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Com aulas teóricas e práticas, oficina abre espaço para cultura drag queen em Bauru

É uma forma de levar a nossa cultura para frente”. Foi com este objetivo que o maquiador Maurício Jiacomin - que atua há sete anos como a drag queen Maya

Com aulas teóricas e práticas, oficina abre espaço para cultura drag queen em Bauru
Com aulas teóricas e práticas, oficina abre espaço para cultura drag queen em Bauru

Redação Publicado em 27/08/2018, às 00h00 - Atualizado às 10h57


É uma forma de levar a nossa cultura para frente”. Foi com este objetivo que o maquiador Maurício Jiacomin – que atua há sete anos como a drag queen Maya Papillons – decidiu idealizar a 1ª Oficina de Drag Queens, em Bauru (SP).

O evento fez parte da programação do Mês da Diversidade, iniciativa do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual (Cads), que se encerra com o Encontro da Diversidade, realizado neste domingo (26), a partir das 14h, no Parque Vitória Régia.

Maurício é membro ativo do Cads desde o início de 2018 e conta que sempre foi um sonho poder realizar um evento sobre a cultura queer – termo usado para designar pessoas que não seguem o modelo de heterossexualidade ou binaridade de gênero.

“Muitas pessoas entram em contato comigo e dizem que têm vontade de se montar, de se maquiar e, infelizmente, não consigo atender todo mundo. Foi então que sugeri a ideia para os membros do Conselho e, em parceria com o Senac, ele pôde se tornar realidade”, conta.

Aula de maquiagem contou com a ajuda da drag Dmittry Queen (Foto: Júlia Martins/G1)

Aula de maquiagem contou com a ajuda da drag Dmittry Queen (Foto: Júlia Martins/G1)

A oficina contou com o apoio educacional das docentes dos cursos de moda e maquiagem do Senac de Bauru, as professoras Bruna Gomes, Adriana Gonçalves e Juliana Fournier .

“Aceitamos na hora e adoramos participar da ação. Foi um evento de grande valia não só pra gente, como para os alunos também, né”, conta a professora de moda, Bruna Gomes.

Horas depois da abertura das inscrições, todas as vagas já haviam sido preenchidas, o que, segundo o advogado e presidente do Cads, Leandro Douglas Lopes, é uma confirmação do quão importante é discutir assuntos da cultura LGBT como forma de inibir o preconceito e a homofobia na cidade.

“Não só todas as vagas foram preenchidas como temos também uma vasta lista de espera. Isso só mostra o interesse das pessoas pela cultura queer e toda essa resistência. O momento agora é de resistir e, por isso, essa conscientização é muito importante”, explica.

Participantes da oficina posam após conclusão da transformação (Foto: Júlia Martins/G1)

Participantes da oficina posam após conclusão da transformação (Foto: Júlia Martins/G1)

A oficina, composta por três dias de aulas, sendo o primeiro deles teórico e os outros dois práticos, contou com a presença de sete inscritos que, juntamente com os docentes e alunos dos cursos de moda e maquiagem do Senac, puderam realizar uma imersão dentro da cultura, como também ter a oportunidade de fazer cabelo e maquiagem para montar o próprio personagem.

A cultura Queer

Um dos principais objetivos de Maurício, juntamente com o Conselho, era de não apenas ministrar uma oficina para “ensinar maquiagem drag”, mas compartilhar toda a história da cultura queer.

“Há uma carga histórica muito forte de luta, de resistência. De muita gente que precisou apanhar da polícia, de pessoas na rua, pra gente poder chegar onde a gente tá hoje e garantir nossos direitos. E isso é muito importante”, explica o maquiador.

No primeiro dia de oficina, os participantes assistiram à uma aula sobre a evolução do movimento LGBT, da cultura queer e também sobre a profissão drag queen.

“Essa parte de cultura e comportamento é imprescindível pra formação de um personagem que vai se transformar. E isso independe de gênero, isso vai além de todas as questões que, a princípio, seriam tabus”, explica Leandro Lopes.

E, depois do conhecimento histórico, veio a parte de aprender a montar um personagem. Com dicas de moda e maquiagem, os inscritos na oficina puderam dar vida à divas drag e com isso, para muitos deles, realizar um sonho.

“Qualquer pessoa que coloca uma peruca, seja homem ou mulher, e se monta. Já é um ato político”, ressalta a drag queen Maya Papillons.

Maya explicou as técnicas de uma maquiagem drag (Foto: Júlia Martins/G1)

Maya explicou as técnicas de uma maquiagem drag (Foto: Júlia Martins/G1)

A transformação

Para alguns, a oficina foi uma experiência para aperfeiçoar e complementar conhecimentos já existentes. No entanto, para o estudante de Relações Públicas, Felipe Faustino, foi a oportunidade de ver a Lola Vayola nascer pela primeira vez.

Felipe se transformou pela primeira vez durante a oficina em Bauru (Foto: Júlia Martins/G1)

Felipe se transformou pela primeira vez durante a oficina em Bauru (Foto: Júlia Martins/G1)

“A Lola sempre foi um bebê pra mim. Ela tem uma personalidade que muitas vezes me é cobrada, mas que eu não consigo expressar. Mas, agora, me vendo montada e maquiada, eu sinto que a Lola está aqui e que, com ela, eu posso ser mais forte”, conta.

Felipe contou com a ajuda do estudante do curso de maquiagem, Lucas Cardoso no processo de transformação. A maquiagem, segundo Felipe, era algo muito importante na hora que montar a personalidade da sua drag.

“O estilo da Lola é diferente. Não tem aquela sombra marcada, carão, nada disso. É mais artístico, mais fofo, mais lúdico. E acho que o Lucas conseguiu captar e transmitir muito bem essas características”, relata.

Para Lucas, que já havia trabalhado com maquiagem drag em seu salão de beleza, a oficina foi uma oportunidade para testar novas técnicas e, o mais importante, fazer parte de um momento muito especial na vida do Felipe.

“Eu me senti como um padrinho mágico. É muito gratificante poder ter sido parte da primeira transformação dele. Eu amei o resultado e fico feliz dele ter gostado também”, conta Lucas.

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