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Afinal, dá para explicar por que as guerras existem?

Por Kleber Carrilho

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Redação Publicado em 05/03/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h13


Por Kleber Carrilho

Afinal, dá para explicar por que as guerras existem?

Desde que a História existe, as guerras estão presentes. E as críticas a elas também. Afinal, a pergunta que se faz desde que os humanos passaram a guerrear foi: por que atacar alguém, optar por matar um povo, perseguir pessoas, fazê-las sofrer? Será que é só para ter mais poder?

As respostas, durante muito tempo, foram sempre claras: porque não tem outra forma de manter o que se tem. Isso mesmo! As guerras tinham explicações em geral baseadas na ideia de que há um risco de que o adversário tome para si um acesso a um lugar em que existem recursos econômicos que, se não forem mantidos, deixarão o povo em risco de não conseguirem se desenvolver, de passar fome, de não dar conforto para as próximas gerações.

Mas você pode estar dizendo agora que eu estou simplificando as guerras, e que elas são muito mais do que isso. Sim! Elas podem ter outros componentes, como os de fundo nacionalista ou mesmo relações com a religiosidade. Mas, na origem, o medo da fome e da diminuição dos recursos para a sobrevivência é o que faz com que elas existam. E mais: que elas sejam apoiadas pelas pessoas comuns, que acreditam na narrativa de quem comanda.

Mas há outros fatores também, principalmente para quem se empolga com a possibilidade de participar ativamente de conflitos. Entre eles, a possibilidade de que se viva uma grande aventura, que com certeza trará, para quem participa das batalhas, uma possibilidade de se colocar como herói, como alguém que deve ser admirado pelo que dedicou à causa. A tão chamada glória, que continua sendo usada como principal argumento inclusive pela guerra que acontece agora. Mesmo os que vão ao front obrigados precisam ser treinados para participar da história do heroísmo e da aventura, que é incutida pelas lideranças militares, no processo de preparação para o confronto.

Nos tempos em que vivemos, tudo isso vai além: é complementado pela comunicação ágil, que pode ser considerado o principal estopim para o início dos conflitos. E mais: com as redes sociais e os aplicativos de mensagem, a possibilidade de ter acesso a detalhes muito mais exclusivos do “show” de cada embate é também algo que estimula quem se deixa seduzir pela possibilidade de participar da História.

Por isso, a guerra existe e vai continuar existindo. Pessoas vão morrer em nome de causas distantes, de riscos que realmente nem existem, mas com certeza estão presentes dos discursos dos líderes, nas conversas nas redes sociais, nas fakenews distribuídas pelo WhatsApp e pelo Telegram.

E todos vão continuar querendo participar, mesmo quem está do outro lado do mundo, ao ver as notícias pela TV, ao definir a partir de análises rasas quem está certo e quem está errado, ao colocar bandeiras nas fotos de perfis e nas timelines.

Por isso, não se preocupe. Esta é só mais uma guerra. Outras virão, infelizmente.

Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
Instagram: @KleberCarrilho
Facebook.com/KleberCarrilho
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