A Justiça Militar de São Paulo arquivou o caso de um policial militar investigado pela morte de um entregador de pizzas sob a alegação de que a arma do agente
Redação Publicado em 04/12/2018, às 00h00 - Atualizado às 08h11
A Justiça Militar de São Paulo arquivou o caso de um policial militar investigado pela morte de um entregador de pizzas sob a alegação de que a arma do agente disparou sozinha. Segundo o Ministério Público (MP), laudos periciais constataram falhas na fabricação da pistola.
David Soares de Freitas, de 20 anos, foi morto com um tiro da pistola calibre .40 do soldado da Polícia Militar (PM) Rafael Junior Pereira. O incidente ocorreu na noite de 12 de junho deste ano, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.
Naquela ocasião, o PM e um outro policial faziam patrulhamento de moto pela Avenida Guido Aliberti quando notaram dois homens considerados suspeitos numa motocicleta. David estava na garupa com uma mochila para entregar pizzas.
Os agentes tinham informações de uma dupla de moto que cometia roubo de celulares na região, usando como disfarce uma mochila de entrega de pizzas. Diante disso, os policiais decidiram abordá-los.
No momento da abordagem, o soldado perdeu o controle da sua moto, caiu e a arma disparou, segundo ele, acidentalmente. O PM ainda argumentou que não estava com o dedo no gatilho quando ocorreu o tiro acidental.
O entregador David foi socorrido pelos próprios policiais. Levado ao Hospital de Heliópolis, na Zona Sul da capital, ele não resistiu ao ferimento no tronco e morreu em 13 de junho. Os agentes não encontraram com os suspeitos os celulares roubados que procuravam.
A defesa do soldado afirmou ao G1 que a arma que falhou é apenas uma das inúmeras que estão com problemas na PM de São Paulo.
O advogado de Rafael Junior Pereira, João Carlos Campanini, contou que o PM não quer falar com a imprensa sobre o caso.
À época, o caso foi registrado como homicídio culposo, sem intenção de matar, numa delegacia de São Caetano do Sul. Casos de homicídios culposos praticados por PMs são de competência da Justiça Militar e não da Justiça comum, que atua, por exemplo, em homicídios dolosos (com intenção) cometidos por policiais.
De acordo com o laudo do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica, a arma da marca Taurus, que estava com o soldado e pertence à PM, apresentou falhas durante os testes realizados.
O G1 entrou em contato com a Polícia Militar e com a Taurus, fabricante da arma, para comentarem o assunto sobre a pistola modelo PT 24/7 Pro LS Tatical, número de série SBU 22244. Até a publicação desta matéria, a corporação e a empresa não havia retornado o contato.
A reportagem não encontrou os familiares de Davi para falarem do caso.
O pedido de arquivamento do inquérito que apurava o caso foi feito pelo promotor Marcelo Del Bianco Cestaro.
“As falhas de fabricação constatadas na arma de fogo vão ao encontro do relato do investigado, que aduziu que seu dedo sequer estava no gatilho da pistola quando houve o disparo”, escreveu Cestaro. “Assim, mostra-se coerente que o defeito no material bélico, que possibilita o disparo sem que o miliciano contribua para tanto, tenha sido a causa do disparo involuntário”.
Ainda segundo o promotor, os laudos na pistola demonstram que o soldado não pode ser responsabilizado pela morte do entregador de pizzas.
O juiz Enio Luiz Rossetto concordou com a argumentação do MP e determinou o arquivamento do caso.
Em 2017, o Fantástico fez reportagem sobre os problemas com armas das forças de segurança no Brasil. Veja vídeo abaixo:
Ainda em 2017, a Polícia Militar de São Paulo informou que iria comprar 5 mil pistolas no exterior em decorrência das falhas apresentadas em algumas armas.