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Apesar de chuvas acima da média, reservatórios de SP estão 9 pontos percentuais abaixo do nível pré-crise hídrica de 2013

Apesar das chuvas acima da média em outubro, os reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo operavam nesta quarta-feira (3) com média de

Apesar de chuvas acima da média, reservatórios de SP estão 9 pontos percentuais abaixo do nível pré-crise hídrica de 2013
Apesar de chuvas acima da média, reservatórios de SP estão 9 pontos percentuais abaixo do nível pré-crise hídrica de 2013

Redação Publicado em 04/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h09


Apesar das chuvas acima da média em outubro, os reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo operavam nesta quarta-feira (3) com média de 39% da capacidade. O total de água que temos hoje na região é 9,2 pontos percentuais menor do que no mesmo dia de 2013, pré-crise hídrica, quando os reservatórios acumulavam 48,2%. Os dados são da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

A comparação com 2013 é importante porque nos dois anos seguintes São Paulo e região sofreram com o desabastecimento de água. Se agora temos menos água do que naquela época, a situação aponta para uma nova crise de abastecimento no ano que vem, de acordo com especialistas.

A gravidade da situação fica evidente quando comparada a 2013 apesar das chuvas acima da média no mês de outubro. Foram 166 mm de precipitação, enquanto a média histórica é de 122,3.

Ainda assim, os reservatórios não têm se recuperado o suficiente para garantir o abastecimento no ano que vem, de acordo com o professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Luiz Côrtes.

“Hoje, temos os sistemas de abastecimento mais interligados, a Sabesp colocou em operação um novo sistema de abastecimento (São Lourenço), o Sistema Cantareira conta com uma fonte adicional de água (transposição parcial da bacia do rio Paraíba do Sul) e a população consome cerca de 12% menos água do que no período pré-crise hídrica. Mesmo com tudo isso, estamos com um volume menor de água armazenada do que em 2013 e o prognóstico climático é desfavorável até a metade de 2022.”

Em nota, a Sabesp disse que não há risco de desabastecimento neste momento, mas reforça a necessidade do uso consciente da água. Leia a nota completa abaixo.

Só o Cantareira, maior reservatório da região e responsável por abastecer 7,2 milhões de pessoas, opera nesta quarta em faixa de restrição com 28,5%. No mesmo dia 3 de novembro de 2013, o manancial tinha 36,1%.

O nível atual é menor do que o registrado no dia 7 de março de 2016, quando o manancial chegou a 28,6%, de acordo com Côrtes.

“A diminuição do nível do Sistema Cantareira, mesmo com chuvas acima da média em outubro, mostra a gravidade da situação. Considerando todos os sistemas, estamos com um volume armazenado menor do que no mesmo período em 2013, ano que antecedeu a crise.”

O reservatório entra em faixa de restrição quando chega a um volume útil acumulado igual ou maior que 20% e menor que 30%, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). Para ser considerado normal, o volume do Cantareira tem de estar com pelo menos 60% de sua capacidade.

Na prática, a mudança de faixa de alerta para o de restrição diminui a quantidade de água que Sabesp pode retirar do reservatório. A Sabesp, porém, já vinha retirando 23 m³/s de água permitidos desde novembro do ano passado e não houve mudança na sua operação no mês passado, quando chegou a 29,9% da capacidade.

Depois da fase de alerta, a próxima é chamada de fase especial, quando o sistema tem volume útil menor que 20%. Em julho de 2014, quando houve a crise hídrica, o Sistema Cantareira chegou a zero. Abaixo dele, havia o volume morto, que não foi projetado, originalmente, para uso.

Trata-se de uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das comportas das represas do Cantareira. A Sabesp passou a operar bombeando água do volume morto. Até então, essa água nunca tinha sido usada para atender a população. Em outubro de 2014, o volume do Cantareira chegou a 3,6%.

Dentre os reservatórios, o Rio Claro é o que acumula maior déficit em relação a 2013: 48 pontos percentuais. A comparação abaixo não leva em consideração o Sistema São Lourenço porque ele passou a operar em 2018 – e apesar do sistema a mais, temos menos água no total. Veja a diferença entre os períodos:

Diferença de armazenamento entre 3 de novembro de 2013 e 3 de novembro de 2021

Sistema ProdutorPercentual armazenado em 3/11/2013Percentual armazenado em 3/11/2021Déficit 2021-2013 (em pontos percentuais)
Cantareira36,1%28,5%7,6
Alto Tietê50,6%39,7%10,9
Guarapiranga74,6%51,4%23,2
Cotia84,6%45,9%38,7
Rio Grande92%83,6%8,4
Rio Claro92,2%44,2%48
São Lourençonão se aplica68,1%não se aplica
Total48,2%39%9,2

Para José Antônio Faggian, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema), a situação atual já era esperada, mas não deixa de ser preocupante.

