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Bar do Centro de SP que vetava entrada de crianças recua e diz que passará a aceitar menores acompanhados

A repercussão negativa após a viralização do relato da fotógrafa fotógrafa Marcelle Cerutti, que foi impedida de entrar no Miúda Bar, no Centro de São Paulo,

Bar do Centro de SP que vetava entrada de crianças recua e diz que passará a aceitar menores acompanhados
Bar do Centro de SP que vetava entrada de crianças recua e diz que passará a aceitar menores acompanhados

Redação Publicado em 07/04/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h41


A repercussão negativa após a viralização do relato da fotógrafa fotógrafa Marcelle Cerutti, que foi impedida de entrar no Miúda Bar, no Centro de São Paulo, no último domingo (3), por estar com uma criança, fez com que o estabelecimento voltasse atrás e mudasse as regras da casa.

Em uma postagem nas redes sociais, o Miúda informou nesta quarta-feira (6) que, a partir desta sexta (8), passará a permitir a entrada de menores acompanhados.

Comunidado do bar Miúda, do Centro de SP, que passará a aceitar a entrada de crianças acompanhadas por responsáveis — Foto: Reprodução/Redes sociais

Comunidado do bar Miúda, do Centro de SP, que passará a aceitar a entrada de crianças acompanhadas por responsáveis — Foto: Reprodução/Redes sociais

Segundo o texto, “nunca foi a nossa intenção regular o que uma mãe pode ou não fazer. Também reconhecemos que o nosso comunicado anterior não foi acolhedor. Refletimos muito, trocamos ideia com diversas pessoas e decidimos por permitir a entrada de menores de idade acompanhados na Miúda”.

O bar afirma que, para receber o novo público, fará algumas alterações na operação. “Continuaremos a dialogar com várias mães, pais, comunicadoras e advogadas para construir um espaço inclusivo e de convivência da melhor maneira que for possível. Pedimos desculpas e nos comprometemos a acolher as necessidades de maneira segura e responsável.”

Marcelle Cerutti relatou em uma rede social que foi até o Miúda para comemorar o aniversário de uma amiga.

“Cheguei no bar mais descolado da Santa Cecília para comemorar o aniversário de uma amiga e não pude entrar porque estava com o meu filho. Aparentemente, o bar que aceita todo mundo, não aceita mães solas com seus filhos. Não era balada, não era noite, era um espaço aberto e eu só iria ficar um pouco”, afirmou na publicação.

Ela chegou ao bar por volta das 17h para a comemoração. “Eu já conhecia o bar, levei uma mochila com roupa de frio, brinquedo, livrinho e lápis de cor. Eu já tinha um cenário pintado na minha cabeça em como o espaço poderia receber meu filho.”

A fotógrafa foi informada na entrada que o bar não permitia a entrada de crianças. Em uma nota divulgada em uma rede social, o Miúda informou que o bar buscou, em dezembro, assessoria jurídica “para nos dar base para algumas questões. Entre elas a entrada de menores de idade. Mostramos a ela todo o nosso espaço e funcionamento e concluímos juntos que nosso bar não é um lugar propício para crianças”

Falta de acolhimento

Marcelle conta que os seguranças não explicaram o motivo da entrada não ser permitida. Mas não argumentou. “Eu era a única mãe com criança lá, achei melhor ficar quieta, me senti desamparada. Nisso, mandei uma mensagem para a minha amiga, ela foi até a saída, me deu um abraço, ai voltei para casa.”

Ao chegar em casa, a fotógrafa fez um post em uma rede social relatando o ocorrido, ela contou que depois da publicação passou a receber relatos de outras mães que foram impedidas de entrar no Miúda e em outros locais pelo mesmo motivo.

“A questão não é o que aconteceu comigo, isso dói em tanta gente para ter chegado onde chegou, isso é uma questão política, pública de todas nós mulheres que somos mães. Quantas vezes já fui excluída de lugares por estar com meu filho. Eu provavelmente teria ficado quieta mais essa vez se não fosse um grupo de amigas agitando, compartilhando. A questão é essa, precisamos falar sobre o acolhimento dos espaços das mães com crianças, famílias com crianças”.

O advogado e integrante do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente Ariel de Castro Alves afirma que a proibição é discriminatória e não tem previsão legal, já que a “Constituição Federal prevê que todos são iguais perante a lei e que não podem sofrer discriminações. E o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também proíbe discriminações com relação às crianças e adolescentes”.

“Essa proibição do bar não tem previsão legal. Eles não poderiam impedir a entrada. É proibido o fornecimento ou venda de bebidas para crianças, o que é inclusive crime previsto no ECA. E muitos pais e mães não têm com quem deixar seus filhos, principalmente aos finais de semana, quando creches e escolas não funcionam. A criança estar com a mãe em um local que as pessoas estão consumindo bebidas alcoólicas, mas também consumindo comida e petiscos, não pode gerar uma presunção de que as crianças estão em risco”, afirmou Ariel de Castro.

Em 2019, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) aprovou uma proposta de lei que proíbe a entrada de crianças e adolescentes em qualquer evento em que haja o livre fornecimento de bebidas alcoólicas.

O projeto de lei do Senado altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA — Lei 8.069, de 1990) para proibir a admissão e a permanência de criança ou de adolescente em eventos com livre fornecimento de bebidas alcoólicas, ou semelhantes. Porém, o projeto ainda está em tramitação.

O Miúda Bar existe há cerca de dois anos. No início, o local ocupava uma garagem na Praça Olavo Bilac, mas o negócio expandiu, e os donos alugaram o estacionamento ao lado, onde foram colocadas cadeiras de praia.

Desde o final do ano passado, o estabelecimento viralizou nas redes sociais justamente por se vender como um lugar que aceita todas as pessoas. Pelo bar, estão espalhadas mensagens que reforçam que o bar “proíbe a entrada de racismo, sexismo, machismo e homofobia”.

Pelas paredes do local também existem grafites que expõem o posicionamento político da administração.

O que diz o bar

Em nota divulgada em seu perfil no Instagram, o Miúda Bar informou que o espaço tem “lotado muito desde novembro do ano passado, quando expandimos para o galpão de trás e o estacionamento. A segurança das pessoas lá dentro é nossa preocupação diária desde a primeira abertura no espaço maior”.

Por isso, diz o comunicado, o bar buscou, em dezembro, assessoria jurídica “para nos dar base para algumas questões. Entre elas a entrada de menores de idade. Mostramos a ela todo o nosso espaço e funcionamento e concluímos juntos que nosso bar não é um lugar propício para crianças”.

“O lazer que oferecemos não é pensado para crianças, suas liberdades e necessidades – e são elas quem consideramos nessa decisão. Nosso ambiente é feito para adultos, com programação cultural de cunho adulto e consequentemente para maiores de 18 anos. Este posicionamento não exclui o fato de que estamos sempre pensando em melhorias no espaço e funcionamento”, finaliza.

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G1
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