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Bruno Henrique explica por que deixou Palmeiras e brinca: “Vou cobrar medalha”

A cena está registrada. Não mudará. Bruno Henrique, com a camisa 19, levantou o troféu do título brasileiro do Palmeiras em 2018. Dois anos depois, as imagens

Bruno Henrique
Bruno Henrique

Redação Publicado em 10/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h04


Em entrevista, meio-campista contou os motivos que o levaram ao Al-Ittihad, da Arábia Saudita

A cena está registrada. Não mudará. Bruno Henrique, com a camisa 19, levantou o troféu do título brasileiro do Palmeiras em 2018. Dois anos depois, as imagens despertam lembranças no jogador que agora acompanha a equipe alviverde de longe e torce para receber mais medalhas, mesmo a milhares de quilômetros de distância, por ter participado do começo das campanhas (exceto na Copa do Brasil).

Desde outubro, Bruno Henrique defende o Al-Ittihad, equipe da Arábia Saudita responsável por pagar R$ 27 milhões ao Palmeiras pelo jogador. A oferta estrangeira apareceu quando o ciclo sugeria o fim da passagem pela Academia de Futebol, como o próprio analisou em uma conversa com o ge. Foram 175 jogos, 28 gols e 12 assistências com a camisa do clube de Palestra Itália.

— Depois de três anos, foi o momento em que deu a maior oscilada, com alguns jogos indo para o banco de reservas, apesar que entrava todos os jogos. Em alguns, eu era titular, mas não estava conseguindo ter uma grande sequência. Então, talvez, naquele momento, foi a hora que chegou a proposta e talvez esse ciclo de três anos, pelo qual sou grato e honrado, tivesse chegado ao fim — declarou.

— Foi uma decisão pessoal, claro, e como jogador de futebol temos muitas vezes ciclo nos clubes. Naquele momento achei que era hora de uma mudança na carreira — acrescenta Bruno Henrique, que segue de longe acompanhando minimamente o Palmeiras.

Bruno Henrique ergue a taça de campeão brasileiro do Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli

Bruno Henrique ergue a taça de campeão brasileiro do Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli

Por intermédio das redes sociais e aplicativos, o volante mantém contato com o grupo de jogadores e usa a mídia para seguir de olho no clube alviverde. Nas rodadas do Brasileirão, a TV está ligada nos jogos do Palmeiras para um ex-atleta que agora é torcedor, até por questões pessoais de valorização da própria carreira.

Bruno Henrique só não viu o confronto de terça contra o Libertad por questão de fuso horário – o relógio marcava 3h30 na cidade de Jidá, sede do Al-Ittihad. Porém, comemora a evolução do time com Abel Ferreira, que deixa o time em três frentes de disputa por título (Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores).

— Com certeza vou (pedir medalha em caso de título), já que participei no comecinho. Sem dúvida vou torcer que vençam para eu também receber a minha medalha (risos). Foi uma pequena ajuda ali no começo, mas está valendo — completou o meio-campista.

Bruno Henrique aguarda o nascimento da filha para ter toda a família na Arábia Saudita — Foto: Reprodução/Instagram

Bruno Henrique aguarda o nascimento da filha para ter toda a família na Arábia Saudita — Foto: Reprodução/Instagram

Confira o papo completo com Bruno Henrique:

Por que você decidiu deixar o Palmeiras?

– Depois de três anos, foi o momento em que deu a maior oscilada, com alguns jogos indo para o banco de reservas, apesar que entrava todos os jogos. Em alguns, eu era titular, mas não estava conseguindo ter uma grande sequência. Então, talvez, naquele momento, foi a hora que chegou a proposta e talvez esse ciclo de três anos, pelo qual sou grato e honrado, tivesse chegado ao fim. Foi uma decisão pessoal, claro, e como jogador de futebol temos muitas vezes ciclo nos clubes. Naquele momento achei que era hora de uma mudança na carreira.

Você se via em fim de ciclo então?

