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A morte mal explicada de Dudu

Dezembro de 2021, mais de seis anos depois da morte do filho único, Eduardo Lúcio de Lima mal consegue conversar sobre as circunstâncias da fatalidade sem

A morte mal explicada de Dudu
A morte mal explicada de Dudu

Redação Publicado em 17/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 16h56


Pais de Eduardo Felipe argumentam na Justiça que negligência médica do Volta Redonda causou morte do filho em 2015: “Falavam que era migué”. Processo aguarda por perícia há quase três anos

Dezembro de 2021, mais de seis anos depois da morte do filho único, Eduardo Lúcio de Lima mal consegue conversar sobre as circunstâncias da fatalidade sem chorar. “É duro, mermão! É duro demais”, diz ele, roupeiro de um time de futebol, antes de respirar fundo e prosseguir com a entrevista. Mesmo aos trancos e barrancos, normalmente cabe a Eduardo lidar com advogados e resolver burocracias da luta por justiça, porque o assunto virou uma espécie de tabu para a esposa Josecléia Leite de Araújo, dona de casa, que prefere evitar as notícias do processo movido pelo casal desde 2017.

Enquanto o caso anda a passos lentos na 3ª Vara do Trabalho da Comarca de Volta Redonda, do Rio de Janeiro, a ferida segue aberta na família humilde de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Eduardo Felipe de Araújo Lima, o Dudu, morreu em maio de 2015 vítima de infecção generalizada, decorrente de uma broncopneumonia bilateral – é o que consta na declaração de óbito. Ele tinha 19 anos e atuava nas categorias de base do Volta Redonda. Os pais tentam provar na Justiça que houve negligência médica por parte do clube e que isso foi determinante na morte do filho. Na ação, entre verbas rescisórias, despesas com funeral, indenização por danos morais e materiais, a advogada da família deu à causa valor total de R$ 592 mil.

– Ele alegava dor de cabeça, dor no corpo. Passava para mim que o médico, Cláudio Bittencourt, ia lá, passava no quarto dele e não dava satisfação nenhuma. Ele falava que não estava aguentando mais, não estava suportando de dor. O médico fazia de conta que ele nem existia, ele deitado numa cama. Não dava nem satisfação – recorda o pai, atualmente funcionário do Comercial de Ribeirão Preto.

Em sua defesa, o Volta Redonda alega que não teve culpa e garante que fez o que estava ao seu alcance quando Dudu relatou dores e mal-estar – veja a resposta completa no fim da reportagem. No processo, o clube diz no processo que “uma bactéria contraída quando o atleta estava de férias em sua cidade natal” provocou sua morte. Dudu, camisa 10 do time sub-20, atuou no início do Carioca daquele ano e voltou para Ribeirão Preto no dia 8 de abril, quando o Voltaço fez o último jogo do primeiro turno – eliminada, a equipe só voltaria a campo um mês depois para estrear no segundo. Dudu entrou em campo pela última vez em 21 de março.

Assista à entrevista com Eduardo Lúcio de Lima, pai de Dudu, jogador do Volta Redonda que faleceu em 2015

O registro do primeiro atendimento de Dudu numa Unidade de Pronto Atendimento de Ribeirão Preto é da tarde de 10 de abril, dois dias após voltar para casa. Ele retornou à unidade outras cinco vezes (entre as queixas estavam dores no flanco, na região inguinal e constipação) até ser internado na Santa Casa em 4 de maio com suspeita de pielonefrite crônica, um tipo de infecção contínua nos rins. Veio a morrer no dia 16, depois de aproximadamente duas semanas de internação.

O histórico hospitalar de Eduardo Felipe em Ribeirão Preto, da primeira consulta ao óbito, está bem documentado. A história fica mal explicada antes disso, quando ele ainda estava em Volta Redonda. Os pais afirmam que, entre março e abril, Dudu foi encaminhado diversas vezes à unidade de saúde CAIS Conforto, e testemunhas (incluindo um diretor do Voltaço) confirmam isso. Eles também garantem que o filho foi diagnosticado com dengue e pneumonia nas idas ao posto.

