“É justo dizer que a savanização já está ocorrendo na Amazônia e que estamos vendo a primeira fase desse fenômeno”, afirma Scott Stark, pesquisador da
Redação Publicado em 18/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 18h15
“É justo dizer que a savanização já está ocorrendo na Amazônia e que estamos vendo a primeira fase desse fenômeno”, afirma Scott Stark, pesquisador da Universidade Estadual de Michigan. Ao lado de pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), da Universidade do Arizona, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Embrapa Amazônia Oriental, Stark estuda os fatores que determinam se florestas tropicais serão convertidas em áreas semelhantes às savanas a longo prazo .
O processo chamado de “ savanização ” consiste na diminuição da cobertura florestal e na transformação da estrutura da vegetação. Ele ocorre através da diminuição da chuva e do aumento das secas causados pelas mudanças climáticas, do desmatamento e das queimadas .
“É como um ciclo que se repete e se amplifica. Esse ciclo pode deixar uma área regional grande savanizada, muito mais seca do que agora, com consequências ecológicas e sociais”, afirma Susan Aragón, pesquisadora da Ufopa.
Scott Stark observa que a savanização é comum na história ecológica do mundo, mas o estudo indica que hoje ela está acontecendo de forma mais acelerada do que o esperado. “As mudanças climáticas e perturbações de atividades humanas estão acontecendo rapidamente”, diz ele.
Nesse sentido, Aragón lembra que é importante distinguir a atuação da agroindústria do papel dos pequenos produtores e caboclos. “Os grandes empreendimentos de agronegócio e desmatamento para gado são os que criam maior problema na Amazônia ”, afirma ela.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que, em setembro deste ano, a Amazônia perdeu 964,45 km² de floresta por desmatamento . Este é o segundo pior índice para o mês. Além disso, nos primeiros 11 dias de outubro de 2020, já foram registrados 8.662 focos de incêndio . Esse número supera os 7.855 pontos do mês inteiro de outubro de 2019.
“O processo de aumento de fogo, degradação e desmatamento é vinculado aos fatores políticos e econômicos bem mais do que à sobrevivência de pessoas rurais”, diz Stark.
O impacto que a savanização da floresta amazônica pode ter no regime de chuvas é uma das maiores preocupações. “Os rios voadores vão da Amazônia para o sul, para a Argentina e para o Paraguai”, diz Aragón, ao explicar que as consequências não são apenas locais e podem prejudicar plantações com a diminuição de precipitação.
Outra consequência está vinculada à biodiversidade, que, com a savanização, pode sofrer e diminuir. “Essas plantas e animais não têm as características apropriadas para sobreviver ao fogo e a microclimas mais secos e quentes”, explica Stark.
Além disso, ele observa que, a fim de combater o aquecimento global, é mais vantajoso manter um dossel fechado, como o da floresta amazônica, do que um dossel aberto, como o da savana.
O pesquisador também diz que “os efeitos na atmosfera são enormes”. Como uma floresta tropical, a Amazônia aumenta a evapotranspiração e esfria a atmosfera. Por isso, “a conversão da floresta amazônica em savana pode aumentar a temperatura global ao redor de 1°C”, explica Stark.
Ele também acredita que “existe a possibilidade de mitigar a savanização de longo prazo e promover a trajetória de recuperação para floresta fechada”. Stark defende que políticas e fiscalização para manejo sustentável seriam efetivas, bem como o reflorestamento.
“Essas florestas são resistentes e podem sobreviver a secas, mas temos que diminuir fatores como o desmatamento em grande escala”, conclui Stark.
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IG
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