Diário de São Paulo
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Com estádios e obras quase no fim, Catar vê Covid e direitos trabalhistas como desafios a um ano da Copa

Na véspera da cerimônia da contagem regressiva de um ano para a Copa de 2022, o homem forte à frente da organização do Mundial do Catar recebeu a reportagem

Com estádios e obras quase no fim, Catar vê Covid e direitos trabalhistas como desafios a um ano da Copa
Com estádios e obras quase no fim, Catar vê Covid e direitos trabalhistas como desafios a um ano da Copa

Redação Publicado em 22/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h39


Na véspera da cerimônia da contagem regressiva de um ano para a Copa de 2022, o homem forte à frente da organização do Mundial do Catar recebeu a reportagem do ge em um clube de padel, esporte que lembra o tênis e é muito popular no país. Vestido com a camisa 11 de Akram Afif, o craque da seleção anfitriã, Nasser Al Khater parecia um frequentador anônimo do Padel In, complexo esportivo da capital Doha, e não o diretor do comitê organizador da Copa.

Dedicar a manhã de sábado à prática esportiva é um privilégio de quem está com o dever de casa quase todo feito: o Catar já tem sete dos oito estádios da Copa prontos, e o oitavo a poucas semanas de ser concluído, além das obras de infraestrutura muito avançadas. Mas o ano que falta para o início da Copa não será só de tranquilidade.

Além de acelerar as obras espalhadas por toda a capital – principalmente construção de hotéis, urbanização e melhorias no tráfego -, Nasser tem ainda algumas arestas a aparar. Uma delas, global: o efeito da Covid-19 na primeira Copa pós-pandemia. A outra, local: desde que foi escolhido como sede da Copa de 2022, o Catar é alvo constante de críticas pela situação dos trabalhadores dos estádios e das obras de infraestrutura.

Trabalhadores em uma das muitas obras espalhadas por Doha — Foto: Allan Caldas
Trabalhadores em uma das muitas obras espalhadas por Doha — Foto: Allan Caldas

– Nós vimos que, por causa da Copa do Mundo, sim, nós tivemos muita fiscalização por parte da mídia internacional, mas isso já estava planejado e nós vimos que a Copa do Mundo acelerou todas essas reformas – declarou.

Em relação à Covid-19, Nasser não tem uma resposta definitiva. Tudo vai depender de como estará o controle da pandemia daqui a um ano. E o dirigente não descarta medidas restritivas para os torcedores que quiserem ir à Copa, como exigência de um exame negativo para entrar no país e testagem constante durante a permanência.

– Há muitos países classificados para a Copa, eles têm muitos torcedores, e é muito importante para nós que esses países realmente mantenham seus números de Covid sob controle para que eles possam vir para a Copa do Mundo. A testagem vai ser a chave, testes na chegada, testes depois de alguns dias. Acho que é uma coisa com que todos podem lidar, se querem vir para uma Copa do Mundo, seguir suas seleções, e acho que se eles tiverem que fazer testes a cada dois ou três dias, vão fazer – afirmou ele.

O Catar vai sediar a primeira Copa no Oriente Médio, a primeira realizada no fim do ano, pela primeira vez toda disputada em uma mesma região, sem deslocamentos dos times e das torcidas. Antes mesmo de começar, esse Mundial já tem um lugar na história, não?

– Acho que a Copa de 2022 é especial por muitas razões, primeiro por ser a primeira no Oriente Médio, e eu sinto que nós estamos representando a região com esse Mundial. Claro que o tamanho do país, a compactação da Copa do Mundo, é um fator muito único. Significa que os torcedores poderão vir para uma só cidade, eles podem ver quantos jogos quiserem, até dois jogos por dia. Ter os torcedores em uma só cidade significa muito em termos de atmosfera, a gente se sente em um carnaval de futebol.

Mas nem tudo é mais fácil quando estão todos na mesma cidade. A logística preocupa?

