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Corpo de idoso passa mais de 24h aguardando remoção por ausência de parentes

O corpo de um homem de 80 anos ficou mais de 24 horas aguardando a remoção em um apartamento na Rua do Riachuelo, na Lapa , região central do Rio. Vizinhos de

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Redação Publicado em 25/04/2020, às 00h00 - Atualizado às 23h36


Homem de 80 anos morava em uma vaga alugada e não tinha parentes. Vizinho teve que arcar com os custos, já que órgãos públicos se recusaram

corpo de um homem de 80 anos ficou mais de 24 horas aguardando a remoção em um apartamento na Rua do Riachuelo, na Lapa , região central do Rio. Vizinhos de Atarcicio de Souza Barboza contam que o idoso não tinha parentes e foi encontrado morto no quarto que alugava, na manhã desta sexta-feira. Após o Samu ser acionado e atestar morte natural, um dos vizinhos iniciou uma peregrinação em órgãos públicos e todos se negaram a remover o cadáver . Na manhã deste sábado, ele acabou pagando a remoção por conta própria. Enquanto o Corpo de Bombeiros afirma que a remoção nesses casos não é de sua responsabilidade, e sim do município, a prefeitura diz o contrário.

O aposentado Uberto Olsen relata que Atarcicio morava em uma vaga alugada por sua mãe há mais de 30 anos. Segundo o vizinho, as outras quatro pessoas que moram no mesmo apartamento de seis quartos haviam sinalizado, há quatro dias, que o idoso estava doente com sintomas do novo coronavírus , apresentando febre e respiração fraca, porém ele teria recusado ajuda para tratamento.

“Ofereci de chamar o Samu, mas ele disse que não precisava. Era uma pessoa muito humilde e correta. Na sua ficha só tinham telefones antigos que não atendiam e também nesses anos nunca vimos parentes o procurarem. Ontem, por volta das 9h, ele já não respondia mais. Quando abrimos o quarto vimos que tinha falecido. Foi aí que começou a peregrinação. Chamei o Samu, que atestou o óbito, e a Polícia Militar, que me levou para 5ª DP para fazer o boletim de ocorrência. Lá, fui informado que não poderiam pedir a remoção. Liguei para o Corpo de Bombeiros e para a prefeitura, que também se negaram. Nesta madrugada não estava conseguindo dormir e, como não tinha dinheiro para pagar o enterro, resolvi pedir emprestado para um amigo e acionei a funerária. Será que voltamos para a Idade Média e teremos que jogar corpos na rua?”, questiona o aposentado.

A Secretaria de Estado de Polícia Civil informa que cabe ao Instituto Médico Legal (IML) apenas a investigação das causas de mortes decorrentes de fatores externos, como homicídios, lesão corporal seguida de morte, latrocínios. Em nota, diz que ” o instituto não tem no seu escopo análise de mortes de pessoas por doenças, uma vez que o objetivo do IML é auxiliar a solução de crimes e não diagnóstico de doenças. Cabe às secretarias de saúde este diagnóstico, assim como as notificações aos órgãos responsáveis. O serviço de remoção de corpos de mortes ocasionadas por causas externas é realizado pelo Corpo de Bombeiros”.

O Corpo de Bombeiros alega que o acionamento do serviço de remoção de cadáveres da Defesa Civil é feito, exclusivamente, pela Polícia Civil, através da delegacia da área, que emite um documento chamado Guia de Recolhimento de Cadáver (GRC).

“A retirada de um corpo pela equipe de militares depende da emissão da documentação citada, que, podemos dizer, funciona como uma autorização legal para o recolhimento. Inclusive, a GRC é imprescindível para a entrada no IML. O serviço funerário, normalmente, é uma competência da municipalidade”, diz a nota dos Bombeiros.

Já a Prefeitura do Rio informa que, nesses casos, a população tem que acionar o Corpo de Bombeiros ou Defesa Civil do Estado. Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelo Samu, não retornou o contato.

IG

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