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A volta do fantasma do sarampo

Quando o historiador e religioso britânico Thomas Fuller morreu, no longínquo ano de 1661, o Brasil não passava de uma colônia de exploração portuguesa além

A volta do fantasma do sarampo
A volta do fantasma do sarampo

Redação Publicado em 06/07/2018, às 00h00 - Atualizado às 11h01


Quando o historiador e religioso britânico Thomas Fuller morreu, no longínquo ano de 1661, o Brasil não passava de uma colônia de exploração portuguesa além mar. Fuller morreu provavelmente sem sequer ter pisado no Brasil, mas é dele a máxima que tem tudo a ver com a mais recente crise que se abateu sobre a nossa saúde pública.

Disse Fuller, no Século 17: “Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.” Relaciono o pensamento do europeu com o surto de sarampo na Região Norte, que já levou o Estado do Amazonas a decretar estado de emergência. Até 20 de junho, 263 casos de sarampo já foram confirmados no Amazonas, enquanto 1.368 permanecem em observação. No vizinho estado de Roraima, duas mortes já foram registradas.

Desde 2001 o Brasil não registrava um caso autóctone (contraído em seu próprio território) da doença. Isso se deve à excelente cobertura vacinal no País, o que levou a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) a nos conferir o certificado de eliminação do sarampo. De repente, o retrocesso. Por quê?

No caso de Roraima, em especial, a volta do sarampo é atribuída aos refugiados venezuelanos que têm entrado no Brasil aos milhares pela fronteira. Entretanto, a situação é muito mais grave do que parece: segundo o Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, a cobertura da vacina Tetra Viral – aplicada em crianças de um ano de idade para prevenir o sarampo, caxumba, rubéola e varicela – no Brasil em 2017 teve a menor abrangência em 16 anos, atingindo 70,6%. Ou seja, três em cada 10 crianças deixaram de ser imunizadas, um dado alarmante.

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri avalia que as vacinas acabam sendo ‘vítimas de seu próprio sucesso’. Em outras palavras, seguras com a ausência da doença em seu cotidiano, as pessoas passam a imaginar que estão livres dela definitivamente. E é aí que mora o perigo.

Em 1904, no episódio conhecido como a “Revolta da Vacina”, a população pobre e pouco esclarecida do Rio de Janeiro à época reagiu às campanhas de imunização organizadas pelo Governo, causando conflitos urbanos violentos por pura falta de informação, já que a boa vontade dos governantes em investir em campanhas de conscientização era a mínima possível. Negligência desse tipo nos primórdios do Século 20 é até compreensível. Todavia, em pleno Século 21, com a internet e a era das informações instantâneas a todo vapor, é algo absolutamente inadmissível.

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