Por outro lado, o clube nega que o atleta tenha alguma vez parado no hospital, como consta em sua defesa na ação.

O município de Volta Redonda e a diretoria do CAIS Conforto ao todo foram notificados 13 vezes ao longo do processo – entre 2017 e 2020 – para que pudessem fornecer o prontuário de Eduardo. Ao menos outras três vezes um oficial de justiça foi até a cidade com mandado de busca e apreensão, mas não obteve êxito. A resposta era sempre a mesma: o atleta nunca havia comparecido ao CAIS.

Esta falta de documentação vem servindo de argumento para a defesa do Volta Redonda. A advogada do clube cita que “contrariamente ao alegado na peça de impulso da demanda, o de cujus, neste ato representado pela reclamante, NÃO foi atendido no CAIS em março de 2015, […] de modo que o infeliz fato em nada tem a ver com o clube reclamado”.

Até o início desta semana, portanto, não havia registro de atendimento em nome de Eduardo Felipe no CAIS Conforto ou em qualquer outra unidade do sistema público de saúde de Volta Redonda. Mas a reportagem do ge apurou com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e descobriu que Dudu deu entrada pelo menos duas vezes no pronto atendimento da unidade, com diagnóstico de suspeita de dengue.

Veja a resposta da SMS ao ge:

“A Secretária Municipal de Saúde (SMS) encontrou os resultados de dois hemogramas completos no nome de Eduardo Felipe de Araújo Lima, de 19 anos. O jovem foi atendido no Cais Conforto no dia 25 de março de 2015, e repetiu o exame dois dias depois na mesma unidade de saúde. Os resultados dos exames sugerem que Eduardo poderia estar com dengue. Como a contagem baixa de plaquetas”.

Declaração de óbito de Eduardo Felipe diz que morte foi causada por choque séptico decorrente de broncopneumonia bilateral - ge
Declaração de óbito de Eduardo Felipe diz que morte foi causada por choque séptico decorrente de broncopneumonia bilateral – ge

O processo em que os pais do jogador acusam o Volta Redonda de negligência médica está há mais de três anos parado na fase de perícia. De fevereiro de 2019 até aqui, seis peritos foram designados para analisar as 99 páginas do prontuário obtido em Ribeirão Preto e concluir se é possível, por exemplo, relacionar a causa da morte a sintomas negligenciados pelo clube. Mas a maioria recusou a nomeação. O mais recente deles tinha até o dia 18 do mês passado para apresentar relatório, o que não aconteceu.

ge procurou, sem resposta, a assessoria de comunicação do TRT e a direção do tribunal de Volta Redonda por informações sobre os recorrentes declínios de peritos. Advogada da família, Poliana Beordo Nicoleti peticionou nesta sexta-feira um pedido para que a perícia seja deslocada para Ribeirão Preto, numa tentativa de afastar a impressão de que pode haver motivos de foro íntimo não especificados por trás das negativas.

Dessa maneira, entende a defesa, reduz-se o risco de existir eventual conflito com o clube da mesma cidade (ou região, já que um deles era de Barra Mansa, município vizinho) ou com o médico Cláudio Bittencourt, de 67 anos, eleito vereador suplente pelo município em 2012 e candidato ao mesmo cargo nas eleições de 2016.

“FALAVAM QUE ERA MIGUÉ”

No Campeonato Carioca Sub-20 2015, Eduardo Felipe defendeu o Volta Redonda em oito partidas e fez quatro gols – mesmo não tendo atuado no segundo turno, foi um dos artilheiros da equipe. Seus pais contam no processo que as dores e o mal-estar começaram no início de março e que por volta do dia 7 a situação foi relatada pela primeira vez ao clube. Eles não são capazes de precisar a data porque perderam todas as mensagens da conversa com o filho no celular.

