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Como estão as investigações das mortes, agressões e ameaças ocorridas durante as eleições de 2018

Além de Moa do Katendê, assassinado após uma discussão sobre política em Salvador, outras duas pessoas morreram em situações relacionadas às eleições de 2018,

Como estão as investigações das mortes, agressões e ameaças ocorridas durante as eleições de 2018
Como estão as investigações das mortes, agressões e ameaças ocorridas durante as eleições de 2018

Redação Publicado em 05/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 13h03


Foram registradas 3 mortes em situações relacionadas às eleições, além de um atentado, 12 agressões e mais 3 ameaças desde 16 de agosto, quando começou a campanha eleitoral.

Além de Moa do Katendê, assassinado após uma discussão sobre política em Salvador, outras duas pessoas morreram em situações relacionadas às eleições de 2018, desde o início da campanha, em 16 de agosto.

Em Fortaleza, um homem de 23 anos foi baleado durante um ato de campanha de Fernando Haddad (PT), na véspera do 2º turno. O autor ainda não foi identificado, e as autoridades não esclareceram se o crime teve motivação política, como no caso de Moa, ou não.

No interior de São Paulo, uma menina de 7 anos morreu durante a comemoração da vitória do presidente eleito. Ela estava em uma caçamba de um caminhão e foi atingida por uma máquina de construção civil que era transportada pelo veículo.

Além das mortes, relatos de agressões – algumas mais, outras menos graves – resultaram em 12 registros de ocorrência nas polícias civil ou militar. São casos em que as vítimas dizem ter sido atingidas por conta de questões políticas, após confusões entre militantes. Ou, ainda, durante as comemorações da vitória do candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

Entre esses casos, estão 4 ataques de eleitores a funcionários da Justiça Eleitoral durante as votações.

Houve ainda a tentativa de homicídio de Bolsonaro por Adélio Bispo de Oliveira, em 6 de setembro, em Juiz de Fora (MG), registrado como atentado pessoal por inconformismo político.

Também foram registrados ao menos 3 casos de ameaças virtuais que resultaram em investigações.

Em São Paulo, um universitário apareceu em um vídeo indo votar com uma camiseta de Bolsonaro e ameaçando matar negros. Ele foi indiciado por crime racial e pediu desculpas.

No Rio Grande do Norte, supostos eleitores de Bolsonaro relataram em um grupo de WhatsApp crimes cometidos e que iriam cometer contra petistas. Em Goiás, uma pessoa prometeu, em comentário numa rede social durante uma transmissão ao vivo sobre a vitória de Bolsonaro, exterminar gays.

Veja, abaixo, detalhes sobre todos os casos:

Mortes

  • Na madrugada de 8 de outubro, Moa do Katendê, 63 anos foi esfaqueado e morto em Salvador depois de dizer ser contra o candidato Jair Bolsonaro. Paulo Sérgio Ferreira de Santana, 36 anos, que foi preso em flagrante, é acusado de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima. Até o momento, foi o único caso em que o inquérito concluiu motivação político-partidária. A defesa do acusado ainda não se pronunciou.
  • Em Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza, Charlione Lessa Albuquerque, de 23 anos foi morto a tiros em 27 de outubro, véspera do 2º turno, ao acompanhar uma carreata de apoiadores de Haddad. O autor se aproximou em um carro branco, disparou e fugiu do local. Ele ainda não foi identificado pela polícia, que não definiu se o crime teve motivação político-partidária.
  • Em Valinhos, interior de São Paulo, a polícia investiga quem foi responsável pela morte de Maria Eduarda Pontes Batista, de 7 anos, durante a comemoração da vitória de Bolsonaro, em 29 de outubro. O caso foi registrado como morte suspeita, mas, segundo a polícia, pode ser reclassificado para homicídio culposo, quando o autor não tem intenção de matar. Maria estava dentro de uma caçamba de caminhão, junto com um adolescente e um adulto, que participava de uma carreata. Após uma freada brusca, a máquina de construção civil que estava dentro do veículo atingiu os três.

Atentado

  • Em 6 de setembro, Bolsonaro foi atingido por uma facada durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). O presidenciável teve de passar por duas cirurgias e ficou internado até 29 de setembro. Adélio Bispo de Oliveira, autor do crime, foi denunciado e virou réu por prática de atentado pessoal por inconformismo político, crime previsto na Lei de Segurança Nacional.

