O breve diálogo entre a aposentada Claudete Fernandes da Silva Nogueira, de 59 anos, e um voluntário marcou o marcou o primeiro momento ao ver a casa
Redação Publicado em 19/09/2017, às 00h00 - Atualizado às 08h00
Eu não mereço tudo isso
– Mas é claro que merece.”
O breve diálogo entre a aposentada Claudete Fernandes da Silva Nogueira, de 59 anos, e um voluntário marcou o marcou o primeiro momento ao ver a casa construída e entregue a ela ao pôr-do-sol da última sexta-feira (15), no Jardim São Camilo, em Sorocaba (SP).
Com a mão no rosto, passos lentos com ajuda da bengala e o choro, só que desta vez de felicidade, os sentimentos distintos tomaram conta de Claudete ao entrar no novo lar.
Mas ela não estava só. Em seguida, foi a vez do segundo morador conhecer a residência, o Rex, cachorro de estimação que não via desde quando foi “despejada” por enteados da casa que vivia com o marido, morto em 2016.
Claudete tentou, mas não conseguiu conter as lágrimas ao se deparar com o sonho da casa própria concretizado.
“A vida é outra. Eu estou boba de tão feliz, o cachorro também. Não tenho como falar de tanta alegria que eu estou sentindo. Sofri e chorei tanto, agora choro de alegria. Uma casa é tudo, um sonho que eu não poderia realizar”, comemora.
A conquista, segundo a aposentada, só foi possível com o esforço coletivo de dezenas de pessoas por meio de doações de materiais, mão-de-obra ou até mesmo que compartilharam a ideia na internet.
Quem começou com o projeto foram os advogados e sócios Tales Pereira Cardoso Filho e Hélen Garbim, que cuidaram do caso em âmbito judicial já na sentença.
Na ocasião, os enteados da Claudete entraram com uma ação e conseguiram na Justiça o direito de ficarem com outra casa, onde ela morava com o falecido marido.
Ao ter que entregar a residência, Claudete se viu sem ter onde ficar. Foi então que os sócios publicaram a história na internet e mobilizaram a campanha, finalizada com a entrega da chave da casa e o Rex, que ficou aos cuidados da advogada enquanto ela se abrigava com uma amiga.
“A hora que a gente estava chegando aqui [na casa] bateu um nervosismo tremendo em mim. Eu imaginava que ela [Claudente] ficaria grata, mas foi muito bom ver a emoção, fez tudo valer a pena. Eu me apeguei muito a Rex e vai ser difícil ficar sem ele. Agora vou fazer visitas, já até avisei a Claudete”, brinca Hélen.
O marido com quem Claudete viveu 20 anos morreu em janeiro de 2016. Após a perda, ela se viu sem um teto sobre a cabeça e apenas com o vira-lata ao ter deixar a casa, na Vila Progresso, em Sorocaba, para os filhos do companheiro.
A situação chegou primeiramente para Hélen pela Defensoria Pública, na etapa de execução de sentença. De acordo com o advogado, não havia mais como reverter a situação jurídica.
“O companheiro dela possuía filhos de outro casamento, então, a casa que o casal residia era de propriedade desses filhos, com usufruto do pai, que acabou com a morte dele. Os filhos entraram com a ação para retirá-la de lá”, explicou Talles.
Em maio, Claudete foi retirada da casa, junto com o Rex. Na ocasião, os advogados conseguiram que ela ficasse na casa de uma amiga, por não ter condições de pagar um aluguel com cerca de R$ 600 ao mês dividido também entre comida e medicamentos.
Alguns vizinhos chegaram a se solidarizar e doavam alimentos. Claudete também trata epilepsia, pressão alta, diabetes e possui cerca de 20% da visão.
“Como advogados, infelizmente, não tivemos mais o que fazer. O direito dos filhos do falecido marido era inquestionável. Mas, como seres humanos, abraçamos a causa”, afirmou.
As paredes de uma antiga construção herdada dos pais no Jardim São Camilo, zona norte de Sorocaba, estavam quase caindo, segundo os voluntários. Logo que souberam da existência da propriedade, o grupo levou um profissional para avaliar a estrutura e fazer um orçamento.
“A situação estava desesperadora e absurdamente triste. Por isso, pedimos ajuda para quem pudesse doar dinheiro, material ou até mesmo mão-de-obra”, lembra Hélen.
A casa precisava de laje, telhado, contrapiso, piso, reboco, pintura, parte elétrica e hidráulica. Para conseguirem o dinheiro, um texto e fotos do caso foram publicados nas redes sociais e compartilhado por milhares de pessoas, que também se comoveram. Foi o primeiro passo para a execução do projeto.
De acordo com Hélen, no início eles acreditavam que seriam gastos cerca de R$ 12 mil, mas foram cerca de R$ 30 mil. Valor bem acima do arrecado, mas suprido com insistência de todos os envolvidos. “Começou como uma cliente e termina com uma amizade. Foi um trabalho lindo de muita gente”, finaliza a advogada.