Depois disso, Dudu atuou em três jogos do Voltaço no campeonato, como constam nas súmulas: foi titular na vitória por 3 a 1 sobre o Macaé (fez dois gols), na derrota por 5 a 2 para o Flamengo e na vitória por 2 a 1 sobre o Madureira. O pai afirma que ele foi obrigado a participar dos jogos e dos treinos. Segundo ele, o clube aplicou no filho injeção de cafeína para que pudesse levantar da cama – “fato que jamais ocorreu”, contesta o Volta Redonda.

Em contato com o ge – veja a íntegra das respostas mais abaixo -, o vice-presidente do Volta Redonda, Flavio Horta, “repudia completamente” a versão do pai do atleta: “Isso não existe, nunca existiu. Nunca se ouviu falar em aplicação de cafeína acho que nenhum clube do mundo.”

“Eles falavam que era migué. Quando aplicaram essa injeção nele, deu ânimo. Só que, para arrebentar mais, ainda colocaram para jogar debaixo de chuva. Foi o que arrebentou ele”, lamenta Eduardo Lúcio.

– Se tivessem corrido com ele para o hospital, se levassem as coisas mais a sério, talvez isso não tivesse acontecido – acrescenta.

Na peça inicial, a advogada também relata uso de outras substâncias comuns a atletas, como creatina, whey protein e outros itens de suplementação alimentar como gerador do problema nos rins. A tese é reforçada pelo depoimento de Fabrício Vasconcelos, então colega de equipe e testemunha importante na ação. Ele afirmou que o preparador físico e o fisiologista do clube eram os responsáveis por determinar o quanto cada um deveria ingerir dessas substâncias. Outra testemunha, o também jogador Kayo Cezar, disse que o consumo dos suplementos “não era obrigatório”.

Na ação, o Volta Redonda informa que fazia “uso de medicamentos, suplementação, além de fornecer acompanhamento fisiológico e nutricional a todos eles, mas não tem meios de controlar e impedir que estes façam uso destas substâncias por conta própria, sendo certo que eventual constatação do uso de creatina pelo de cujus ocorreu por culpa exclusiva do mesmo“.

AS PROVAS

Aproximadamente duas semanas depois do primeiro relato de dores, Eduardo voltou a passar mal e, dessa vez, resolveu ir ao CAIS Conforto por conta própria. “Ele era um menino muito forte. Para tomar uma decisão dessa, é porque ele não estava aguentando mais”, acredita o pai. Kayo e Fabrício confirmam essa informação e dizem, inclusive, que foram eles os responsáveis por acompanhar o amigo até o postinho. Segundo Fabrício, ele voltou ao CAIS “pelo menos umas três vezes”, e o diagnóstico apontou suspeição de dengue.

Diversas regiões do Brasil sofreram com surto de dengue em 2015 – no Rio de Janeiro, 23 pessoas morreram da doença, mais que o dobro do ano anterior. Em Volta Redonda, segundo relatório da Secretaria de Saúde do Estado do Rio, foram 4.046 casos confirmados naquele ano.

Em seu depoimento, Fabrício afirma que Dudu “não foi obrigado a participar de jogo ou treino passando mal”. Kayo Cezar se lembra de que, dias antes de levá-lo ao postinho, ele relatou mal-estar (os dois dividiam quarto na ocasião), e o próprio Kayo comunicou a um supervisor. Este chegou “por volta de 15 a 20 minutos” para checar a situação, mas ele não sabe dizer que tipo de procedimento foi realizado naquele momento: se o medicaram, se o encaminharam ao hospital ou alguma outra medida.

Em 25 de março, quatro dias depois de sua última partida, o jogador postou em seu Instagram uma foto e relatou que não aguentava mais hospital – a SMS confirmou que ele esteve no CAIS Conforto nesse dia. Na legenda, ele ainda escreveu: “Xô, dengue!”.

