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Condições sociais agravam saúde da mulher negra no Brasil

A saúde da mulher negra no Brasil depende de fatores que vão além das condições de atendimento em hospitais e oferta de médicos. Os fatores sociais a que os

Condições sociais agravam saúde da mulher negra no Brasil
Condições sociais agravam saúde da mulher negra no Brasil

Redação Publicado em 20/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 20h42


Debate foi promovido pela Câmara dos Deputados

A saúde da mulher negra no Brasil depende de fatores que vão além das condições de atendimento em hospitais e oferta de médicos. Os fatores sociais a que os negros são expostos diariamente são fundamentais para entender a maior vulnerabilidade dessa parcela da sociedade. Essa foi uma das conclusões apresentadas no debate promovido hoje (20) pela Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados.Condições sociais agravam saúde da mulher negra no BrasilCondições sociais agravam saúde da mulher negra no Brasil

“Saúde tem a ver com moradia, saneamento básico, com emprego, com renda, com acesso à educação, à cultura e a políticas de lazer. Saúde é muito mais do que o corpo estar funcionando”, disse psicóloga especialista em saúde coletiva e atenção primária pela Faculdade de Medicina da USP, Luana Alves.

Luana também apresentou dados que mostram que a saúde mental das populações negras no Brasil está mais comprometida do que a de pessoas não negras. Os fatores são vários, e isso influencia diretamente nos aspectos físicos. “A gente vê as mulheres negras como grandes vítimas de depressão, adoecimentos afetivos, ansiedades, insônias, de todo tipo de adoecimento que tem a ver como nosso bem-estar”.

Segundo a psicóloga especialista em saúde coletiva, a diabetes atinge 50% a mais as mulheres negras do que as brancas e causa problemas muito antes do que em brancas. “Isso não tem a ver com uma predisposição natural do nosso corpo. São condições de vida, de alimentação, moradia, psíquicas. Tudo isso leva aos nossos indicadores de saúde serem muito piores”.

O debate sobre saúde da mulher negra na pandemia foi mediado pela deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ). Ela defendeu o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), para muitos a única forma de cuidar da saúde. “É fundamental defender o SUS. É o modelo no qual o mundo se espelha. Quando a gente congela investimentos no SUS, a gente precariza o trabalho e dificulta o acesso a esse serviço, que é usado na maioria pela população negra”.

Covid-19 e a população negra

A coordenadora do Observatório da Saúde da População Negra (Popnegra) do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Marjorie Chaves, considerou “emblemático” a primeira morte por covid-19 no Rio de Janeiro ter sido uma empregada doméstica, cuja patroa havia contraído o vírus em uma viagem à Europa.

A deputada e mediadora do debate acrescentou que o vírus “não é democrático”. “A covid encontra corpos que estão circulando nas cidades e vivenciando muita desigualdade. Vai ter gente que não terá acesso à prevenção, possibilidades de distanciamento social e, caso adoeça, vai chegar em um hospital lotado, sem respiradores. Infelizmente, a maior crise sanitária da história recente escracha uma desigualdade racial histórica e a aprofunda”.

Marjorie chamou atenção para a descontinuidade da Política Nacional de Saúde da População Negra. A política havia sido idealizada em 2006 com participação da sociedade civil, mas perdeu força a partir de 2017, com o desmembramento de comitês técnicos nos estados e nos municípios. “Hoje, a gente não tem notícia de como estão esses comitês. Eles foram enfraquecidos, desmembrados e isso é muito perigoso para pensarmos uma discussão democrática sobre saúde”.

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AGENCIA BRASIL

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