Agressões

  • Felipe Velloso, professor de história, levou uma garrafada no rosto, em 28 de outubro, na Praça São Salvador, tradicional reduto de eleitores da esquerda carioca, ao tentar filmar uma confusão com apoiadores de Bolsonaro. “Eu estava com uma blusa vermelha, estava com adesivo do Haddad e uma blusa com a cara do Marx. Então eu era um alvo”, disse. O caso está sendo investigado como lesão corporal. A polícia não informou se os autores foram identificados.
  • Outro homem foi agredido dentro de um restaurante em Copacabana porque, segundo ele, estava usando um adesivo do PT. O caso também está sendo tratado como lesão corporal e o autor ainda não foi identificado.
  • Em Curitiba, uma bomba foi atirada contra um ato de campanha do candidato do PT ao governo do Paraná, Dr. Rosinha, em 13 de setembro. Ninguém se feriu. A Polícia Federal abriu inquérito para investigar tentativa de perturbar e impedir propaganda eleitoral. O caso ainda não foi concluído.
  • Também no Paraná, um rapaz ficou ferido na UFPR depois de uma briga que, segundo o Diretório Central dos Estudantes da instituição, teve motivação política. A PM disse que torcedores do Coritiba, uniformizados com a camiseta do clube, agrediram o jovem com uma garrafada, chutes e pontapés, mas não disse se o caso tinha relação com a política ou não. O G1 procurou a polícia e o estudante, nesta semana, mas não obteve retorno.
  • Em Roraima, Hélio Angelo Baldi, de 75 anos, foi agredido ao tentar defender os filhos, que vendiam camisetas de Bolsonaro no dia da eleição. “Aí, um cara, que deu o soco, conseguiu acertar um soco no meu nariz e o sangue começou a escorrer. Eu não senti na hora, mas eu levei uma paulada que deformou o meu nariz e parte da face e mais uma parte do queixo”, contou. Os agressores seriam correligionários do candidato Anchieta Junior, do PSDB. Em nota, o partido afirmou que seus apoiadores estavam filmando a venda de camisetas, o que pode ser considerado crime eleitoral, quando foram agredidos pelos apoiadores de Bolsonaro. A Polícia Federal diz que foi feita uma ocorrência por conta da venda de camisetas, que não poderia estar ocorrendo. Hélio diz que os filhos tinham autorização verbal de funcionários da Justiça Eleitoral.
  • Na Bahia, uma jovem foi ferida na cabeça após confusão entre militantes do PT e PMs, em 28 de outubro, dia do 2º turno. O advogado da vítima diz que não houve motivação política, e sim “ação desmedida da polícia”. A jovem, segundo ele, tentou intervir em uma abordagem agressiva dos policiais contra um jovem negro, e acabou ferida por eles. A PM diz que a confusão quando pessoas que comemoravam a vitória de Bolsonaro passaram pela região onde estavam os militantes do PT e que os agentes atuaram para evitar brigas generalizadas, foram agredidos e usaram força proporcional. Os inquéritos abertos na Polícia Civil e na corregedoria da PM não foram concluídos.
  • Também na Bahia, quatro pessoas ficaram feridas após o soldado da PM Manoel Landulfo Sampaio disparar após discutir com um ambulante durante comemoração pela eleição de Bolsonaro, em 28 de outubro. A defesa alega que alguém tentou pegar a arma do soldado, e que ela disparou acidentalmente. Sampaio foi preso em flagrante, e depois a Justiça converteu para prisão preventiva. Os inquéritos da polícia e da corregedoria da PM também não foram concluídos.
  • Em Campina Grande, na Paraíba, um casal foi preso durante comemoração da vitória de Bolsonaro. O homem atirou duas vezes para o alto e a companheira, na tentativa de impedir a prisão dele, agrediu policiais. A polícia não prestou mais informações sobre o caso.

Agressões durante o voto

  • Gustavo Siqueira, voluntário do TRE de Goiás, levou um chute ao tentar impedir que um homem permitisse que o filho de 12 anos digitasse os números na urna. Foi instaurado um Termo Circunstanciado de Ocorrência, mas o agressor ainda não foi ouvido pela polícia. A motivação não foi determinada.
  • Um policial militar da reserva começou a filmar seu voto no Pará, alegando que a urna estava fraudada, e quando foi advertido pela mesária, a agrediu. Ele queria votar no número 17, mas nenhum candidato ao governo tinha esse número. Patrícia Susy Santos registrou boletim de ocorrência. O inquérito está aberto, e o caso foi tipificado como crime eleitoral por “promover desordem que prejudique os trabalhos eleitorais”.
  • Em Palmas, um homem se recusou a mostrar documento para mesário, foi advertido e, com a confusão, rasgou a roupa dele. Após assinar o TCO, o agressor foi liberado. O termo foi enviado para análise da Justiça Eleitoral.
  • Em Cuiabá, um homem invadiu uma escola e agrediu policiais militares e um mesário, logo após o encerramento da votação. Ele foi detido por desacato. A polícia não deu mais informações sobre o caso.

Ameaças virtuais

  • A Polícia Civil e o Ministério Público Eleitoral do Rio Grande do Norte estão apurando a origem e a veracidade de mensagens de um suposto grupo de WhatsApp intitulado “Opressores RN 17”, com ameaças feitas por eleitores de Jair Bolsonaro (PSL). Nos textos há ameaças de estupro, morte e outros tipos de violência. O Ministério Público Eleitoral instaurou um procedimento para analisar as denúncias e disse que, dependendo das investigações, o caso poderá ser tratado como crime eleitoral ou propaganda falsa. A Polícia Civil também investiga o caso.
  • Logo depois do anúncio do resultado da eleição, uma mensagem ameaçando gays de extermínio foi postada durante uma transmissão ao vivo no Facebook que falava sobre a vitória do candidato do PSL. O texto dizia: “Grupos de extermínio dos gays no Goiás. Vamos juntos lutar pela família brasileira e por fim nesses filhos do demônio. A favor da família tradicional. Gay bom é [gay] morto, junte-se a nós”. O perfil, que foi apagado logo depois, tinha o nome de uma mulher. A suposta dona do perfil se apresentou espontaneamente à Polícia Civil para prestar depoimento, alegando que pegaram a foto e o nome dela para criar um perfil falso. O Ministério Público de Goiás recebeu denúncias de nove pessoas que se sentiram ameaçadas pela mensagem. O MP-GO e a OAB-GO acompanham a ocorrência, e a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos (Dercc) investiga e apura o caso.
  • O universitário Pedro Bellintani Baleotti, de 25 anos, foi indiciado por crime racial após aparecer em um vídeo vestido com uma camiseta de Bolsonaro dizendo que estava indo votar armado “louco pra ver um vadio vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo”. Ao ver duas pessoas em uma moto, completa: “ó, tá vendo essa negraiada (apontando a câmera para uma moto ocupada por duas pessoas), vai morrer, vai morrer, é capitão, caralho!” Após a repercussão do caso, o estudante disse que não é “racista, nem preconceituoso, muito menos violento” e pediu perdão.
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