No Instagram, Dudu dizia que não aguentava mais a doença e que estava cansado de hospital. Ele foi receber atendimento dia 25 e dia 27 de março - Reprodução
No Instagram, Dudu dizia que não aguentava mais a doença e que estava cansado de hospital. Ele foi receber atendimento dia 25 e dia 27 de março – Reprodução

Para provar que Eduardo teve dengue menos de dois meses antes de morrer, os pais ainda contam com trechos do prontuário da internação em Ribeirão Preto que descrevem os relatos do filho a enfermeiros e médicos. Em pelo menos três ocasiões ele mencionou que contraiu a doença quando estava em Volta Redonda. Também chegou a citar que teve pneumonia.

Eduardo Lúcio, o pai, não tem dúvida de que o clube despachou seu filho doente de volta para casa.

“Assim que ele desceu do ônibus aqui (em Ribeirão Preto), ele já chegou inchado, sem urinar, sem fazer cocô. A primeira lembrança que eu tenho, não quero nem lembrar… Ele chegou na porta do quarto, me abraçou e disse que não estava aguentando mais”, ele recorda em lágrimas.

– Inclusive, ele já vem (de Volta Redonda) com um edema. O que que é o edema? É o inchaço, ele já veio com esse edema. Aí descobriram uma proteinúria, que é um problema no rim. Por isso ele estava inchado e não conseguia urinar. Depois, descobrem uma nefrite, então ele já veio de lá debilitado. Não sei se por ausência de tratamento, mas nós acreditamos que sim. Porque ele teve dengue, teve pneumonia e já chegou em casa muito debilitado – complementa a advogada Poliana Nicoleti, do escritório Beordo Oliveira.

"Dengue há 30 dias, 1 dia internado", diz um trecho do prontuário de Eduardo - ge
“Dengue há 30 dias, 1 dia internado”, diz um trecho do prontuário de Eduardo – ge
"Paciente, há 45 dias, apresentou quadro de dengue, [...] evoluindo com quadro de tosse, febre, [...], sendo tratado pneumonia", diz o prontuário - ge
“Paciente, há 45 dias, apresentou quadro de dengue, […] evoluindo com quadro de tosse, febre, […], sendo tratado pneumonia”, diz o prontuário – ge
"Paciente com história de dengue tratada há 45 dias e pneumonia comunitária há 30 dias", diz um trecho do prontuário - ge
“Paciente com história de dengue tratada há 45 dias e pneumonia comunitária há 30 dias”, diz um trecho do prontuário – ge

Veja a linha do tempo:

Chegada

Eduardo Felipe assinou contrato com o Volta Redonda no primeiro semestre de 2014. O vínculo era de 1º de maio de 2014 até 1º de maio de 2015, com salário de R$ 800 mensais.
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Últimos jogos

Em março de 2015 (dia 7), ele se queixou de dores na nuca e dor de cabeça. Neste dia, ele fez dois gols contra o Macaé na vitória por 3 a 1. Eduardo ainda jogou contra o Flamengo (dia 11) e fez a última partida (dia 21) contra o Madureira.
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Volta para casa

Depois de atendimentos e exames no hospital em Volta Redonda – o que o clube e até o hospital CAIS do Conforto negavam ter ocorrido no processo judicial -, com diagnóstico de suspeita de dengue, Eduardo voltou de ônibus para Ribeirão Preto no dia 8 de abril.
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1º dia na Upa

Já em Ribeirão Preto, o primeiro registro de atendimento a Eduardo Felipe na UPA é da tarde do dia 10 de abril, dois dias depois de voltar para casa. Ele voltou outras vezes: em uma delas, relatou dor de grande intensidade no flanco, constipação e urina escura.
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Internação

No dia 4 de maio, Eduardo é internado no CTI com insuficiência respiratória e proteinúria (presença significativa de proteínas na urina que causa dano aos rins). Os advogados relacionam o problema renal às doses de suplementação que eram ministradas pelo Volta Redonda. O clube nega.
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A morte

