Diário de São Paulo
Siga-nos

“Apaga, me dá gatilho!”: o que é gatilho de fato e como um meme pode fazer mal

Se você é assíduo nas redes sociais, talvez já tenha se deparado com a frase “apaga, isso me dá gatilho!”, e provavelmente ela foi utilizada fora de contexto.

“Apaga, me dá gatilho!”: o que é gatilho de fato e como um meme pode fazer mal
“Apaga, me dá gatilho!”: o que é gatilho de fato e como um meme pode fazer mal

Redação Publicado em 11/01/2020, às 00h00 - Atualizado às 22h12


Recentemente, os gatilhos traumáticos viraram assunto (e piada!) na internet. Entenda por quê eles merecem atenção

Se você é assíduo nas redes sociais, talvez já tenha se deparado com a frase “apaga, isso me dá gatilho!”, e provavelmente ela foi utilizada fora de contexto. Isso porque, nos últimos meses, o termo virou uma piada frequente após o uso exagerado nas redes sociais.

A história começou no Twitter. “Fui postar um áudio do meu pai super fofo me dando bom dia e a menina mandou eu apagar porque era gatilho”, publicou uma usuária. A partir daí, o desabafo – que expôs um exagero recorrente na rede – transformou, quase imediatamente, os “avisos de gatilho” em piada. 

Antes de qualquer coisa, é importante explicar que “gatilho”, na psicologia, pode significar qualquer evento capaz de acionar novos comportamentos. Eles acontecem o tempo todo, como quando ficamos com fome ao ver um anúncio de pizza na internet, por exemplo.

Para além do cotidiano e dos memes, porém, imagens de violência física, sexual ou situações estressantes podem causar gatilhos negativos e que merecem atenção: crises graves de ansiedade e agravamento de traumas estão entre os riscos. Para evitá-los, tornou-se comum na internet o “aviso de gatilho”, que costuma aparecer antes de conteúdos potencialmente sensíveis.

Pelo mesmo motivo, existem configurações internas nas redes sociais que escondem imagens desse tipo ou pedem uma autorização do leitor antes de continuar, como no Twitter e Instagram. Apesar disso, algumas publicações mais específicas ou com uso exclusivo de texto podem escapar desse filtro.

Usuária frequente do Whatsapp, a analista de comunicação Sara Pimentel* diz que já enfrentou situações difíceis em um grupo. “Fui criada num lar muito violento. Tenho traumas com violência doméstica e violência contra a mulher por causa disso e, sem aviso, recebi um vídeo de uma senhora idosa levando socos e pontapés”, recorda.

Sara, que é diagnosticada com transtorno de ansiedade, também conta que precisou faltar ao trabalho naquele dia após se perceber em uma situação de alto estresse. “O problema da crise de ansiedade é que quando ela começa, mesmo que por um motivo bobo, a gente começa a pensar em outras coisas mais graves”.

Como o gatilho funciona na nossa mente?

De acordo com o psicólogo Oswaldo Rodrigues, os gatilhos negativos podem causar “emoções que parecem desconexas da realidade, mas na verdade são uma resposta do corpo para ‘evitar’ uma situação desconhecida”.

Na prática, esse mecanismo pode causar o efeito inverso e fazer com que a pessoa “revisite” o trauma através de crises de choro, travamento muscular, sentimentos de desesperança ou outras reações involuntárias.

O problema torna-se ainda mais grave quando – como no caso da analista de comunicação – a pessoa exposta ao conteúdo possui algum diagnóstico psiquiátrico que exige atenção, como transtornos de ansiedade, de personalidade, depressão ou esquizofrenia.

Uso das redes sociais requer cuidado

Por isso – reforça o profissional – é uma questão de responsabilidade considerar alguns cuidados antes de publicar qualquer conteúdo na internet ou grupos de mensagens.

“Se imagens ou textos de qualquer natureza podem ser interpretados como violentos, há o risco de gatilho negativo para alguém”, diz.

IG.SAÚDE

Compartilhe  

últimas notícias