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A trajetória de Kaio Jorge: do futsal de Sport e Náutico a contrato milionário no Santos

Se existe uma palavra que pode definir bem o atacante Kaio Jorge, 16 anos, nova joia das categorias de base do Santos, é "determinação". O garoto corre atrás

A trajetória de Kaio Jorge: do futsal de Sport e Náutico a contrato milionário no Santos
A trajetória de Kaio Jorge: do futsal de Sport e Náutico a contrato milionário no Santos

Redação Publicado em 01/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 09h27


Garoto de apenas 16 anos já estreou no time de Cuca no Brasileirão e está prestes a assinar vínculo com multa rescisória de 100 milhões de euros

Se existe uma palavra que pode definir bem o atacante Kaio Jorge, 16 anos, nova joia das categorias de base do Santos, é “determinação”. O garoto corre atrás do sonho de ser jogador de futebol desde os seis anos, quando deu os seus primeiros chutes na bola. E bem longe da cidade paulista.

Natural de Olinda, vizinha ao Recife, Kaio Jorge começou a “carreira” no Náutico. Depois de ganhar tudo, pediu para jogar no rival Sport e, dois anos depois, fez os pais se mudarem para Santos para realizar o sonho de vestir a camisa do clube que revelou craques como Neymar, Paulo Henrique Ganso, Robinho e Diego, entre muitos outros.

Kaio Jorge passou a aparecer nos noticiários esportivos nesta temporada, quando começou a ter as primeiras chances na equipe profissional do Santos. Foi tema de uma reportagem do jornal inglês The Sun ao lado do amigo Rodrygo. Os dois foram comparados a Neymar e Ronaldo, respectivamente. Hoje, o jovem integra o elenco profissional e há cerca de um mês fez a sua estreia na vitória diante do Atlético-PR.

Kaio Jorge foi comparado ao lado do amigo Rodrigo a Ronaldo Fenômeno por um jornal inglês — Foto: Reprodução

Kaio Jorge foi comparado ao lado do amigo Rodrigo a Ronaldo Fenômeno por um jornal inglês — Foto: Reprodução

Na última terça-feira, Kaio Jorge encaminhou o seu primeiro contrato profissional com o Santos. E não foi um contrato qualquer. O vínculo será de três anos, com uma multa girando em torno de 100 milhões de euros (cerca de R$ 403 milhões).

Kaio Jorge passou quatro anos no Náutico e foi campeão e artilheiro — Foto: Arquivo Pessoal

Kaio Jorge passou quatro anos no Náutico e foi campeão e artilheiro — Foto: Arquivo Pessoal

Início no futsal

A rotina de Kaio Jorge começou há cerca de 10 anos. E com uma bola pequena e mais pesada. No Recife, ele escolheu o Náutico para dar os primeiros passos. Foram quatro anos ganhando todos os títulos possíveis nas categorias Sub-6 e Sub-7, Sub-8 e Sub-9 do futsal. E quase sempre com a artilharia. Segundo a conta dos pais, fez cerca de 100 gols com a camisa alvirrubra.

O sonho de se tornar jogador de futebol fez Kaio Jorge ter uma cabeça evoluída desde criança. Partiu dele o pedido de trocar os Aflitos pela Ilha do Retiro. E a justificativa para os pais era simples: se sentia estagnado. Queria uma rotina diferente. Sem pensar duas vezes, o pai Jorge Ramos, que também foi jogador de futebol – defendeu o próprio Sport em 1999 -, levou o garoto para o Leão. E a história também foi de conquistas.

Rotina no Sport não foi diferente: títulos, gols e a faixa de capitão — Foto: Arquivo pessoal

Rotina no Sport não foi diferente: títulos, gols e a faixa de capitão — Foto: Arquivo pessoal

– Começamos no Náutico e ficamos por quatro anos lá. Ele foi artilheiro de tudo que disputou e a gente já estava saturado. Ele pediu para sair e disse que queria mudar. Foi um pedido dele e achamos o momento certo. E fomos felizes também no Sport – relembra a mãe, Karina Ramos, que vive com o filho em Santos.

Kaio Jorge tinha uma rotina puxada no Recife. Quando defendia o Náutico, era utilizado pelo clube sempre em duas categorias, a da sua idade e uma acima. No Sport, focou em apenas uma, mas, segundo a mãe, passou a dividir o seu tempo com o futebol de campo.

– No Sport a gente colocou ele só em uma categoria, e ele dava uma mesclada com o campo. Ele jogava no Clube das Águias. E jogava também em alguns times de várzea. Era uma preocupação do pai para ele estar sempre treinando de chuteira também para não ficar acostumado apenas com o futebol de salão. A gente já estava pensando lá na frente.

Kaio Jorge (camisa 10) num time do Sport ao lado dos filhos de Marcelinho Paraíba (6) e Magrão (12); este último hoje joga na base do São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal

Kaio Jorge (camisa 10) num time do Sport ao lado dos filhos de Marcelinho Paraíba (6) e Magrão (12); este último hoje joga na base do São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal

Mudança para Santos, com escala em São Paulo

Se Kaio Jorge já mostrou vontade própria ao mudar do Náutico para o Sport, não faltou postura para ele no momento de conversar com os pais e pedir para sair do Recife.

– Ele sempre me falava que queria sair daí (do Recife) para jogar em um clube grande. Ele falava muito no Santos – lembra Jorge Ramos.

