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Comida que abraça

Por Fernanda Trigueiro*

Fernanda Trigueiro
Fernanda Trigueiro

Redação Publicado em 25/03/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h38


Por Fernanda Trigueiro*

Comida que abraça

O abraço acolhe, aquece e aproxima. Une dois corações e expressa o que palavras não dizem. Abraço é amor e ser abraçado é uma das melhores sensações do mundo. Mas tem um tipo especial que vai além do “entrelaçar” dos braços. Um tipo que, literalmente, caiu no gosto das pessoas: a comida que abraça. 

Comida que abraça é aquela que só de provar remete a experiências nostálgicas. Vem à tona memórias agradáveis e pessoas. É como comida de avó. Eu mesma lembro da minha vózinha e sinto cheiro de panela no fogo e bolo no forno. A vovó me ligava para perguntar o que eu estava com vontade. Eu pedia rocambole de brigadeiro, brigadeiro de colher, um doce de leite que só ela sabia fazer e o tradicional lanche de carne louca da festa de Santo Antônio… hummm… que delícia! Não sei se ela usava algum tempero diferente. Mas era e ainda é único. 

A vovó sempre queria que a gente comesse mais. Acabávamos e num piscar de olhos ela servia mais comida. Uma mania que sempre causava discussão durante as refeições e ela ficava chateada se não limpássemos o prato! No fim, mesmo satisfeitos, tínhamos que comer. 

Dar de comer e preparar algo para o outro são gestos de cuidado, proteção e amor. Nos conectamos com quem dividimos a refeição. Seja a família, amigos ou um pretendente. Sentar à mesa nos dá a oportunidade de conversar, ouvir e trocar ideias. O mundo continua girando, mas para quem desfruta daquele momento é como se o relógio estivesse parado. Enchemos a barriga e o coração. 

Um bolinho caseiro, uma torta, uma pizza, arroz de forno, um simples café… comida é afeto. Peço desculpas pelo trocadilho, mas se tem forma mais gostosa de demonstrar carinho, eu desconheço. Ganhar um presente seja lá qual for é bom. Mas ganhar comida é tão ou até mais gratificante. Não precisa ser taurino pra saber disso. Ser lembrado apenas porque alguém viu seu chocolate preferido ou preparou um prato que você gosta não tem preço. 

E marmita? Tem coisa melhor que a comidinha requentada da casa da mãe? Em pote de margarina ou qualquer outro potinho, é só abrir que o rango está pronto. Mas, não pode esquecer de devolver o bendito. Toda mãe fica doida com os tupperwares ou vasilhas que somem. Imagina correr o risco de ficar sem a marmita da próxima semana… 

Ao comer não alimentamos apenas o corpo, mas também a alma. Por isso, não quebre a cabeça quando quiser demonstrar os mais puros sentimentos. Comida é afeto. E esta mistura é como arroz com feijão e café com leite. O trivial. Simples e sem erro como o amor deve ser.

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*Fernanda Trigueiro é uma jornalista apaixonada por pessoas e suas histórias.
Repórter de TV por opção, mas uma escritora por vocação. Vê a notícia além da manchete e dos números.
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