Diário de São Paulo
Siga-nos

Ciência tenta ‘explicar’ identidade de gênero com DNA, mas ativistas levantam preocupações

Um consórcio de cinco instituições de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos -- incluindo o Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, a Universidade

Ciência tenta ‘explicar’ identidade de gênero com DNA, mas ativistas levantam preocupações
Ciência tenta ‘explicar’ identidade de gênero com DNA, mas ativistas levantam preocupações

Redação Publicado em 04/08/2017, às 00h00 - Atualizado às 10h13


Iniciativa europeia e americana coletou sangue de 10.000 pessoas para mapear genoma e comparar DNA de pessoas transgêneros e não transgêneros. Ativistas temem ‘terapias reparadoras’.

Um consórcio de cinco instituições de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos — incluindo o Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, a Universidade George Washington e o Hospital Infantil de Boston — está buscando no genoma algumas pistas que nos ajudem a explicar o porquê de algumas pessoas serem transgêneros e outras não, informa a Reuters.

Para entender qual o papel que o genoma desempenha na identidade de gênero, cientistas extraíram DNA das amostras de sangue de 10.000 pessoas: 3.000 deles transgêneros e o restante não transgênero, diz a Reuters. O objetivo é comparar cerca de 3 milhões de variações genéticas em todo o genoma dos participantes.

Atualmente, segundo a agência de notícias, a única maneira de determinar se as pessoas são transgêneros é pela autoidentificação. Enquanto ativistas afirmam que isso deveria ser suficiente, cientistas decidiram levar essa busca para o laboratório.

Sabendo quais as variações que as pessoas transgêneros têm em comum, e comparando esses padrões com aqueles das pessoas cisgêneros (aqueles que se identificam com o gênero em que nasceram), pesquisadores podem entender melhor o que ocorre – inclusive, se os genes têm ou não papel preponderante.

“Se a característica é fortemente genética, pessoas que se identificam como trans irão compartilhar mais o mesmo genoma entre si”, disse à Reuters Lea Davis, líder do estudo e professora-assistente de medicina do Centro Médico da Universidade de Vanderbilt.

Ativistas e pessoas trans, no entanto, estão reagindo, diz a Reuters. Isso porque, se uma “causa” for encontrada, ela teoricamente poderia levar a uma “cura”, potencialmente abrindo a porta para as chamadas ‘terapias reparadoras’ — semelhantes às que tentam transformar homossexuais em heterossexuais. Outros suscitam preocupações sobre os direitos daqueles que podem se identificar como trans, mas que não possuem “provas” biológicas.

Nos Estados Unidos, a busca pelos fundamentos biológicos de transgêneros está assumindo nova relevância à medida que a batalha por direitos se desenrola na arena política.

Na semana passada, o presidente Donald Trump anunciou no Twitter que pretende proibir pessoas transgênero de servir nas forças armadas. Ainda, um dos primeiros atos de sua administração foi revogar a decisão de Obama de permitir que pessoas transgêneros utilizem banheiros de sua preferência em escolas públicas.

Questões de saúde

A pesquisadora do grupo, Lea Davis, enfatizou à Reuters que o estudo não procura produzir um teste genético para identificar uma pessoa transgênero — e nem os cientistas seriam capazes de fazê-lo. Em vez disso, disse, pesquisadores esperam que os dados levem a um melhor entendimento sobre o bem-estar de pessoas transgêneros, que experimentam grandes disparidades de saúde em comparação com a população em geral.

Um terço das pessoas transgênero relataram uma experiência de saúde negativa no ano anterior, como assédio verbal, recusa de tratamento ou a necessidade de ensinar seus médicos sobre cuidados, de acordo com uma pesquisa com cerca 28 mil pessoas divulgadas no ano passado pelo Centro Nacional para Transgender Equality, nos Estados Unidos. Ainda, cerca de 40% tentaram suicídio, quase 9 vezes a taxa para a população em geral.

“Nós podemos usar essa informação para ajudar a capacitar médicos e enfermeiros e também desenvolver esclarecimentos para apoiar a legislação de direitos iguais”, Lea Davis disse à Reuters.

Compartilhe  

últimas notícias