– Não chegava a enxergar, tinha contrato longo (até 2023). Minha vontade era ganhar ali e evoluir, procurar brigar por campeonatos e por gols. Queria marcar ainda mais história e foi para isso que renovei o contrato com o Palmeiras. Meu pensamento era ficar. Mas, muitas vezes, as coisas não acontecem da maneira que esperamos no futebol. Também veio a questão da Covid-19, e muitas coisas mudaram. Dentro desse contexto, de ficar alguns jogos no banco, comecei a refletir sobre o futuro. Veio a proposta e decidi vir para cá.

Dia a dia com os colegas: situação que faz Bruno Henrique sentir mais falta do Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli

Dia a dia com os colegas: situação que faz Bruno Henrique sentir mais falta do Palmeiras — Foto: Marcos Ribolli

Ainda mantém contato com o pessoal do Palmeiras?

– Mantenho pouco contato com os meninos, porque o fuso horário é muito diferente. Quando acordo para treinar, eles estão dormindo ainda. Quando vou dormir, eles estão acordados. Mantenho contato nessa, mas assisto sempre os jogos. O jogo da Libertadores começou 3h30, já tinha que estar dormindo. Estou feliz com a evolução do time, dos garotos; os meninos estão jogando muito bem, e o time vem brigando pelas três competições. Fico muito contente e a energia será sempre positiva para que vençam.

Vai cobrar medalha se vierem os títulos?

– Com certeza vou (pedir medalha em caso de título), já que participei no comecinho (do Brasileirão e da Libertadores). Sem dúvida vou torcer que vençam para eu também receber a minha medalha (risos). Foi uma pequena ajuda ali no começo, mas está valendo

Voltando a falar sobre Palmeiras. O extracampo, como as cobranças na rua e o caso de agressão à sua mulher, pesaram muito na decisão de deixar o clube?

– Acho que sim, por um lado. Você coloca tudo na balança quando as coisas acontecem. Claro que o extracampo não teve o peso decisivo, não foi esse o motivo decisivo para a minha saída. Desde quando cheguei ao Palmeiras, convivi com críticas e algumas pesadas, e muitos jogadores recebem. Os atletas são muito cobrados, a pressão é enorme no clube e temos que lidar da melhor maneira possível. Não dá para generalizar: os milhões de torcedores no lugar de alguns. Meu pensamento nunca foi sair do clube pela atitude de algumas pessoas. A gente vê crianças que te admiram, pessoas que te admiram, sempre peguei esse lado da torcida que é o mais fantástico que tem.

Família de Bruno Henrique é agredida na Arena da Baixada; em nota, Palmeiras lamenta
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O que sente mais falta dos tempos de Palmeiras, pensando agora dois meses depois da sua saída?

– O convívio do dia a dia, com certeza. Embora tenham alguns brasileiros aqui que me ajudam. Uma coisa é a amizade que o grupo tem, porque o ambiente ali do Palmeiras é muito bom. Talvez na bola o que levamos sempre é essa questão do dia a dia, das brincadeiras. Quando você vai para um país fora, não tem isso; os costumes mudam, a conversa de concentração não tem. Mas estou contente com a minha vida aqui também. Espero que esse ciclo tenha sido encerrado de maneira bacana.

Você é comandado por Fábio Carille, técnico que comandou o Corinthians e possui retrospecto bem positivo nos clássicos contra o Palmeiras. Rola um Dérbi aí no dia a dia? Brincam muito sobre essa rivalidade?

– Para ser sincero, pouco. Às vezes, ele conta sobre algumas táticas que usava nos jogos em que nos enfrentamos, mas nada além disso. Carille é um cara muito bacana e que respeita muito o atleta. Eu tinha trabalhado com ele quando era auxiliar (no Corinthians), mas agora é a primeira vez com ele como técnico. Aliás, ele é um grande treinador e teve um momento muito bom com o Corinthians. Tem sido muito legal esse convívio com ele.

Como foi a adaptação à Arábia Saudita?

