na história da Keka?

Acho que muitas! Talvez a Keka seja a personagem que mais represente nós mulheres. A Keka é aquela personagem que deram para ela uma caixa que dizia que aquilo era o que ela tinha direito: casar, ter filhos, que não exigisse muito dela para não ficar muito ausente da família. Ela tá ali dentro daquela caixa do que era permitido à mulher. E ela não é feliz com aquilo. Ela tenta muito manter aquela caixa, manter aquele casamento, manter os filhos, o trabalho, mas acho que várias mulheres se enquadram nisso, acreditam o que essa sociedade machista impõe e que ficam ali tentando se adequar aquele padrão do que é certo. Mas não existe muito certo, existe o que faz a gente feliz e o que não faz a gente feliz. E a Keka, de fato, não está feliz.

No filme, focando no relacionamento da Keka, o casamento aparece como um atraso na vida dela, muito por conta de um marido que não é parceiro. Atualmente, você está numa relação sólida com o Hugo, mas ambos já disseram que não acreditavam na monogamia. Como você enxerga o casamento?

O que eu acho é que o casamento é um acordo. O casamento é um acordo que você faz com alguém. Para isso dar certo de fato, você tem que amar essa pessoa com as qualidades e com os defeitos dela, porque todas as pessoas têm qualidades e defeitos. Acho que para isso dar certo você também tem que conhecer a verdade dessa pessoa, amar a verdade dessa pessoa, e juntos criarem um…não um manual! Mas um combinado do que podemos, do que não podemos, do que devemos, de como proceder. E esse combinado vale muito para essa relação. Eu não acredito em combinados que se encaixem em todas as relações. Mas acho muito importante que exista sinceridade, que exista confiança, cumplicidade. Acho que isso é um casamento, né?! Essa parceria que você resolve ter e construir com alguém.

Mulheres Alteradas (Foto: Instagram/Reprodução)

Mulheres Alteradas (Foto: Instagram/Reprodução)

Já teve receio de acabar vivendo uma relação como a da Keka?

Vivi muitos casamentos desgastados. Muitos casamentos que ficavam, tanto eu, quanto a outra pessoa, presas por uma relação tóxica, que acaba sendo viciante, que você não sabe como se livrar daquilo. Mas graças a Deus consegui sair disso. Fui trabalhando muito o meu ser para que não me deixasse cair de novo em relações parecidas com aquelas que eu vivi.

O filme aborda o sexo do ponto de vista de várias mulheres e em vários tipos de relacionamentos. O quanto é importante que as mulheres falem de sexo, exponham realidade sobre o que lhes dá prazer?

Para cada mulher vai existir uma medida certa. Não existe uma medida para todas as mulheres. Eu não acredito nessa cartilha para seres humanos. Acredito que cada um tem sua própria cartilha do que faz bem e o que faz mal. O que eu acho que vale para todos os seres humanos é que nós temos que ser livres para sermos exatamente o que a gente é. A gente não pode ter vergonha do que a gente é de verdade. A gente tem que se orgulhar do que a gente é. Somos muito vitoriosos de estarmos nessa vida tão difícil, tão complexa, lutando pela nossa felicidade. Então, a única coisa que eu acho que serve para todos é isso. Fora isso acho que cada uma tem a sua medida, a sua maneira. Cada uma tem que achar o que realmente a faz, de verdade, feliz!

O filme se chama Mulheres Alteradas, baseado nas HQs da Maitena. Qual a diferença entre uma mulher alterada e uma mulher histérica (como os machistas amam usar como justificativa ou característica para as atitudes das mulheres)?

Eu acredito que as mulheres alteradas sejam como a Maitena mesmo fala: mulheres em transformação, que estão se transformando. Eu me julgo uma mulher completamente alterada. Eu venho me alterando esses anos todos para ser exatamente o que eu sou hoje. Uma mulher histérica é uma mulher que realmente precisa se livrar daquela caixinha em que ela está enquadrada, tentando ser feliz dentro do que disseram que era o seu direito. É por isso que as mulheres ficam histéricas, porque dão para elas muito menos do que elas precisam para serem felizes. Isso cria uma histeria, uma insatisfação. Acho que mulheres histéricas são aquelas que precisam repensar e de repente jogar uma vida para o alto mesmo e recomeçar de uma forma mais honesta com ela própria, com suas reais vontades e desejos.

Deborah Secco (Foto: Instagram/Reprodução)

Deborah Secco (Foto: Instagram/Reprodução)

Sobre Segundo Sol, Karola é um sucesso, as pessoas estão obcecadas pelo seu sotaque. Como você chegou nessa proximidade real com o sotaque baiano?

