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Corregedoria da PGR investiga processos “invisíveis” citados por Aras

A Corregedora-Geral do Ministério Público Federal e subprocuradora-geral da República, Elizeta de Paiva Ramos, instaurou duas investigações que podem atingir

Corregedoria da PGR investiga processos “invisíveis” citados por Aras
Corregedoria da PGR investiga processos “invisíveis” citados por Aras

Redação Publicado em 04/08/2020, às 00h00 - Atualizado às 16h10


‘Correição extraordinária’ foi aberta a pedido da equipe de Aras, que apontou a existência de procedimentos ocultos no sistema interno

A Corregedora-Geral do Ministério Público Federal e subprocuradora-geral da República, Elizeta de Paiva Ramos, instaurou duas investigações que podem atingir as forças-tarefas da Lava Jato. A primeira é uma sindicância aberta sobre a distribuição de investigações para a Lava Jato de São Paulo , que visa investigar se há irregularidades na forma como os inquéritos são enviados para os procuradores da força-tarefa paulista.

Essa sindicância será conduzida pela procuradora regional Raquel Branquinho, que já coordenou a área criminal da Procuradoria-Geral da República (PGR) na gestão anterior, de Raquel Dodge , e tem boa relação com as forças-tarefas. O caso também é objeto de um processo no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). A L ava Jato de SP apresentou esclarecimentos e afirmou que a conexão de investigações na força-tarefa foi reconhecida em uma portaria do próprio procurador-geral, que estabeleceu os processos da Lava-Jato de SP e a distribuição por conexão.

A segunda é uma “correição extraordinária” para apurar a existência de supostos processos invisíveis no sistema eletrônico do MPF, que foi citada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras , durante live com advogados na semana passada. Essa investigação foi aberta a pedido do vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, e será conduzida pela própria corregedora-geral, que é aliada de Aras.

Em seu ofício, Humberto Jacques apontou que teve dificuldades para acessar processos do seu gabinete e que constataram a existência de uma opção no sistema eletrônico de processos do MPF que permite ao procurador restringir o acesso dos demais integrantes do MPF a um processo sigiloso — até mesmo o procurador-geral e a Corregedoria ficariam sem conseguir acessar o processo. Segundo fontes do MPF que acompanham o assunto, os números dos processos continuariam visíveis, mas o conteúdo não apareceria para a cúpula.

Pelo ofício de Humberto Jacques, essa prática dos processos ocultos funcionaria em todo o MPF. Apesar de Aras ter usado o tema para fazer críticas à Lava Jato, o ofício do vice-PGR não cita a Lava Jato especificamente, dando a entender que esses 50 mil processos ocultos são em todo o Ministério Público Federal.

“Nos termos do artigo 65, li, da Lei Complementar n 75, dirijo-me a V. Exa. para a instauração de Correição, na condição de “fiscalizadora das atividades funcionais e da conduta dos membros do Ministério Público’: para apuração da ocorrência de mais de 50 mil casos de colocação de procedimentos e documentos no Sistema Único sob o regime invisibilizador e de gestão personalíssima desses casos por ‘controlado”, escreveu o vice-PGR.

Prossegue o ofício: “Esse nível de opacidade no exercício de poderes por agentes políticos desafia o ‘Ethos’ do Ministério Público, e coloca em risco a integridade institucional permitindo toda sorte de expedientes dentro de 50 mil escaninhos de controle e visibilidade personalíssimos. A possibilidade de retirada e colocação de documentos nesses procedimentos ‘controlados’ torna viável a modificação da verdade procedimental e documental, sem aferição sobre. aquilo que foi objeto efetivo de apreciação do Ministério Público Federal”.

A Corregedora-Geral do MPF irá verificar se os procedimentos invisíveis são vulneráveis a adulterações e se houve irregularidade no assunto. Segundo a PGR, após constatar o problema, Aras fez uma mudança em uma portaria interna do MPF que extinguiu essa brecha.

iG
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