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Brasileiros, uni-vos!

É só o Brasil perder uma Copa do Mundo que ele sai da toca: o complexo de vira-lata. Profundo ilustrador da sociedade brasileira, o escritor e dramaturgo

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Redação Publicado em 16/07/2018, às 00h00 - Atualizado às 10h21


É só o Brasil perder uma Copa do Mundo que ele sai da toca: o complexo de vira-lata. Profundo ilustrador da sociedade brasileira, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues criou a expressão após a amarga derrota da seleção brasileira na Copa de 1950, em pleno Maracanã. Nas palavras do genial cronista, o complexo de vira-lata se refere à incrível capacidade do brasileiro de se colocar em posição inferior ao resto do mundo, acentuar seus defeitos, diminuir a própria imagem.

Esperança do País, o até outro dia menino-gênio Neymar, hoje é vilão e mau exemplo. Outro alvo frequente dos ataques de fúria do brasileiro é a Rede Globo. Segunda maior rede de televisão comercial do mundo e famosa por exportar suas produções na teledramaturgia para os quatro cantos do mundo, a Globo é constantemente amaldiçoada por militantes tanto da esquerda quanto da direita por, supostamente, ludibriar ou alienar seus telespectadores.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. De fato, o Brasil possui inúmeros índices e personagens dignos dos piores adjetivos, mas daí a criar a convicção de que todo brasileiro deve se envergonhar ao olhar no espelho, aí já é demais.

Um dos argumentos usados para a autoflagelação tupiniquim é comparar as cinco taças da Copas do Mundo do Brasil à sua galeria de troféus do Prêmio Nobel, ainda vazia. De fato, o país não tem nenhum premiado, porém, bateu na trave mais de dez vezes. E isso não torna seus candidatos menores do que os oponentes pelos quais foram superados.

O sanitarista e biólogo mineiro Carlos Chagas, único cientista na História da Medicina a descrever completamente uma doença infecciosa – a Doença de Chagas – concorreu ao Nobel da Medicina em quatro oportunidades e colaborou demais com a humanidade.

Para continuar na mesma área de atuação, pode-se citar o cientista e epidemiologista paulista Oswaldo Cruz, pioneiro no estudo das moléstias tropicais, coordenador das campanhas de erradicação da febre amarela e da varíola no Rio de Janeiro, ou mesmo o mineiro Vital Brazil, mundialmente conhecido pela descoberta da especificidade do soro antiofídico, do soro contra picadas de aranha, entre outros.

Na Literatura, tivemos o carioca Machado de Assis, respeitado mundialmente e tido como um dos grandes gênios ao lado de autores como Dante, Shakespeare e Camões. Tivemos o também paulista José Bonifácio de Andrada e Silva, o único brasileiro a descobrir um elemento químico, o lítio, usado nas baterias de telefone celular, também um mineralogista respeitado no mundo todo.

Isso sem falar em Alberto Santos Dumont, Heitor Vila Lobos, Saturnino de Brito, Oscar Niemeyer, entre muitos outros célebres filhos da Pátria Mãe Gentil que poderiam ser, aqui, citados. Faltaria espaço nessa folha de jornal para tanto. E muitos outros surgirão, com certeza!

Não é feio ser patriota e chorar ao som do Hino Nacional. Mas isso não precisa acontecer só de quatro em quatro anos e por causa de uma partida de futebol.

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