Seis meses após a aprovação da regra que pretende limitar o número de demissões de treinadores no Campeonato Brasileiro, 62% dos clubes das Séries A e B já
Redação Publicado em 24/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h11
Seis meses após a aprovação da regra que pretende limitar o número de demissões de treinadores no Campeonato Brasileiro, 62% dos clubes das Séries A e B já realizaram trocas no comando técnico. Para burlar a norma, as diretorias têm costurado acordos com os profissionais para não perder o direito de contratar um substituto.
Desde o início das Séries A e B, os clubes mudaram de técnico 31 vezes: 12 trocas foram feitas com a justificativa de “comum acordo”, sete divulgadas como pedidos de demissão e 11 como decisões dos clubes.
Em agosto, o Bahia anunciou a saída do técnico Dado Cavalcanti, mas não esclareceu se o profissional foi demitido ou se houve acordo. A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação do clube, que manteve a decisão de não informar.
De acordo com a nova regra, cada clube pode realizar uma demissão de técnico durante a competição, enquanto o treinador tem direito a pedir demissão uma única vez. Se solicitar um segundo desligamento, o profissional fica proibido de assumir outra equipe na mesma divisão. Ou seja, o “comum acordo”, uma decisão conjunta das partes, não entra na norma.
Um exemplo claro disso aconteceu na última quarta-feira. O Náutico anunciou a saída do técnico Marcelo Chamusca após seis jogos à frente do time na Série B. Segundo o treinador, a rescisão de contrato foi em comum acordo.
– Trabalhei em dois clubes desde que a proposta foi aprovada. No Botafogo fui demitido, e o clube tem cumprido o que acertamos. No Náutico demonstrei à diretoria a intenção de não permanecer, o clube aceitou, e chegamos a um acordo – disse Chamusca.
A situação do Náutico, aliás, é curiosa. Hélio dos Anjos pediu demissão, foi substituído por Chamusca e na quinta-feira à noite acertou o retorno ao clube pernambucano. Um mês se passou entre a saída e a volta ao Timbu.
TROCAS EM COMUM ACORDO
Treinador | Clube |
Bruno Pivetti | CSA |
Cláudio Tencati | Brasil de Pelotas |
Jerson Testoni | Brusque |
Marcelo Chamusca | Náutico |
Ney Franco | CSA |
Pintado | Goiás |
Roberto Fonseca | Londrina |
Rodrigo Chagas | Vitória |
Rodrigo Santana | Confiança |
Tiago Nunes | Grêmio |
Umberto Louzer | Sport |
Wagner Lopes | Vila Nova |
Alguns rompimentos, porém, não foram tão simples. Em julho, o técnico Felipe Conceição acionou a Câmara Nacional de Resoluções e Disputas (CNRD) questionando a declaração no termo de rescisão de contrato com o Cruzeiro, que afirmava que a rescisão havia sido em comum acordo.
Em entrevista ao ge, o treinador optou por não falar sobre o imbróglio com o clube mineiro por orientação do advogado, mas disse respeitar a opção dos técnicos. Felipe elogiou a intenção da proposta de tentar garantir estabilidade aos profissionais.
– A lei permite o acordo, então é direito do trabalhador aceitar ou não. A regra tenta mudar a nossa cultura de troca de treinador a cada três derrotas, mas não é tão simples. Precisamos compreender melhor os processos do jogo para construir trabalhos de médio a longo prazo. É responsabilidade nossa, mas também dos dirigentes, torcida e imprensa. A regra permite o acordo, então não condeno os profissionais. Mas ela poderia contribuir bastante para a melhoria do nosso futebol – disse Conceição, agora no comando do Remo.
Após início ruim na Série A do Campeonato Brasileiro, o técnico Lisca solicitou desligamento no América-MG. No mês seguinte, o treinador aceitou o convite do Vasco para substituir Marcelo Cabo, demitido pelo cruzmaltino, na Série B. Mas, em setembro, ele pediu demissão após derrota para o Avaí, em Florianópolis. Como as duas saídas foram solicitadas em clubes de divisões diferentes, o profissional segue liberado para trabalhar em ambas.
Presidente da Federação Brasileira de Treinadores de Futebol, o ex-jogador Zé Mario lamentou a situação e afirmou que a classe deve se posicionar contra medidas que buscam driblar a cláusula que limita as trocas.
– Estamos orientando os técnicos para que analisem bem os termos de rescisão. Sabemos de alguns que afirmaram ter saído por vontade própria na verdade foram demitidos. Isso não pode acontecer. Brigamos tanto tempo para dificultar as demissões. O treinador que aceita está indo contra a própria classe – afirmou.
Dos 40 técnicos que começaram a competição empregados em times da elite e da Segunda Divisão, somente 15 permanecem no cargo. Na Série A são oito:Eduardo Barroca (Atlético-GO), Cuca (Atlético-MG), Maurício Barbieri (Bragantino), Vojvoda (Fortaleza), Marquinhos Santos (Juventude), Abel Ferreira (Palmeiras), Crespo (São Paulo) e Sylvinho (Corinthians).
Na Série B são sete: Claudinei Oliveira (Avaí), Gustavo Morínigo (Coritiba), Allan All (CRB), Daniel Paulista (Guarani), Matheus Costa (Operário), Gilson Kleina (Ponte Preta) e Felipe Surian (Sampaio Corrêa).
Procurada pela reportagem, a CBF disse respeitar a alegação de cada clube.
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Globo Esporte
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