É uma coisa difícil, né?! Mas eu tive uma grande ajuda que é ser casada com um baiano, que é ter metade da família toda morando em Salvador e me dando vários conselhos, enfim. Mas uma coisa básica de falar do sotaque é que ele existe de várias maneiras. Existem vários tipos de sotaque. Quando você vai para Salvador, você percebe muito isso. Vendo a novela também. Você vê o Fabrício Boliveira que é baiano nem tem tanto sotaque. O Danilo que faz o meu filho tem um pouco, mas é um sotaque também totalmente diferente de Vlad (Vladmir Britcha), que é baiano de coração, chegou lá com meses e cresceu na Bahia. Também não tem esse sotaque tão marcado. A gente consegue ver que o sotaque é muito variante. Eu não podia fazer um sotaque “giriado”, que é um sotaque cheio de gírias, que facilita muito quem faz. A Karola é uma mulher que é mais velha, mais bem sucedida, mais dondoca. Ela tem que falar de uma maneira mais correta. Com o Remi e com Laureta não muito. Mas com Beto e com Valetim ela tem que ser uma mulher mais refinada. E aí peguei minha sogra como referência. Eu, modéstia à parte, acho que faço igualzinho a ela. Se alguém falar que o meu sotaque tá ruim, o dela tá ruim também (risos).

Karola dá um bom tanto de raiva nas pessoas, mas ninguém consegue desgostar dela completamente. Ela é uma vilã maravilhosa. A que você deve esse comportamento do público? Como está sendo o retorno nas ruas, nas redes sociais?

Acho que a Karola é uma pessoa muito contraditória, né?! Ao mesmo tempo ela é má, mas ela é tão boa mãe, ela é apaixonada por aquele homem e também consegue ser engraçada, dramática, exagerada. Então, acho que ela tem essa dubiedade, que o João (Emanuel Carneiro, autor de Segundo Sol) escreve magistralmente, que faz com que ela seja…acho que a melhor definição: faz com que as pessoas amem odiá-la. E isso é muito forte! Eu tenho recebido muito carinho das pessoas, muitos elogios nas redes sociais e fico realmente muito, muito feliz. É uma personagem que está me dando muita alegria.

Ao lado de Adriana Esteves, com que divide a vilania de Segundo Sol (Foto: Instagram/Reprodução)

Ao lado de Adriana Esteves, com que divide a vilania de Segundo Sol (Foto: Instagram/Reprodução)

Você e o Hugo estão trabalhando juntos na mesma trama. Vocês conseguem se encontrar no trabalho? A rotina muda muito quando os dois estão na mesma trama?

A gente, na verdade, se encontra muito pouco. Quase que uma vez de quinze em quinze dias. Então, não complica muito a nossa rotina. Nesse dia, acaba que minha mãe ajuda lá com a Maria (Flor, filha de Deborah) e tal. Mas eu gostaria de encontrá-lo mais! Queria poder trocar mais!

Para o Hugo, é uma pressão ser marido da Deborah Secco? Você acha que muita gente já atribuiu a presença dele no elenco de Segundo Sol por sua causa?

Acho que é uma pergunta até mais pra ele responder, não sei se ele se sente pressionado. Eu sei que ele é um cara muito forte, muito seguro e muito esclarecido quanto a verdade dessa situação. Eu não teria a menor possibilidade de escalar alguém para uma novela. Não tenho essa força, gostaria muito de ter, mas não tenho. E a gente é muito esclarecido quanto a isso, essa pergunta acho que ele pode responder melhor que eu!

Deborah Secco e Hugo Moura (Foto: Reprodução/Instagram)

Deborah Secco e Hugo Moura (Foto: Reprodução/Instagram)

Como fica Maria Flor em meio a tudo isso? Ela tem noção que a mãe é famosa, que trabalha na TV?

Não sei se ela sabe ainda o que é ser famosa. Ela tem uma noção que a mamãe trabalha na televisão, que a mamãe trabalha fazendo novela e que na novela a mamãe é uma outra pessoa, que na novela mamãe é malvada, mas não sei se ela entende a coisa de ser famosa. Para ela tudo ainda muito normal, ela cresceu vendo a gente trabalhando dessa forma, interpretando, criando, decorando, na TV. Então, para ela não é uma coisa que chame muita atenção. Para ela, isso é uma coisa completamente normal.

A relação da Karola com Valentim é um pouco exagerada, né?! Como você, como mãe, avalia as atitudes de Karola? 