Nos 12 dias em que ficou internado, Dudu foi submetido a uma porção de procedimentos, entre os quais uma cirurgia para drenar sangramento interno no tórax. No dia 16 de maio, às 21h30, depois de 32 minutos de tentativas de ressuscitação cardio-pulmonar-cerebral, veio a óbito.
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CERTIFICADO DESDE 2019

No dia seguinte à morte de Eduardo Felipe, o Volta Redonda publicou a seguinte nota de luto:

“É com profundo pesar que o Volta Redonda FC comunica a morte do atleta Eduardo Felipe de Araújo Lima. O jogador, de 19 anos, faleceu nesse sábado, dia 16, por volta das 21 horas, na Santa Casa de Misericórdia, em Ribeirão Preto-SP, sua cidade natal, em decorrência de uma infecção generalizada. A diretoria do clube está de luto e garantirá à família do atleta todo o suporte necessário neste momento difícil”.

O clube anexou ao processo dois comprovantes de pagamento à família, referentes ao seguro de vida e às despesas de funeral – o primeiro, de 19 de maio, de R$ 2.000, 00 (embora os pais afirmem na ação que pagaram R$ 10.440); e o segundo, de 22 de maio, de R$ 698,00. Na réplica da ação, contestou ponto a ponto a reclamação trabalhista.

“É certo que o infortúnio ocorrido com o jogador foi fato lamentável e triste, mas a dengue é um problema de saúde pública, sendo de clareza solar a impossibilidade de imputar a responsabilidade ao reclamado”, diz um trecho da defesa.

Não há detalhes de informações do Volta Redonda sobre o que aconteceu com Eduardo Felipe naquele período de um mês entre o dia em que ele relatou dores até o momento em que foi mandado de volta para casa. O mais próximo disso foi o seguinte trecho, de novo em sua contestação: “Em verdade, tão logo o jogador sentiu-se mal, foi prontamente levado para assistência médica e permaneceu sob os cuidados necessários e tendo a total assistência do clube reclamado”.

O clube obteve Certificado de Clube Formador da CBF em 2019 – outros 35 clubes têm esse documento. Entre os requisitos para ter tal reconhecimento – que envolve visitas de funcionários de federações locais para verificar instalações e fazer “chek-list” do clube -, estão previstos “e) manter prontuário médico individual para cada atleta, devidamente atualizado, além do registro diário dos atendimentos; f) garantir meios para diagnóstico e tratamento de patologias, intercorrências e lesões”, além de proporcionar toda assistência médica, odontológica e psicológica aos atletas de base.

RESPOSTAS

ge encaminhou sete perguntas ao Volta Redonda, por meio de sua assessoria de imprensa. As respostas, na íntegra, do vice-presidente e vice-jurídico do clube, Flávio Horta Junior, encontram-se a seguir:

ge: O que o Volta Redonda tem a dizer sobre a acusação de negligência médica?

Volta Redonda: Antes de qualquer coisa, desde o primeiro momento, o clube sempre foi extremamente solidário à dor desses pais, mas não pode concordar com suas alegações, que foram praticamente todas descaracterizadas pelas provas já produzidas nos autos. O atleta fez seu último jogo pelo clube no dia 21 de março de 2015, foi liberado para ir passar um período com sua família em 08 de abril em Ribeirão Preto. Essas datas são importantes. O atleta foi para Ribeirão Preto no dia 08 de abril de 2015, ficou dias na cidade sem passar por uma clínica e sua internação fatal aconteceu apenas no dia 04 de maio, com um quadro mediano que foi se agravando à medida que permanecia internado, vindo a óbito no dia 16 de maio, ou seja, cerca de 40 dias após ele ter saído de Volta Redonda. Não existe nos autos nenhum documento que comprove que o atleta teve dengue, a não ser declarações da família, e muito menos que esse possível caso de dengue tenha relação com uma morte cerca de 60 dias após por choque séptico e broncopneumonia bilateral. Não podemos permitir que uma sensação de conforto a uma família deva prevalecer à Justiça.

ge: Os pais relatam que, depois de dizer que estava se sentindo mal, o filho recebeu aplicação de cafeína para poder ir a campo. Isso procede? É um procedimento comum no departamento médico do clube em casos similares?