“Os reservatórios não tiveram recuperação significativa. Na verdade essas chuvas já eram esperadas, assim não tínhamos expectativas importantes”, afirma.

Em nota, a Sabesp disse que a projeção para a região metropolitana de São Paulo aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada.

“Visando à segurança hídrica e à preservação dos mananciais em momentos como o atual, um conjunto de medidas vem sendo adotado: integração do sistema (com transferências de água rotineiras entre regiões), ampliação da infraestrutura, gestão da pressão noturna para diminuir as perdas nas redes de distribuição e campanhas para o consumo consciente.” Leia a nota completa abaixo.

A gestão da pressão noturna a que se refere a Sabesp consiste em reduzir a pressão da água enviada as casas à noite e de madrugada, quando o consumo diminui e a pressão aumenta. A prática é importante para evitar perdas em caso de vazamentos, mas também é uma forma de racionamento, de acordo com Faggian.

Em setembro, o g1 ouviu moradores de todas as regiões da cidade, que relataram falta de água mais cedo do que o costume em suas casas.

Verão seco

O déficit de chuvas não ocorre apenas na região metropolitana. Cinco estados brasileiros, entre eles São Paulo, enfrentam o que já é considerada a pior seca em 91 anos, de acordo com um comitê de órgãos do governo federal, que emitiu pela primeira vez na história um alerta de emergência hídrica.

Além da falta de água nas torneiras de casa, da conta de luz mais cara e do risco de apagão, a seca pode ter impactos significativos na economia brasileira, que depende da água principalmente para a agricultura, pecuária e indústria.

Pela previsão do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Cantareira atingiria o patamar de 30% de sua capacidade somente no final deste ano. E ao contrário do que diz a Sabesp, que conta com mais chuvas, a previsão é de que os próximos meses é de mais seca, de acordo com Côrtes.

“As previsões climáticas estão se confirmando. No início da primavera, temos o retorno das chuvas e isso pode dar uma sensação de volta à normalidade. Com a proximidade do verão, entretanto, essas chuvas vão diminuir pelo efeito de um novo La Niña. No período primavera-verão de 2021-2022, o total de chuvas será abaixo da média histórica. Isso reforça a necessidade de economizarmos água, pois esse prognóstico de redução de chuvas se estende para o primeiro semestre de 2022.”

O La Niña é um fenômeno que, ao contrário do El Niño, diminui a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico tropical central e oriental. Mas, assim como o El Niño, gera uma série de mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperatura no planeta.

O que acontece é que o La Niña muda o padrão de ventos na região equatorial, que se tornam menos intensos, e isso muda a chegada das frentes frias da região sul em direção a São Paulo.

Assim, o fenômeno reduz as chuvas na porção Sul do Brasil, e isso pode ter repercussão em São Paulo, dependendo de sua intensidade.

O que diz a Sabesp:

A Sabesp informa que a região metropolitana de São Paulo é abastecida pelo Sistema Integrado (composto por sete mananciais: Alto Tietê, Cantareira, Cotia, Guarapiranga, Rio Claro, Rio Grande e São Lourenço) que permite transferências rotineiras de água entre regiões, conforme a necessidade operacional. Em outubro, o nível do Sistema Integrado apresentou estabilidade: 38% em 1/10 e 38,6% em 31/10.

Não há risco de desabastecimento neste momento, mas a Companhia reforça a necessidade do uso consciente da água. A projeção para a região metropolitana de São Paulo aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada.

A situação atual do Sistema Cantareira não prevê alteração na operação. A Companhia vem retirando do sistema 23 m³/s (limite máximo autorizado na faixa de restrição) há um ano (nov/2020), o que é possível graças à integração com os demais sistemas.

Visando à segurança hídrica e à preservação dos mananciais em momentos como o atual, um conjunto de medidas vem sendo adotado: integração do sistema (com transferências de água rotineiras entre regiões), ampliação da infraestrutura, gestão da pressão noturna para diminuir as perdas nas redes de distribuição e campanhas para o consumo consciente.

A Sabesp vem realizando nos últimos anos ações que dão mais segurança hídrica. Destaque para a Interligação Jaguari-Atibainha (que traz água da bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira) e o novo Sistema São Lourenço, ambos entregues em 2018.

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G1

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