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Brasileira diz que ganhou passagem para resgatar filha sequestrada pelo pai no Líbano

A brasileira Claudia Dias de Carvalho Boutros declarou nesta segunda-feira (6) que um empresário libanês de São Paulo se ofereceu para pagar a passagem dela

Brasileira diz que ganhou passagem para resgatar filha sequestrada pelo pai no Líbano
Brasileira diz que ganhou passagem para resgatar filha sequestrada pelo pai no Líbano

Redação Publicado em 07/11/2017, às 00h00 - Atualizado às 10h01


A brasileira Claudia Dias de Carvalho Boutros declarou nesta segunda-feira (6) que um empresário libanês de São Paulo se ofereceu para pagar a passagem dela para ir ao Líbano resgatar sua filha, sequestrada pelo ex-marido e pai da menina em 2010. A expectativa é que ela viaje em dezembro. O doador não quis se identificar.

Gabriella Carvalho Boutros tinha 5 anos quando foi levada pelo também libanês Pedro Boutros de São Paulo ao Líbano. Atualmente, a garota mora com ele em Trípoli, onde aprendeu árabe e quase não fala português.

“Graças a vocês um senhor se sensibilizou com a história e decidiu ajudar”, disse Claudia, de 39 anos. A reportagem revelou no último sábado (4) que, após sete anos, a Justiça libanesa decidiu devolver à mãe a guarda de Gabriella.

Em 2012, a Justiça brasileira já havia concedido a guarda definitiva de Gabriella a Claudia por entender que a garota foi subtraída pelo pai, segundo seus advogados. Mas somente em 13 de outubro deste ano que a Corte de Trípoli reconheceu esse direito e decidiu tirar de Pedro a guarda da filha e devolvê-la à sua mãe.

“O juiz presidente do ‘escritório executivo de Tripoli’ decidiu pela execução da sentença favorável à senhora Boutros, relativa à guarda da menor Gabriella Carvalho Boutros”, informa trecho do documento da Embaixada Brasileira no Líbano encaminhada ao Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores no Brasil.

Justiça do Líbano devolve guarda à mãe brasileira que teve filha sequestrada pelo pai

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Sem dinheiro

A única condição para a entrega da criança é a de que Claudia viaje ao Líbano para recebê-la pessoalmente na Justiça de Trípoli. Estudante de administração, a mãe de Gabriella alegou que não tem dinheiro para custear as passagens aéreas.

“São R$ 8 mil ida e volta”, disse Claudia, que pretende embarcar entre o final deste mês e o início de dezembro para o Líbano. “Depois, só precisarei ver como ficará a questão da passagem de minha filha para o Brasil, quem poderia ajudar a comprá-las.”

De acordo com o advogado de Claudia, José Beraldo, a expectativa é a de que sua cliente saia do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em 2 de dezembro deste ano. “Ela chegaria ao Líbano três dias depois”, falou Beraldo.

Claudia deverá viajar sozinha, ficando hospedada na casa de brasileiros que moram em Beirute. Depois, teria o apoio do advogado libanês Pierre Baaklini, que defende os interesses da brasileira no Líbano.

Procurado para se pronunciar sobre o trâmite da repatriação de Gabriella, o Itamaraty respondeu, por meio de nota, que acompanha o caso e presta assistência a Claudia e seus advogados.

Claudia, Pedro e Gabriella; ela se separou do pai da criança em 2010 (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

Claudia, Pedro e Gabriella; ela se separou do pai da criança em 2010 (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

Sequestro

Separado de Claudia, Pedro podia ficar com Gabriella quinzenalmente, aos finais de semana. Em 12 de março de 2010, ele pegou a menina, mas não a devolveu à mãe, que achou que havia acontecido algum acidente de trânsito com os dois e pediu para a polícia investigar o sumiço.

Em vez disso, o homem foi de carro com a filha até Foz do Iguaçu, no Paraná, entrou no Paraguai e pegou um avião até a Argentina. De lá, os dois seguiram em um voo até a França, onde embarcaram em outra aeronave até Beirute, capital libanesa.

Acionada, a Interpol (polícia internacional) descobriu para onde Gabriela foi levada e colocou as fotos do pai e da menina no site de procurados pela Parental Child Abduction (algo como sequestro de filho por um dos pais, numa tradução livre do inglês para o português).

Se sair do Líbano, Pedro, atualmente com 49 anos, terá de ser preso para responder no Brasil pelo crime de ter levado Gabriella sem autorização da mãe. A menina, por sua vez, teria de ser repatriada.

Mas essa medida da Interpol não vale enquanto pai e filha estiverem em território libanês. Como o país não é signatário da Convenção de Haia sobre sequestro internacional de crianças, Claudia teve de pedir à Corte de Trípoli a devolução da guarda da filha.

Felicidade

Nesse período, a mãe conseguiu ver Gabriella por três vezes, duas delas autorizadas por Pedro sob a supervisão de uma pessoa da confiança dele. Em outra, sem o conhecimento do pai da menina, Claudia invadiu a escola católica onde a menina estuda e convenceu a madre a deixá-la dar um abraço.

“Minha história é um drama que virou um pesadelo, que hoje eu acredito que vá se tornar um fato verídico de felicidade”, disse a mãe, que acrescentou ter certeza de que Gabriella quer voltar a morar com ela em São Paulo.

No Brasil, Claudia aguarda da decisão da Justiça brasileira sobre o pedido de R$ 2 milhões de indenização: metade contra o Estado (por deixar a criança sair do país sem passaporte) e o restante contra o ex-marido.

O advogado de Pedro não foi localizado para comentar o assunto. Segundo os advogados de Claudia, o ex-marido dela terá de cumprir a decisão judicial libanesa de entregar a menina à mãe ou poderá ser detido, mesmo no país dele.

 (Foto: Beta Jaworski/ Editoria de Arte/G1)

(Foto: Beta Jaworski/ Editoria de Arte/G1)

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