Pelo menos 11 cidades da Grande SP têm estoque baixo de vacina antirrábica para animais de estimação

Outras 13 cidades, entre elas a capital e Guarulhos, afirmam ter estoque suficiente, e 15 municípios não responderam aos questionamentos da reportagem.

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Redação Publicado em 22/08/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h26

Pelo menos 11 das 39 cidades da região metropolitana de São Paulo registram estoque baixo de vacinas antirrábicas, que previnem a raiva em animais de estimação, segundo levantamento da TV Globo. Veterinários afirmam que alguns animais já estão com carteirinha de vacinação vencida há meses.

Outras 13 cidades, entre elas a capital e Guarulhos, afirmam ter estoque suficiente, e 15 municípios não responderam aos questionamentos da reportagem.

Sem mutirões de vacinação por conta da pandemia, a imunização dos animais continua ocorrendo na cidade de São Paulo, mas os donos dos pets precisam procurar um dos 17 postos de vacinação de animais da prefeitura ou clínicas particulares. A ausência de campanhas causou uma queda no número de animais vacinados pela prefeitura.

“A raiva é uma doença mortal, quase 100% dos casos contraídos por humanos são mortais. E a forma de proteger humanos é proteger os animais com a vacinação antirrábica”, explica Sérgio Zanetta, professor de saúde pública do Centro Universitário São Camilo.

O estado de São Paulo não registra casos humanos de raiva pela variante canina desde 1997, e desde 1998 não há casos pela variante felina. No entanto, ainda há casos esporádicos em cães e gatos, além de um número maior de registros em morcegos, cavalos e vacas.

O especialista Sérgio Zanetta explica que a transmissão para animais de estimação pode ocorrer a partir de morcegos contaminados.

“Nós temos que manter o controle da transmissão por causa da ocorrência de acidentes com morcegos. Cerca de 20% das espécies de morcegos são transmissoras de raiva. É possível haver contato humano ou contato de cães e gatos com morcegos e é aí que ocorre a transmissão”, diz Zanetta.

A diretora do Instituto Pasteur, vinculado à secretaria estadual da Saúde, disse que as doses são distribuídas de acordo com a demanda de cada município.

“É um quantitativo menor que é distribuído ao longo dos meses e dos anos, durante o ano para evitar o risco da transmissão da Covid”, disse Luciana Hardt.

Escassez de medicamentos

O aumento na demanda por medicamentos anestésicos, especialmente aqueles usados no kit intubação para tratar pacientes com Covid-19, afetou a realização de cirurgias em animais de estimação em São Paulo. O fornecimento de vacinas contra a raiva de diversas marcas também foi afetado, e a antirrábica ficou em falta em diversas clínicas particulares na capital.

O Centro Veterinário Seres, marca do Grupo Petz, que tem 117 unidades em todo o país, chegou a suspender a realização de cirurgias eletivas em todas suas clínicas e hospitais. Veterinários independentes também relataram que procedimentos cirúrgicos foram adiados por conta da escassez de medicamentos.

Animais de estimação de São Paulo tiveram cirurgias adiadas e estão com vacinação atrasada por falta de insumos em veterinários; na foto, cachorro e gato que aguardam chegada da vacina antirrábica — Foto: Arquivo pessoal

Segundo o presidente da comissão de clínicos de pequenos animais do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP), Marcio Mota, o abastecimento de clínicas veterinárias passou por um período “muito crítico” entre março e abril, no pico da epidemia no estado.

“Naquele momento mais crítico da pandemia chegamos a ter relato de falta ou limite na distribuidora. Hoje, acha mais facilmente, tem uma distribuição, mas o preço está lá em cima. […] há uma grande dificuldade de adquirir alguns anestésicos”, disse.

O representante do CRMV ressalta que houve um aumento no preço dos insumos, especialmente aqueles usados no kit intubação, como o Propofol, cuja escassez também foi relatada em hospitais para Covid-19 em março.

“O Propofol, por exemplo, as clínicas antes compravam uma caixa por R$ 100. Hoje, a indústria vende a mesma caixa com cinco ampolas por R$ 1 mil”, afirma Marcio Mota.

Caixas de medicamentos do kit intubação, necessários no tratamento de pacientes com Covid-19, em um hospital de São Paulo em abril — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Segundo Vanessa Nishimoto, veterinária na Zona Leste de São Paulo, as cirurgias eletivas ficaram paradas por diversas semanas no pico da pandemia por conta da falta de remédios anestésicos, como Propofol, Azelan e Fentanil.

“Quando eram procedimentos mais simples, a gente optou por remarcar, jogar pra frente. A cirurgia que a gente manteve foi, por exemplo, de animal que chega atropelado, coisa que não tem como aguardar mesmo”, explica.

Veterinário na Zona Sul de São Paulo, Tarcísio de Barros Aranha também relatou dificuldade para adquirir uma série de medicamentos usados em cirurgias, além da vacina antirrábica. Em diálogos por WhatsApp, diversos fornecedores lhe confirmaram que os produtos estão em falta.

Um dos pets que ele atende em seu consultório, o gato Terêncio, de 4 meses, teve a cirurgia de castração e a vacinação contra raiva adiadas por conta da falta de insumos.

Gato Terêncio , também conhecido como MC Fioti, em homenagem ao autor da música Bum bum tan tan, teve a vacinação contra a raiva adiada por conta da escassez da vacina antirrábica em São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Além da suspensão e adiamento de cirurgias eletivas, a falta de insumos também está causando atrasos na vacinação contra a raiva de cães e gatos em São Paulo.

Segundo a veterinária Vanessa Nishimoto, como a imunização deve ser anual, alguns animais já estão com carteirinha de vacinação vencida há meses.

Um dos cães consultados pela veterinária, o labrador Pingo está com a antirrábica atrasada há mais de dois meses.

“São todas as marcas, estão todas em falta. O problema é que a raiva é uma zoonose, então é uma preocupação. Animais que tomaram no começo de 2020 já estão com mais de 3 meses de atraso”, explica Nishimoto.

O veterinário Tarcísio diz que estão priorizando os animais que saem às ruas. “Deixamos os que só vivem em casa para depois”.

Terêncio, o MC Fioti, aguarda castração e vacina da raiva — Foto: Arquivo pessoal

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Fontes: G1 – Globo.

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