Claro que há desafios em sediar uma Copa do Mundo em um país tão pequeno, especialmente quando se fala de transporte e gerenciamento de multidão, mas acreditamos que estamos bem. Fizemos um bom planejamento, com seis, sete anos de antecedência, aprendemos muito sobre como gerir tráfego, como gerir multidões.

Essa também será a primeira Copa após a pandemia de Covid-19, ou quem sabe ainda sob efeito dela. Como estão se preparando para isso?

Uma coisa que nós aprendemos muito com a Covid foi como muitas pessoas passaram a trabalhar de casa, e isso deu certo. Temos que tomar isso como um aprendizado e garantir que funcione. Com tanta gente trabalhando de casa, isso diminui o tráfego. Temos muitos planos para garantir que, desse ponto de vista, tudo vai funcionar bem.

O Catar pretende exigir comprovante de vacinação de todos os torcedores na Copa, como faz atualmente com os estrangeiros que vêm para o país?

Nós temos visto que as pessoas estão voltando a viajar pelo mundo, a vacinação está avançando rapidamente, a taxa de vacinados em muitos países está boa. Eu espero ver o mundo acreditando que a Covid estará controlada até lá, mas nós não podemos ficar só esperando para ver como vai ser. Temos muitos planos em andamento, o Estado do Catar tem um planejamento de testes, regimes que teremos que ter frequentemente.

Também estamos considerando a vacinação dos fãs que virão ao país, é algo que ainda precisa ser debatido, se apenas torcedores vacinados poderão vir, isso é algo que vamos discutir com a Fifa, com a organização da Copa. Mas ainda temos alguns meses para entender exatamente o que teremos que fazer.
— Nasser Al Khater, diretor do comitê organizador da Copa

Se a situação da pandemia daqui a um ano, quando começa a Copa, estiver igual ao que é hoje, você considera adequada ou preocupante?

A situação agora eu diria que não é ruim, mas não é a melhor. Há alguns países com uma grande base de torcedores que têm algumas restrições para entrar no nosso país. Alguns desses países precisam de pelo menos dois ou três dias de quarentena (quando chegam ao Catar). Há muitos países classificados para a Copa, eles têm muitos torcedores, e é muito importante para nós que esses países realmente mantenham seus números de Covid sob controle para que eles possam vir para a Copa do Mundo. Eles precisam estar na lista verde, e não na lista vermelha, para que eles possam acessar o país livremente. Como eu disse, a testagem vai ser a chave, testes na chegada, testes depois de alguns dias. Acho que é uma coisa com que todos podem lidar, se querem vir para uma Copa do Mundo, seguir suas seleções, e acho que se eles tiverem que fazer testes a cada dois ou três dias, vão fazer.

O risco dos estádios e das Fan Zones terem a capacidade de público reduzida é uma preocupação para o comitê organizador?

Sim, a Copa do Mundo é feita para o mundo vir assistir, e não apenas ver na TV. A ideia é ter todos os estádios com a capacidade máxima, o mais importante para a gente é que as pessoas de todo o mundo venham para o Catar, que conheçam o país, que conheçam o Oriente Médio, que apreciem comidas que talvez eles provem pela primeira vez na vida, realmente venham se divertir e ver o Catar.

Quantos turistas estrangeiros são esperados durante a Copa do Mundo?

Esperamos que entre um milhão e um milhão e duzentos mil torcedores venham ao Mundial.

Por isso há tantas obras por toda a cidade de Doha?

Nem todas as obras são necessariamente por causa da Copa do Mundo. Muitas delas já estavam planejadas para o desenvolvimento do país. O que importa é que as grandes reformas estejam finalizadas até a Copa. Mas vemos que o metrô já está pronto, a expansão do aeroporto estará completa lá pelo meio de 2022, todas as estradas já estão feitas e o resto das obras estará pronto até a Copa do Mundo.

Como diretor do comitê organizador, você se sente orgulhoso por entregar os estádios prontos com tanta antecedência?

