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África: falta de registro de óbito dificulta monitoramento de covid-19

Muito tempo depois de o financiamento de seu projeto ser congelado, o médico Bilal Endris mantém uma vigilância solitária nos cemitérios da capital da Etiópia

África: falta de registro de óbito dificulta monitoramento de covid-19
África: falta de registro de óbito dificulta monitoramento de covid-19

Redação Publicado em 13/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h10


Na Etiópia, menos de 2% das mortes são registradas

Muito tempo depois de o financiamento de seu projeto ser congelado, o médico Bilal Endris mantém uma vigilância solitária nos cemitérios da capital da Etiópia dando dinheiro aos sepultadores para que eles alertem sua equipe para qualquer salto repentino nos enterros.África: falta de registro de óbito dificulta monitoramento de covid-19

Em uma nação onde menos de 2% das mortes são registradas, um aumento de enterros pode ser um dos primeiros sinais de que uma doença fatal está se alastrando.

O programa foi criado para monitorar óbitos ligados ao HIV e à AIDS uma década atrás. Agora, o doutor Endris monitora um aumento de fatalidades ligadas à covid-19.

Projetos como este estão sendo montados em outros países da África em que muitas mortes não são registradas, o que torna difícil avaliar a escala de uma doença. Em alguns casos, países estão reativando programas criados durante surtos de Ebola.

O próprio Endris conseguiu um financiamento adicional para reativar o programa em todos os 73 cemitérios de Adis Abeba, e não somente nos 10 atuais.

Sozinhos, oito países africanos – Argélia, Cabo Verde, Djibouti, Egito, Ilha Maurícia, Namíbia, Seychelles e África do Sul – concentram mais de 75% das mortes ligadas à pandemia, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Em outras regiões nas quais dados oficiais estão disponíveis de imediato, pesquisadores usaram o número de mortes de todas as causas que ultrapassam a média daquele período do ano para ajudar a calcular o número relativo à pandemia de coronavírus.

“Na Etiópia, e em todo canto da África… estamos ficando cegos”, disse Endris à Reuters. “Eu queria fazer com que o sistema de saúde se baseasse em indícios.”

Na capital Adis Abeba, menos de 20% das mortes ocorrem em hospitais, disse Endris, por isso monitorá-las exige conversar com líderes comunitários e locais de enterro.

Na Nigéria, a nação mais populosa do continente, reportagens que citaram sepultadores alertaram as autoridades para um surto não detectado de covid-19 em Kano, uma cidade do norte, em abril, quando as mortes saltaram da média diária de 11 para 43.

Embora as cifras oficiais ainda sejam baixas – 7.650 casos confirmados e 127 mortes até a noite de domingo – o surto etíope está se acelerando. Agora a Universidade de Adis Abeba está dando apoio suficiente para Endris reativar o programa em todos os 73 cemitérios da cidade.

REUTERS

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