Kaio Jorge chegou no Santos com 11 anos e já começou a se destacar na base — Foto: Antonio Marcos

Kaio Jorge chegou no Santos com 11 anos e já começou a se destacar na base — Foto: Antonio Marcos

Mas não foi no Santos que Kaio Jorge deu os seus primeiros passos no Sudeste do País. Antes de descer a Serra do Maior, Jorge Ramos foi até o São Paulo. O filho chegou a ser aprovado, mas, segundo ele, existia uma parceria na época com o Vitória e a ideia era que ele fosse para Salvador. Possibilidade que foi rejeitada e que abriu os caminhos para a realização do sonho.

– Peguei o DVD dele com alguns lances no Sport e no Náutico e mandei para uma pessoa em Santos. Em novembro de 2012 vim aqui com ele para um teste. Ele passou, e a gente voltou em definitivo em 2013 com ele. E aí decidimos que íamos morar aqui também.

E o começo da história no Santos já foi de forma arrasadora. Inicialmente, ele seria observado durante uma semana, mas precisou de bem menos tempo.

– Cinco minutos. O teste geralmente é de cinco dias, mas ele foi aprovado no primeiro dia logo. O treinador pediu logo para tirarem ele com medo que ele se machucasse – lembra o pai de Kaio, Jorge Ramos.

Aos 15 anos, ele fez a sua estreia pela Copa São Paulo de Futebol Júnior — Foto: Pedro Azevedo/Santos FC

Aos 15 anos, ele fez a sua estreia pela Copa São Paulo de Futebol Júnior — Foto: Pedro Azevedo/Santos FC

Sport pego de surpresa

A saída do Sport foi uma decisão do próprio Kaio Jorge (o quinto na fileira de cima); ele já se via estagnado no clube — Foto: Arquivo Pessoal

A saída do Sport foi uma decisão do próprio Kaio Jorge (o quinto na fileira de cima); ele já se via estagnado no clube — Foto: Arquivo Pessoal

A decisão de Kaio e dos seus pais de deixarem o Sport para alçarem voos mais altos pegaram o clube de surpresa. De acordo com o pai do garoto, os dirigentes do Leão na época não imaginaram que perderiam o garoto por não terem dado o devido valor a ele.

– Faltava muito profissionalismo na época que a gente estava no Sport. Eles não tinham uma visão grande e muitos atletas passaram despercebidos. Eles não fizeram nada por pensarem que era apenas mais uma criança. Eles não imaginaram que Kaio ia chegar nesse nível – diz Jorge Ramos.

A decisão de sair do Recife para tentar a sorte em clubes maiores foi um pedido de Kaio, mas os pais não escondem que pensaram já muito também no lado financeiro.

– Ele falou comigo que estava sempre a mesma coisa no Sport e queria mudar. Foi aí que decidi partir para o Sul. A gente não tinha muitas condições financeiras e sempre que mexemos com isso é almejando melhorar o lado financeiro também.

Pai, empresário e espelho

Jorge Ramos é o pai e o grande espelho do jogador — Foto: Arquivo Pessoal

Jorge Ramos é o pai e o grande espelho do jogador — Foto: Arquivo Pessoal

Ex-jogador de futebol profissional, Jorge Ramos vê o filho tentar seguir os seus passos. E cuida para blindá-lo de erros comuns nessa vida.

– É um fardo muito pesado porque muitas vezes um atleta profissional se perde, imagina um garoto de 16 anos. Mas ele está sendo preparado desde novinho. Sempre quis isso e eu estou sempre conversando com ele para ter humildade. Mostro os exemplos que acontecem no futebol e conto as coisas que aconteceram comigo na época que eu jogava.

Jorge foi jogador profissional de 1998 até 2008, mas não conseguiu uma grande carreira nacional. O seu grande momento foi em 1999, quando vestiu a camisa do Sport. Ainda jogou por Chávez e Santa Clara, de Portugal, e Cabofriense-RJ, Lagartense-SE, Porto-PE, América-RN, Gama-DF e Petrolina-PE.

Kaio comemora momento e espera crescer mais

A trajetória de Kaio Jorge no Santos tem sido comparada em números ao início de Neymar. Assim como o hoje craque do PSG, ele disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior com 15 anos e marcou um gol logo na estreia. A primeira vez no time profissional foi ainda melhor. Neymar fez o primeiro jogo com 17 anos, enquanto Kaio debutou com 16. Ele só perde para Coutinho, Pelé, Gabigol, Edu e Victor Andrade.

– Fico muito feliz por ter conseguido igualar os números de Neymar, mas prefiro ser o Kaio Jorge mesmo Deixa Neymar lá fazendo o dele e eu faço o meu aqui – diz o garoto.

Kaio Jorge está integrado ao time profissional do Santos e já fez uma partida pelo time profissional — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Kaio Jorge está integrado ao time profissional do Santos e já fez uma partida pelo time profissional — Foto: Ivan Storti/Santos FC

Se tenta evitar comparações com Neymar, Kaio Jorge adota uma postura diferente quando o assunto são suas inspirações. E ele cita um outro ídolo do Santos como grande referência.

– Eu gosto muito do Ricardo Oliveira. Fico vendo os vídeos dele. É um dos melhores da posição. Eu convivi com ele aqui. Ele estava no profissional e eu na base, mas ele sempre acompanhava a base e quando me via me dava alguns conselhos e dicas.

Aos 16 anos, Kaio Jorge parece usar bem o mantra repetido por seu pai. Apesar da fama e da repercussão em torno do seu nome, mantém um discurso humilde.

– Eu não esperava que acontecesse isso tão cedo. Achei que ia demorar mais. Fiquei surpreso. Desde pequeno eu sempre sonhei em ser jogador e estou realizando. Vivo um bom momento, subi agora para o profissional e fiquei muito feliz. Realizei um sonho. Tem sido bom para mim.

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