Sim, é algo que nos deixa muito orgulhosos. Faltando 365 dias para a Copa todos os estádios estão completos, todos os centros de treinamento estão completos, toda a infraestrutura necessária para uma Copa do Mundo está completa. Isso nos coloca em uma posição muito boa, porque podemos focar nos planos de operação, na experiência dos torcedores, em tudo que podemos oferecer para eles. Podemos ter um planejamento forte junto às autoridades de turismo. Nós vamos realmente ter uma boa experiência com os torcedores.

Como você acredita que será a relação entre turistas ocidentais e moradores do Catar, já que são culturas bastante diferentes?

Eu fui a três Copas do Mundo até hoje, na África do Sul, Brasil e Rússia. O que eu descobri é que os países sede são geralmente muito receptivos com os torcedores de todo o mundo. Eles realmente querem mostrar o país da melhor maneira possível. E normalmente eu acho que os torcedores respeitam o país, nós não vemos muitos problemas com a torcida, isso foi o que eu vi em geral.

O Catar tem um projeto de desenvolvimento e de projeção internacional, o Visão 2030. Qual é o papel da Copa do Mundo nesse projeto?

O Visão 2030 foi lançado em 2008, e a Copa do Mundo está sendo planejada desde 2010. Isso acelerou o projeto em todos os pontos. Todo o plano principal de infraestrutura está pronto, e foi principalmente por causa da Copa. Se olharmos para todos os recursos humanos, desenvolvimento, reformas sociais, isso era parte da visão nacional desde 2008, e nós vimos que a Copa do Mundo acelerou isso significantemente. Se você pegar a questão dos direitos trabalhistas e o bem estar dos trabalhadores, eles são um ponto chave no projeto Visão 2030. E nós vimos que, por causa da Copa do Mundo, sim, nós tivemos muita fiscalização por parte da mídia internacional, mas isso já estava planejado e nós vimos que a Copa do Mundo acelerou todas essas reformas. Esse é um dos principais propósitos de receber a Copa, acelerar o desenvolvimento. A outra coisa é promover o país como um destino de turismo e de negócios, e estamos confiantes que a Copa vai ter esse efeito para o país

Falando agora como fã de futebol. O diretor do comitê organizador teme que Cristiano Ronaldo fique fora da Copa, já que Portugal terá disputar a repescagem das Eliminatórias europeias?

Todos sabem que esta pode ser a última Copa de Cristiano Ronaldo, também do Messi, e acho que todos querem ver Cristiano Ronaldo jogando esta Copa do Mundo, todos querem ver o Messi também. Para nós, o mais importante é que a gente tenha um futebol de alto nível. Pelo fato da Copa ser disputada no meio da temporada, os jogadores não vão estar cansados, como acontece normalmente quando a Copa é disputada no verão, e eu acho que isso vai permitir um bom nível técnico de futebol.

Quem são os favoritos na sua opinião?

Quem vai ganhar? Veja, temos muitos times interessantes. Temos a Inglaterra indo bem, a Alemanha, claro, está sempre lá, vimos a Espanha muito bem na Euro. França, Brasil, Argentina, Croácia, todos são grandes times. Está aberto.

E qual a sua expectativa em relação à seleção do Catar na Copa?

Acho que em primeiro lugar nós queremos ver uma seleção jogando com confiança. Eu adoraria ver o time se classificar (para as oitavas de final), e chegar pelo menos até as quartas seria uma grande conquista para a nossa seleção.

Que mensagem você pode dar aos torcedores brasileiros que desejam ir ao Catar ver a Copa?

Nós temos uma população de brasileiros muito grande aqui no Catar, que vivem aqui, trabalham aqui. Nós tivemos muitos torcedores brasileiros vindo para o Catar no Mundial de Clubes (de 2019), e eles tiveram uma experiência muito boa. Havia torcedores do Flamengo, que jogou aqui. Nós damos as boas vindas aos torcedores brasileiros, queremos que eles venham conhecer o Catar, que eles venham torcer por sua seleção e que seja uma experiência agradável para eles. Estou ansioso para ver os brasileiros aqui.

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