Acho que a relação da Karola com o Valentim ela é muito real, né?! Eu conheço muitas mães, acho que talvez, na verdade, esse seja o maior problema das mães: esse amor enlouquecido que nós temos pelos filhos. Essa dificuldade de desfazer o cordão umbilical, de proteger, de cuidar, que meio que anula a capacidade da própria criança de poder resolver e escolher a vida sozinha. Mas eu acredito muito que a Karol é meio exagerada, mas não acho que ela seja fora do normal no exagero, não. Acho que ela é bem exagerada como todas as mães. Todas, não! Mas como algumas mães são exageradas. Também não acho que beira incesto, é um nome que não existe. Amor de mãe para filho. Também não é doentio, porque talvez seja o amor mais sadio, mas é um amor que é quase gerado de um controle, de um cuidado, assim. É como se a mãe não acreditasse que o filho é um só. Como se a mãe mantivesse essa coisa de somos a mesma coisa de quando a criança estava na barriga. Eu conheço muitas mães assim e adoro fazer a Karola assim, porque eu já vou tratando em terapia aquilo que não posso fazer com a minha filha (risos).

Hugo Moura, Maria Flor e Deborah (Foto: Reprodução/Instagram)

Hugo Moura, Maria Flor e Deborah (Foto: Reprodução/Instagram)

Você tem alguma coisa de Karola na sua relação com seus filhos ou com seu marido?

Ah, eu não tenho nada! Na verdade, quando eu vou atuar, eu procuro um personagem completamente distante do que realmente eu sou, sabe?! A Karola é isso: ela é totalmente distante do que eu sou. Mas ela é maravilhosa, deliciosa. Tô amando sê-la um pouquinho.

Você já disse que é feminista e não tem vergonha de se posicionar em nenhum assunto. Alguma vez você já ponderou não dar uma opinião ou falar sobre algum assunto por medo do que a sociedade ia pensar, principalmente, por você ser mulher?

Não, o único assunto que eu prefiro não falar muito e também prefiro não falar muito em rede social, porque acho que o mundo anda muito agressivo com opiniões diferentes das nossas, é sobre política. Eu adoro discutir política, mas prefiro estar olho no olho. Acho que esse é um assunto tão importante para nós, gostaria de ter mais tempo, porque eu acho que para falar de política em redes sociais você tem que ter mais tempo. Você precisa responder todo mundo que te questiona. E eu, com filho pequeno e fazendo novela, não tenho esse tempo, mas é só o que eu evito falar, evito me posicionar também, mas só na parte digital. Sou uma pessoa que vivo em muita paz com as minhas verdades. Acredito muito no que eu acredito e sei exatamente o quanto tudo o que eu sou é valioso e tenho, graças a Deus, muito amor próprio, vivo em paz com a mulher que eu sou, a pessoa que eu construí, a pessoa que eu me tornei e não tenho dificuldade de me posicionar em nada, não. Às vezes, tenho dificuldade de tempo, como na política só.

Maria Flor e Deborah Secco (Foto: Instagram/Reprodução)

Maria Flor e Deborah Secco (Foto: Instagram/Reprodução)

Como é ver e participar dos movimentos das mulheres nas artes, sobre assédio, equidade salarial? Acha que as mulheres estão mais prontas para colocar a boca no mundo e contar os assédios (sexuais, morais…) que sofrem?

Ah, acho que já passou da hora da gente estar pronta, né?! Temos muitas mulheres prontas, muitas mulheres muito amedrontadas ainda. E acho que é nosso dever, de nós mulheres que já conseguimos nos livrar desse domínio machista fazer esse movimento ser cada vez mais alto e mais forte para que a gente consiga libertar cada vez mais mulheres dessa escravidão que foi a nossa criação. A gente foi criada em um universo completamente machista, a minha geração. E tenho muito orgulho de estar vivendo esse momento de estar vendo as coisas acontecerem. Tenho uma filha mulher e isso me ajudou a ficar cada vez mais forte, cada vez mais com mais vontade de participar desse movimento. E tenho muito orgulho dessas mulheres poderosas que existem e que brigam e gritam por outras mulheres que ainda não em força e, às vezes, nem possibilidade, porque é uma vida muito difícil mesmo, de darem esse grito por si só. Então, acho que esse movimento tem que ser feito por todos nós que já conseguimos nos livrar desse estereótipo machista, que tentam nos enquadrar e nos encaixar.

O que é melhor de ser mulher no mundo de hoje? Que diferenças você sente do início da sua carreira pra cá?

Acho que hoje a gente já em muito mais respeito. É uma luta muito maior pela igualdade. Eu sempre falo quando me perguntam o que é ser feminista. Eu acho que feminista é a gente te respeito, é lutar somente pela igualdade. A gente não que nem mais e nem menos, a gente só quer o igual. Isso é muito incrível, lutar pelo respeito ao próximo, pela igualdade com o próximo. Isso não cabe só ao feminismo, cabe a todas as minorias. Essa é a minha luta na vida: pelo respeito e pela igualdade, para que todos tenhamos o direto de ser quem somos e sermos respeitados sendo quem somos. Isso é muito forte, muito necessário e muito potente. Quando isso acontecer, seremos muito mais felizes.

Deborah Secco (Foto: Reprodução/Instagram)

Deborah Secco (Foto: Reprodução/Instagram)

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