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Com planos de voltar, venezuelanos deixam Roraima levando comida e remédios em repatriação de Maduro

"Eu vou agora, mas irei voltar assim que possível", disse Marisol Lopez, 38, pouco antes de embarcar em ônibus com destino a Venezuela. Há 9 meses em Boa

Com planos de voltar, venezuelanos deixam Roraima levando comida e remédios em repatriação de Maduro
Com planos de voltar, venezuelanos deixam Roraima levando comida e remédios em repatriação de Maduro

Redação Publicado em 27/09/2018, às 00h00 - Atualizado às 14h37


Dois ônibus com mais de 100 imigrantes saíram de Boa Vista com destino a Venezuela na manhã desta quinta-feira (27). Viagem faz parte do plano de ‘Volta à Pátria’ do governo de Nicolás Maduro.

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“Eu vou agora, mas irei voltar assim que possível”, disse Marisol Lopez, 38, pouco antes de embarcar em ônibus com destino a Venezuela. Há 9 meses em Boa Vista, ela aderiu ao programa de “Volta à Pátria” de Nicolás Maduro, e, junto com outros 116 imigrantes, deixou o Brasil na manhã desta quinta-feira (27).

Levando comida e remédios, itens escassos no país, Marisol viajou à cidade natal de Barcelona, estado Anzoátegui, na costa Leste do país, para cuidar de uma filha que está doente.

“O dinheiro que tinha usei para comprar comida e remédios que levo agora para casa”, explicou a venezuelana, que trabalha fazendo bicos como empregada doméstica e mora de aluguel.

Marisol Lopez, 38, e a filha de 8 anos embarcaram de volta a Barcelona, na Costa Leste da Venezuela — Foto: Emily Costa/G1 RR

Marisol Lopez, 38, e a filha de 8 anos embarcaram de volta a Barcelona, na Costa Leste da Venezuela — Foto: Emily Costa/G1 RR

Ela viajou com uma filha de oito anos e deixou outros dois em Boa Vista. No embarque, já fazia planos para a volta.

“Minha meta é morar no Brasil junto com meus seis filhos, porque na Venezuela não há como viver”.

Dois ônibus fretados por empresários venezuelanos saíram da frente da Rodoviária Internacional da capital às 9h40 (hora local) levando os imigrantes.

Os veículos seguem até Pacaraima, na fronteira, e de lá os venezuelanos embarcam em outros ônibus oferecidos pelo governo Maduro.

Desacompanhada no Brasil, venezuelana de 17 anos também embarcou de volta ao país natal: 'levo comida para sete pessoas da minha família' — Foto: Emily Costa/G1 RR

Desacompanhada no Brasil, venezuelana de 17 anos também embarcou de volta ao país natal: ‘levo comida para sete pessoas da minha família’ — Foto: Emily Costa/G1 RR

O governo de Roraima, que há uma semana fez um acordo em Caracas para ajudar nas repatriações, não participou desta ação.

“Não somos do governo venezuelano e nem brasileiro. Somos empresários e cristãos que fretamos os ônibus para ajudar os imigrantes que estão aqui, em um país estranho, vivendo na rua e querendo voltar a Venezuela. Para ir só é preciso apresentar a cédula de identidade venezuelana”, disse Eric Gana, que coordenou a ida dos imigrantes.

Ele disse que a partir da fronteira, a 215 KM de Boa Vista, os venezuelanos são levados pelo programa “Volta à Pátria”, plano criado por Maduro para apoiar venezuelanos que queiram voltar à terra natal. Na quarta (26) outro ônibus levou 35 imigrantes de volta ao país.

“Já se foram mais de 2 mil venezuelanos por esse programa só aqui em Roraima”, afirmou Eric, se referindo a repatriações já feitas em Boa Vista e em Pacaraima. Entre as ações, segundo ele, está a ida de 1,2 mil venezuelanos expulsos de Pacaraima após protesto de moradores em 18 de agosto.

Desempregado, um ex-trabalhador da empresa venezuelana PDVSA de 43 anos também decidiu voltar para casa. Ele levou pacotes de arroz, açúcar e pães para dividir com os três filhos que vai encontrar em Puerto La Cruz.

Levando comida e remédios, venezuelanos fazem fila para embarcar em ônibus com destino ao país natal  — Foto: Emily Costa/G1 RR

Levando comida e remédios, venezuelanos fazem fila para embarcar em ônibus com destino ao país natal — Foto: Emily Costa/G1 RR

“Aqui não consegui trabalho, e nem um lugar para morar, estava na rua”, disse, afirmando que não faz planos de voltar para o Brasil. “Aqui tem comida, mas não emprego”.

Andres Perez, 61, saiu do abrigo para refugiados Jardim Floresta (um dos 10 que existem em Roraima) para pegar o ônibus e voltar temporariamente a Venezuela. A ideia dele é regressar ao Brasil asssim que possível.

“Quero ir visitar minha mãe que está com câncer e voltar em no máximo 15 dias. Estou recomeçando a vida no Brasil. Já tenho filhos e netos aqui”, disse Perez, que está há mais de 1 ano em Roraima.

Andres Perez, 61, irá a Venezuela para visitar a mãe, que está doente — Foto: Emily Costa/G1 RR

Andres Perez, 61, irá a Venezuela para visitar a mãe, que está doente — Foto: Emily Costa/G1 RR

Por dia, ao menos 500 venezuelanos cruzam legalmente a fronteira do Brasil em fuga, principalmente, da escassez de comida e remédios vivida no regime de Maduro.

Desde 2015, Roraima recebe um número crescente de venezuelanos. Em três anos e meio já são mais de 75 mil pedidos de refúgio ou residência temporária só no estado.

Com a chegada de milhares de venezuelanos, 10 abrigos públicos foram abertos em Boa Vista e na fronteira com capacidade para 5 mil pessoas, e o governo federal tem ofertados voos de para levar refugiados a outros estados do país.

Apesar disso, ainda é comum ver venezuelanos vivendo em acampamentos precários e improvisados pelas ruas de Boa Vista.

“Eu não volto, porque na Venezuela a situação é muito pior que aqui”, disparou Abraham Precilla, 32, ao ver venezuelanos embarcarem nos ônibus com destino ao país natal. “O que quero é ter um emprego e trazer minha família para cá”.

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