Diário de São Paulo
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Com R$ 550 milhões em dívidas e arrecadação muito prejudicada até o 3º trimestre de 2020, Santos sofre fora de campo

Andrés Rueda, novo presidente do Santos, chegou ao cargo com o discurso de que não concorda com a política de vender jovens talentos. Não antes de eles

550 milhões em dívidas e arrecadação
550 milhões em dívidas e arrecadação

Redação Publicado em 30/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 20h09


Andrés Rueda, novo presidente alvinegro, pretende diminuir a dependência das vendas de jogadores. Ele tem uma dívida de curto prazo descontrolada e contas no vermelho para resolver

Andrés Rueda, novo presidente do Santos, chegou ao cargo com o discurso de que não concorda com a política de vender jovens talentos. Não antes de eles jogarem pelo time profissional.

Não será fácil chegar a esse ideal. O balancete mais recente do clube, referente ao terceiro trimestre de 2020, aponta enormes dificuldades na arrecadação – sobretudo além das vendas de atletas.

Neste texto, o ge segue com a minissérie sobre as finanças dos clubes de futebol nacionais. Desta vez, com base nos números contidos em balancetes que mostram visão parcial até setembro deste ano.

Receitas

Os números desse balancete são muito mais José Carlos Peres do que Orlando Rollo, uma vez que o interino assumiu só nos últimos dias de setembro. Importante fazer a distinção antes de começar.

Na arrecadação, o Santos sente o impacto justamente de não contabilizar uma venda como a de Rodrygo para o Real Madrid. Entre janeiro e setembro de 2020, o faturamento caiu abaixo da metade do que havia sido registrado no mesmo período do ano anterior.

Santosset/19set/20Variação
Televisão6866-2
Marketing e comecial1317+4
Bilheterias e estádio122-10
Associados770
Atletas20428-176
Outros68+2
Receitas309127-182

Vários fatores explicam a redução, e o principal deles é a venda de jogadores. O valor contabilizado em 2020 está muito distante daquele, extraordinário, que havia sido alcançado na temporada passada.

No mais, a fragilidade de outras frentes de arrecadação atrapalha. Em alguns casos, como o das bilheterias, a diretoria alvinegra não tinha o que fazer. A pandemia do coronavírus acabou com o público nas arquibancadas e praticamente zerou essa linha em todos os clubes.

Em outros casos, o Santos conseguiu melhorar sua performance. Como na área comercial, que soma patrocínios e licenciamentos, na qual houve até um aumento nos nove meses deste ano.

Receitas com associados estão no mesmo patamar. Loterias, em “outros”, também. Bom que não caíram no contexto da pandemia, ruim que não são grande suficientes para compensar a queda nos atletas.

O desafio santista – já há muitos anos, diga-se de passagem – é exatamente o que sonha Rueda: que os jogadores oriundos da base possam ficar mais tempo com a camisa preta e branca. Para chegar lá, outras linhas de receita precisam crescer substancialmente.

Despesas

Caíram as receitas, os gastos também foram reduzidos. Não na quantidade necessária para que as contas fechassem, no entanto.

Quando comparados os nove meses de 2020 com os de 2019, há uma diminuição de R$ 38 milhões entre os dois períodos.

Santosset/19set/20Variação
Folha salarial131109-22
Demais despesas do futebol3721-16
Despesas administrativas19190
Despesas187149-38

No futebol, a folha salarial foi razoavelmente reduzida. Ela contém salários, encargos trabalhistas, direitos de imagem e de arena. Ou seja, tudo o que está diretamente ligado à remuneração dos jogadores, da comissão técnica e de outros profissionais do futebol.

Demais gastos, como transportes e hospedagens, também foram baixados. Era natural que eles caíssem na pandemia. Sem partidas para jogar por vários meses, não houve avião nem hotel para pagar.

Nas despesas administrativas, por fim, o valor foi mantido no mesmo patamar. Que não é alto. Aí estão contidos funcionários de outras áreas, manutenção, energia elétrica, água, materiais, serviços etc.

Passa a régua. O quadro abaixo mostra o resultado líquido até o terceiro trimestre. Reversão do custo de formação, amortização e depreciação são itens com pouco valor prático, pois não representam desembolso de dinheiro, mas precisam estar ali por questões contábeis.

Santosset/19set/20Variação
Receitas309127-182
Despesas-187-14939
Reversão do custo de formação65-1
Amortização de atletas-26-25+1
Depreciação-1-10
Resultado financeiro-29-17+12
Resultado líquido72-60-132

Com ou sem as explicações sobre pormenores contábeis, fato é que as contas não fecharam. Faltou dinheiro para pagar os gastos do cotidiano. E a consequência não teria como ser muito diferente: dívidas novas.

Dívidas

O endividamento santista está em disparada. Se em dezembro de 2018 o Santos devia por volta dos R$ 340 milhões – e a situação já não era fácil –, após os investimentos exigidos por Sampaoli em 2019 e os efeitos da pandemia em 2020, hoje o clube bateu R$ 550 milhões pendurados.

Ao distinguir as dívidas de acordo com o vencimento, encontramos um dado preocupante. Metade do que o Santos devia ao término de setembro era correspondente ao curto prazo. Dito de outra maneira, para ficar claro: havia R$ 277 milhões a pagar até setembro de 2021.

Como é possível pagar R$ 277 milhões em menos de um ano se as contas nem sequer fecham no azul? Mesmo que o Santos pegasse tudo o que arrecada e usasse apenas para honrar esses compromissos, hipótese bizarra, não conseguiria cumprir os acordos nos prazos.

Não é possível. E aí está mais um problema para Rueda executar o plano de não vender jogadores. Sem se desfazer de atletas vindos da base, os mais valiosos no mercado europeu, é praticamente impossível arcar com as despesas do cotidiano e ainda dívidas de curto prazo.

Existem boas notícias. A dívida do Santos com bancos foi reduzida entre dezembro do ano passado e setembro deste. R$ 16 milhões a menos, especificamente. Esse tipo de evolução ajuda porque libera crédito, destrava receitas, enfim, alivia a pressão sobre o financeiro.

Mas as más notícias sobressaem. Em “contas a pagar”, no quadro abaixo, estão direitos de jogadores adquiridos recentemente. Como muitos estavam vinculados a moedas estrangeiras, essas dívidas dispararam com a desvalorização do real. Fora salários, impostos e tudo mais.

A ideia de montar uma operação menos dependente da venda de jogadores é ótima. Andrés Rueda, novo presidente, está certo em persegui-la. Os obstáculos para chegar lá são muitos, porém.

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GE – Globo Esporte.

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