– A gente no Brasil talvez tenha uma visão pessimista por ser um país fechado, mas até me surpreendi, sinceramente. Moro em uma cidade de praia (Jedá) e é muito bacana, com muitos bons restaurantes, por exemplo. Claro que a gente se impressiona porque a cultura muçulmana é muito diferente e há as restrições, mas até que é um país aberto e tranquilo para se viver falando inglês. Estou bem contente.

Bruno Henrique tem a companhia de Romarinho na equipe saudita — Foto: Divulgação

Bruno Henrique tem a companhia de Romarinho na equipe saudita — Foto: Divulgação

Agora você vai dar uma pausa na vida aí na Arábia Saudita…

– Sim, minha esposa está em São Paulo. Estou voltando para acompanhar o nascimento da minha filha, estamos na expectativa. Vai se chamar Lia. Volto para São Paulo e fico uns dez dias. Após o nascimento, ela e a minha mulher vão ficar uns 45 dias para fazer todo processo de vacinação e cuidado com a nossa filha. Depois disso, vão vir para cá.

O clube liberou tranquilamente essa pausa?

– Já tinha acertado antes de vir para cá. Estamos tentando fazer o parto do jeito que conversamos em fazer, com os dois juntos na hora do nascimento. Foi uma coisa que pedi e tem até no contrato essa situação, mas tenho certeza que, se não tivesse, ainda mais sendo o Carille o treinador, eles concordariam com minha saída.

Aí, então, volta a família completa…

– Só em janeiro mesmo, fevereiro. Quando eu voltar, minha mãe e irmã vão vir para cá. Ficar sozinho aqui é osso…

E o que você tem feito para amenizar essa solidão?

– Olha, muitos filmes e séries, jogos do Palmeiras. Também fico vendo os jogos da Europa e do campeonato daqui. É isso aí que temos para fazer. Ah, a gente dorme bastante também (risos).

Bruno Henrique tem 8 jogos, 1 gol e 1 assistência pelo Al-Ittihad — Foto: Reprodução/Instagram

Bruno Henrique tem 8 jogos, 1 gol e 1 assistência pelo Al-Ittihad — Foto: Reprodução/Instagram

E há muita diferença de nível técnico em relação ao Brasil?

– Tem diferença sim. O nível no Brasil é mais elevado, mas como aqui também tem a presença de estrangeiros, de sete estrangeiros por equipe, isso ajudou a fortalecer o campeonato, então é bem competitivo. São vários jogadores que vêm da Europa, de países africanos, jogadores muito fortes e que deixam o jogo rápido, o jogo truncado. Fisicamente é muito difícil nesse sentido e ainda estou me adaptando. Não é um campeonato fácil.

O protocolo de Covid-19 também é bem rígido aí?

– Temos as ordens aqui que são bem parecidas com as do Brasil. Máscara, distanciamento, todas essas questões nos jogos, como a proibição da troca de camisas, tirar foto, enfim. Também não tem torcida nos estádios.

E na cidade?

– Também. Por exemplo, quando você está no carro com duas pessoas, todos têm que estar de máscara. Em ambiente fechado, também. Aberto, também. Outro dia saí de um restaurante e passou um policial pedindo para botar a máscara. Nem tinha reparado, mas ele me lembrou e eu já estava na rua. Por aqui, por enquanto, está mais tranquilo.

Os times têm sofrido no Brasil com muitos casos de Covid-19. Na Arábia Saudita, qual o panorama?

– O protocolo feito aqui é bem parecido. Tivemos jogadores com Covid-19 também. Fazemos testes todos os jogos, e dois ou três tiveram recentemente. Espero que não tenha surto parecido como teve no Palmeiras, por exemplo, porque é bem complicado. Eu já peguei (novo coronavírus) lá no começo, em São Paulo, mas mesmo assim tenho visto que pessoas acabam se infectando de novo. Então, como sempre, tenho tomado todo o cuidado.

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GE – Globo Esporte

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