Os calos nas mãos do pedreiro de Sorocaba (SP) João Bremer, de 42 anos, e da esposa, Cleide Freire de Jesus, de 36, fazem parte do acabamento de uma obra
Redação Publicado em 26/10/2017, às 00h00 - Atualizado às 12h33
Os calos nas mãos do pedreiro de Sorocaba (SP) João Bremer, de 42 anos, e da esposa, Cleide Freire de Jesus, de 36, fazem parte do acabamento de uma obra fundamentada no sonho de um futuro concreto.
Juntos, marido e mulher colocaram – literalmente – as mãos na massa e empilharam bloco por bloco para darem forma à casa própria que vivem hoje após muito mais esforço além do físico, como economizar até na comida do almoço e do jantar.
Em entrevista ao G1, João conta que no período de “perrengue” ele e a esposa foram obrigados a entrar em uma dieta nada fácil, que consistia em comer gelatinas na maioria dos dias.
“Comemos mais de mil gelatinas para economizar. Pelo menos dávamos para dar uma variada para não enjoar do sabor”, brinca.
Sozinhos, os dois fizeram uma força-tarefa para levantarem as primeiras paredes da casa com empréstimos e os sacrifícios diários. No entanto, vândalos entraram na residência que alugavam e levaram todos os móveis antes de organizar a mudança.
Apesar de abalados com o furto, a notícia de que a família iria aumentar fez acelerar o processo que, até então, tinha andamento aos fins de semana.
Grávida, Cleide ajudou o marido a finalizar a casa ao ponto de poderem ter mínimo de conforto para receber a filha que chegaria ao mundo.
“Só tínhamos praticamente uma cama usada, colchão e geladeira que não conseguiram levar. Demorou, mas conseguimos comprar bastante coisa aos poucos e também ganhamos móveis de parentes”, lembra João.
A profissão no ramo da construção entrou por acaso e ao mesmo tempo por necessidade há 20 anos na vida do pedreiro.
João conta que na época foi procurado por uma mulher para construir um muro, mas havia um problema: ele não entendia nada sobre a área.
“Eu não tinha ideia de como construía”, diz. João resolveu apresentar um orçamento bem mais alto, para ‘assustar’ a cliente, mas ela aceitou pagar o que ele pediu.
“Foi um desafio e foi por Deus, porque deu tudo certo e parecia que eu fazia aquilo há muito tempo”, diz. A experiência na ocupação – celebrada nesta quinta-feira (26) com o Dia do Trabalhador da Construção Civil – deu tão certo que deslanchou.
O passar dos anos veio com o aprimoramento em meio aos estudos.
“Comecei a trabalhar na roça com seis anos, mas minha mãe mandou ir para a cidade para estudar e trabalhar. Levei isso a sério e depois que aprendi a trabalhar com construção ficava bem cansado, mas dava um jeito de ir para a escola”, conta.
Após mudar várias vezes de cidade e terminar cursos técnicos na área de saúde, ele tentou cursar faculdade, mas, na época, a rotina puxada o obrigou a abandonar por ora o sonho do diploma universitário.
Hoje, 12 anos depois de cruzar pela primeira vez os portões da faculdade, a batalha pela finalização da casa terminou também com a conquista da graduação.
O agora fisioterapeuta trabalha na construção durante a semana e tem como meta para o próximo ano a pós-graduação em gestão em saúde e, quem sabe, comemorar o Dia do Trabalhador da Construção Civil com nostalgia.
“Trabalhar com pessoas tem seus momentos emocionantes e tristes. Faz parte. Mas posso dizer que todo esforço vale a pena.”
João conheceu a esposa pelas redes sociais há 7 anos. De acordo com o pedreiro, foram longos meses “teclando” até se apaixonar e ir conhecê-la pessoalmente no Rio Grande do Norte.
“Um dia fui para Natal, marquei de ver a Bela e a Fera com ela e tomei dois ‘tocos’, mas não desisti e saímos. Normalmente se pede a pessoa em namoro, mas pedi em casamento logo. Levei mais quatro ‘nãos’ até aceitar e eu fui falar com o pai dela”, relembra.
Após o pedido, os dois entraram em um acordo e voltaram para São Paulo para que ele terminasse a faculdade. Foi esse o primeiro desafio do casal durante seis meses com ela dormindo na casa de amigos e ele na construção que não tinha portas.
“Foram tempos difíceis, mas ficamos um do lado do outro. Comprei um terreno e consegui também alugar dois cômodos em Sorocaba, com algumas infiltrações, mas já era alguma coisa. Ficamos lá até decidirmos construir a nossa casa e termos nosso cantinho hoje.”