O fechamento de vagas de trabalho ficou abaixo do esperado em junho – mas isso não significa que o mercado de trabalho tenha absorvido os efeitos da pandemia
Redação Publicado em 28/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 19h25
O fechamento de vagas de trabalho ficou abaixo do esperado em junho – mas isso não significa que o mercado de trabalho tenha absorvido os efeitos da pandemia do novo coronavírus. A opinião é de quatro economistas consultados pelo G1 a respeito do resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para o mês de junho.
Segundo a Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, o Brasil perdeu apenas 10,9 mil vagas formais de trabalho no mês passado, contra projeções que davam conta de um corte de 10 vezes mais postos de trabalho. Ainda assim, o semestre fechou com recorde de 1,2 milhão de postos eliminados durante a crise.
Os números de desemprego também ficaram aquém do esperado. A taxa oficial de desemprego no Brasil subiu para 12,9% no trimestre encerrado em maio, atingindo 12,7 milhões de pessoas, com um fechamento de 7,8 milhões de postos de trabalho em relação ao trimestre anterior.
A desaceleração do Caged de junho, contudo, tem o apoio de programas governamentais com data para terminar. Soma-se a isso o efeito do Auxílio Emergencial, que compensou as perdas na massa salarial da população.
Segundo os economistas ouvidos pelo G1, os números de junho foram beneficiados por três fatores:
O grande gargalo para o futuro do mercado de trabalho é que todos os fatores que geram benefícios nos últimos meses têm data para acabar.
Cessados os repasses do Auxílio Emergencial e feita a reabertura da economia quando os números da pandemia permitirem, a busca por emprego deve subir imediatamente.
“A sensação é que, de fato, o fundo do poço passou. Mas isso não significa que a taxa de desemprego vai começar a cair”, afirma o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.
“Pelo contrário. A taxa de desemprego vai subir porque as pessoas não estão procurando emprego por causa do isolamento social”, afirma Camargo. “As pessoas já estão desempregadas, só que elas não estão procurando emprego e, portanto, não aparecem na estatística como desempregadas”.
Pelas projeções da Genial, a taxa de desemprego deve encerrar este ano próxima de 18% – mais de 5 pontos percentuais acima dos 12,9% de maio.
A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, acredita ainda que mudanças estruturais devem atingir o mercado de trabalho ao fim da pandemia. A redução da presença física em escritórios, por exemplo, deve impactar rendimentos de serviços que dependem da circulação de pessoas para sobreviver.
É um baque que se espera em áreas como comércio, restaurantes, transportes e demais serviços cuja mão de obra é mais barata e pouco qualificada. Adoção maior de tecnologia também deve afetar viagens a trabalho e hotelaria.
“Há realocação de setores mais tradicionais para mais tecnológicos. A pandemia trouxe uma mudança permanente na forma de produzir e consumir, que são poupadoras de mão de obra e utilizam um trabalho mais qualificado.”, diz.
Para Solange, o pouco espaço fiscal não permite subsidiar por mais tempo as medidas atuais, ainda que tenham dado certo em momento de emergência. A estimativa da ARX é um aumento para 16,5% nos dados de desemprego.
G1
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