Diário de São Paulo
Siga-nos

Bill Steer (Carcass) fala com o Diário sobre “Torn Arteries”

Por Tchelo Emerson

Diário de São Paulo
Diário de São Paulo

Redação Publicado em 23/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h50


Por Tchelo Emerson

Não é todo dia que podemos falar com um artista que é referência em seu estilo. O Diário de São Paulo teve a oportunidade de bater um papo com Bill Steer, guitarrista e um dos fundadores da banda Carcass, pioneira do estilo musical conhecido como splatter, que se distingue pelas letras chocantes e pela música rápida.
Um tanto avesso ao ambiente virtual, Bill Steer nos atendeu via telefone e, de forma atenciosa e polida, conversou sobre o novo álbum, “Torn Arteries”, que será lançado mundialmente no próximo dia 17 de setembro pela gravadora Nuclear Blast (no Brasil o disco será lançado pela parceria dessa gravadora alemã com a Shinigami Records).
O músico foi bem franco e admitiu que sua distância do mundo “on line” às vezes o torna um pouco desligado até mesmo de algumas informações sobre a própria banda da qual ele faz parte.
Vegetariano, Bill Steer comentou como mantém a dieta durante as turnês. Ainda deu tempo de conversarmos sobre a integridade que a banda mantém durante mais de três décadas de carreira. O guitarrista falou sobre a turnê que fará em 2022 e terminou a entrevista deixando uma mensagem aos fãs brasileiros. Confira abaixo.

DiárioSP: Qual o conceito por trás do título do novo álbum, Torn Arteries (Artérias Rasgadas)?
Bill Steer: Ok. O conceito por trás do título do álbum, Torn Arteries, é simplesmente uma referência ao nosso passado. Na verdade, esse era o nome dos cassetes que o nosso baterista original Ken Own havia feito. Ele e eu ficávamos juntos na escola. Nós dois tínhamos 15 anos de idade, eu acho, e ele trouxe essa fita para a escola um dia e então eu fiquei muito impressionado com aquilo. Era realmente muito caseira, um tipo de gravação meio ‘faça você mesmo’.
Ele tinha feito tudo no seu quarto, um instrumental em estado bruto, com a gravação em fita, e era um som bem distorcido e soava faminto e eu amei aquilo.
Mencionei essa gravação para o Jeff [Walker, baixista e vocalista do Carcass], e nós apenas gostamos do título e temos ele agora [para o novo álbum].

DiárioSP: É possível dizer que há um tema que serve como fio condutor de todas as letras do álbum?
Bill Steer: Eu acho que seria difícil dizer com certeza, porque, primeiramente, é o Jeff Walker quem escreve as letras para a banda e ele não gosta de debater muito isso.
Eu acho que o divertido é o fato de as pessoas fazerem suas próprias interpretações, provavelmente, essa é a razão. Um fundamento, um tema geral, em termos de assunto, isso deve ser muito pessoal para ele.
Você sabe, se é sobre política, história, condição humana, música. Todas essas coisas se interligam e é possível extrair disso tudo o estilo do Carcass, meio que as terminologias loucas e referências a coisas do nosso passado.

DiárioSP: Tenho que dizer, parabéns pelo ótimo vídeo da música “Dance of Ixtab”, mas o que isso significa? O que “Dance of Ixtab (Psychopomp & Circumstance March No. 1) significa?
Bill Steer: Sim, de novo essa é uma das coisas escritas pelo Jeff [Walker] e eu não sei qual foi a intenção dele, mas, obviamente Ixtab é um personagem da mitologia maia e creio que seja um mito, uma deusa dos cemitérios, que representa o suicídio, talvez por enforcamento, e provavelmente esse não seja um assunto tão edificante, mas se houver um interesse em comparar [esse tema] com as outras músicas do Carcass, então essa é uma música quase feliz.

DiárioSP: Algumas pessoas dizem que o rock está morto, como disse Gene Simmons (baixista e vocalista da banda Kiss), por exemplo. Mas os fãs de metal estão aguardando novos álbuns do Iron Maiden, do Megadeth e do Carcass. O quanto é importante o heavy metal hoje?
Bill Steer: Acho que a resposta para essa pergunta depende da pessoa com quem você está falando. Talvez Gene Simmons se sinta assim, mas, você sabe, um garoto de 25 anos de Nova York ou da Inglaterra talvez se sinta diferente. É muito subjetivo. Mas tem um ponto, o número de importantes bandas de metal colocando [no mercado] seus lançamentos agora, e eu vejo isso de uma maneira muito positiva. Pessoalmente, acho que todos eles aumentam o nível de entusiasmo pelo estilo.

