Ouvidoria de SP recebeu quase 6 mil denúncias de violência policial em 2019

Aos 17 anos, Gabriela Talhaferro enfrenta a quarentena com ansiedade. Ela perdeu a visão do olho esquerdo em novembro do ano passado, atingida por uma bala de

Ouvidoria de SP recebeu quase 6 mil denúncias de violência policial em 2019 -

Redação Publicado em 27/06/2020, às 00h00 - Atualizado às 23h25

Entre os casos está a de jovem que perdeu visão após ser atingida por bala de borracha

Aos 17 anos, Gabriela Talhaferro enfrenta a quarentena com ansiedade. Ela perdeu a visão do olho esquerdo em novembro do ano passado, atingida por uma bala de borracha disparada por um policial militar. O olho da adolescente foi alvejado na madrugada de 10 de novembro de 2019, um domingo, depois que a polícia dispersou uma multidão de jovens que aguardavam por um baile funk em Guaianases, na Zona Leste de São Paulo.

O caso aconteceu cerca de 20 dias antes da morte de nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, na comunidade de Paraisópolis, durante uma ação policial para dispersar um pancadão. Desde a agressão, Gabriela sofreu depressão, se trancou no quarto, ficou sem comer e perdeu mais de cinco quilos. Sete meses se passaram, mas não houve punição para o PM que disparou em direção ao seu rosto.

O tiro, relata Gabriela, partiu de uma viatura da PM que passou pela rua. Ferida, ela chegou a ir até os policiais e pedir ajuda, que foi negada:

— Tenho certeza que o policial quis me atingir de propósito, porque não havia outras pessoas perto. Eu estava praticamente sozinha na calçada. Quando vi o sangue fui até as viaturas pedir ajuda, eles riram e me xingaram — conta.

A adolescente foi acolhida pelos donos de uma adega. Foi a comerciante quem chamou um carro de aplicativo para que Gabriela fosse levada a um hospital. O caso foi denunciado à Polícia Civil e seguiu para a Corregedoria da PM. Gabriela e um amigo, separadamente, dizem ter reconhecido dois policiais que estavam na viatura de onde partiu os tiros. Porém, a corporação afirmou que os policiais reconhecidos não estavam de plantão no dia.

Em 2019, das 5.854 denúncias ou reclamações recebidas pela Ouvidoria das polícias de São Paulo, 2.069 são sobre atos como abuso de autoridade, lesão corporal, assédio moral, tortura e até crime sexual.

— Mesmo diante de tantos episódios de abuso, a cúpula das polícias trata como casos isolados. Não são. Eles se repetem diariamente e a violência se tornou corriqueira no policiamento — afirma o advogado Ariel de Castro Alves, conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe).

No último dia 18, os irmãos Isaaac Gabriel, de 24 anos, e Gabriel Osvaldo Gabriel, de 31, vendiam churrasco ao lado de uma quadra esportiva no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, quando seis viaturas chegaram. Eles relatam que começaram a recolher a carne, depois que os PMs lançaram bombas. Ao não pararem, após ordem dos policiais, foram agredidos.

Para fazer a denúncia, os irmãos receberam apoio da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, de apoio a vítimas de abuso policial. À Polícia Civil, os dois disseram terem sido levados para um Batalhão da PM, onde assinaram, sem tempo para ler, um termo de declaração. Em seguida, foram encaminhados a uma delegacia de polícia.

A Secretaria de Segurança Pública informou apenas que os casos de Gabriela Talhaferro e dos irmãos Gabriel estão sendo investigados pelas Polícias Civil e Militar. A Ouvidoria das polícias informou que acompanha as denúncias.

IG

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