DiárioSP: Sim, muito interessante. Bem, o Carcass tem uma discografia bem diversificada, mas eu nunca, jamais, ouvi ninguém dizendo que a banda traiu suas raízes, você sabe o que quero dizer? Como manter a integridade por tantos anos?
Bill Steer: Bem, fico feliz que você tenha visto as coisas assim, isso é legal. E, sim, acho que mantivemos a integridade, porque sempre fizemos o álbum que queríamos fazer em qualquer momento, mas, em termos do tipo de crítica em relação à banda, sim, ao longo dos anos ouvi os mais velhos dizerem que traímos nossas raízes ou algo assim, mas essas pessoas preferem que você fique sempre numa caixa, tentando te colocar onde você estava aos dezessete ou dezoito anos de idade. Eles levam em conta o que está no primeiro álbum, mas isso é algo que você não consegue capturar de novo, nem que você quiser. E nós não queremos. Eu sinto que esse não é o caminho. Música não é uma coisa estática. Você acaba desperdiçando tempo e energia tentando ficar bem com uma pequena minoria de pessoas que provavelmente são fãs da banda, e estão apenas tentando te classificar com alguns pontos de credibilidade no underground das mídias sociais.

DiárioSP: E o quanto é importante para uma banda como o Carcass trabalhar com uma gravadora como a Nuclear Blast?
Bill Steer: Eu diria que isso é importante exatamente com base na ética de trabalho, porque é realmente o primeiro selo, que eu tive experiência, onde eles fazem mais do que aquilo que prometeram. Sim, esses caras estão no mais alto nível profissional. Eles têm sido muito solidários e nos completam. Eles não tiveram nenhum envolvimento na parte criativa do álbum, ou no anterior. Nós só gravamos, fizemos as mixagens e encontramos as pessoas certas para entregar as gravações. É realmente uma relação de trabalho muito saudável.

DiárioSP: Muito bom. Bill, por favor, podemos falar um pouco sobre o vídeo para a música “Kelly’s Meat Emporium”. É correto dizer que há alguma crítica representada pelas imagens de vegetais apodrecendo?
Bill Steer: Eu tenho que ser honesto e dizer que eu não sei, porque eu precisei ver o vídeo apenas ontem pela primeira vez. Você sabe, eu não tenho uma grande presença ‘on line’. Eu sou meio que fora do circuito com algumas das comunicações da banda e do material da gravadora. Então, sim, ontem alguém me elegeu para esta entrevista e eu fui conferir o vídeo.
Eu achei o vídeo interessante, mas não tenho ideia de onde ele foi feito, qual estúdio o fez, mas eu sei que a gravadora está por trás disso. O vídeo é demais.
Como eu mencionei antes, as pessoas sempre fazem suas próprias interpretações do jeito que elas estão se sentindo no dia.
Isto é apenas parte de ser de uma banda, você faz algo e isso sai para o domínio público e você sente que aquilo não é mais seu, e as pessoas vão fazer diferentes interpretações daquilo e às vezes essas conclusões podem estar erradas para você pessoalmente, mas temos que aceitar, isso faz parte quando você lança álbuns ou quando sai um vídeo.

DiárioSP: Ok, Bill, sabendo que vocês são vegetarianos, quais os principais desafios enfrentados por um vegetariano em turnês? É possível encontrar comida saudável em camarins e na maioria das cidades?
Bill Steer: Sim, é realmente um ambiente muito diferente agora do que aquele do final dos anos oitenta e início dos anos noventa. Naquela época, algumas daquelas turnês eram para nós como uma “dieta da inanição”. Mas é muito fácil agora. Eu não vou mentir que sou muito bem tratado pela maioria dos locais de shows ao redor do mundo. Você sabe, as pessoas nos fornecem alimentos decentes, lanches, muitas bebidas. Honestamente, acho muito difícil reclamar.

DiárioSP: Muito interessante. Bill, quais são os próximos planos do Carcass?
Bill Steer: No momento não há planos específicos, exatamente por causa da situação que o mundo experimenta, em quase todo o mundo.
Havia a previsão de uma turnê que ia começar no final de setembro e iria até o final de outubro. O que seria algo grande. Era com o Behemoth, Arch Enemy, nós e uma outra banda. E iria cobrir boa parte da Europa.
Mas, obviamente, ainda estamos nesta situação onde cada país tem seus estatutos, com a implantação das vacinas e considerando o número de casos, e todas as restrições. Então, estamos tentando considerar tudo isso em nossa turnê e foi parecendo impossível, quanto mais nos aproximamos das datas. A última coisa que ouvi foi que essas datas ficarão para o próximo ano (Nota do entrevistador: realmente, a turnê está agendada para o período de setembro até novembro de 2022).
Entretanto, nos ofereceram um show num festival na Inglaterra neste ano. Novamente, eu não sei se realmente vai acontecer, mas seria bom, porque conseguiríamos começar em algum lugar, pois faz tanto tempo que não tocamos.

DiárioSP: Mr. Bill Steer, muito obrigado por dedicar seu tempo [para esta entrevista], tão logo seja possível, espero ver o Carcass no Brasil. Fique à vontade para deixar uma mensagem para os fãs brasileiros do Carcass.
Bill Steer: Muito obrigado por suas perguntas, foi um prazer. E para os fãs brasileiros do Carcass, eu apenas agradeço por ter persistido no apoio por esses anos. Estamos meio que buscando uma maneira de voltar, então eu realmente espero que seja o mais cedo possível, que não demore. Felicidades

Compartilhe  

Tags

últimas notícias