Volta Redonda: São alegações como essas que o clube repudia completamente. Isso não existe, nunca existiu. Nunca se ouviu falar em aplicação de cafeína acho que em nenhum clube do mundo. E as próprias testemunhas arroladas pela família do jogador foram enfáticas em falar que “não era obrigatória nenhuma suplementação” e sequer fizeram menção à cafeína. Basta olhar os depoimentos das testemunhas arroladas pela própria família do ex atleta. Por sinal a declaração dessas testemunhas descaracteriza quase toda a reclamação trabalhista.

ge: Os pais relatam que, ao relatar dores e mal-estar, Eduardo ouviu dos responsáveis pelo clube (entre os quais o médico Cláudio Bittencourt) que “estava de migué”. Isso aconteceu?

Volta Redonda: Mais uma vez foi demonstrado nos autos que as teses apresentadas pela família, não se sabe com qual intuito, são fantasiosas. Eles sustentam que o Dr. Claudio Bittencourt (citam expressamente o nome do médico) no dia 07 de março, jogo contra o Macaé, teria insinuado que o atleta estava de migué e deveria ir para o jogo. Basta acessar o processo (pag. 170) ou mesmo o site da Ferj, na súmula do jogo do dia 7 de março de 2015 contra o Macaé, que vai ver que o Dr. Claudio Bittencourt não era o médico do Volta Redonda no dia do jogo e sim o Dr. Reinaldo Hidalgo. Está nos autos e no site da Ferj para que qualquer um possa acessar. E o processo, com toda dor que essa família passou e que respeitamos muito, está desmentindo a tese criada pela família a todo momento. São mentiras criadas que causam perplexidade diante da dor sofrida. Citam um médico que nem da partida participou.

ge: Na defesa, o Volta Redonda alega o seguinte: “tão logo o jogador sentiu-se mal, foi prontamente levado para assistência médica, e permaneceu sob os cuidados necessários e tendo a total assistência do clube reclamado”. Qual assistência médica e quais cuidados foram oferecidos ao jogador? 

Volta Redonda: A mesma assistência que oferece a todos os atletas, tanto que, se olhar as súmulas das partidas, a partir do jogo do dia 21 de março de 2015 o atleta não foi relacionado para mais nenhuma partida. Além disso, mais uma vez buscando no depoimento das testemunhas arroladas pela família do Eduardo, que são ex atletas do clube que conviviam com ele, pegamos as seguintes declarações (pags. 515 e 520 do processo):

“o de cujus solicitou que o depoente comunicasse alguém que eles estava passando mal, sendo que o depoente falou com o supervisor Sandro, de madrugada; por volta de 15 a 20 minutos após o Sr. Sandro chegou e levou o reclamante para atendimento”;

-“o depoente também havia passado mal nos dias anteriores com uma virose e foi levado ao posto de saúde por duas vezes, na primeira vez pelo Sr. Sandro e na segunda pelo Manu”;

-“que o reclamante não foi obrigado a participar de treino ou de jogo passando mal”;

-“que não tem conhecimento de o clube ter impedido o reclamante de se afastar em decorrência de mal estar.

Ou seja, mais uma vez a absurda tese de negligência se vê afastada. Não há como imaginar que o atleta não faria reclamação a seus companheiros se estivesse sendo obrigado a treinar ou se não estivesse se sentido amparado.

ge: Eduardo alguma vez relatou que estava se sentindo mal, com dores? Se sim, há algum prontuário que mostre o histórico de saúde dele? O clube em algum momento levou o jogador ao hospital?

Volta Redonda: Toda vez que qualquer atleta relata qualquer sinal é imediatamente direcionado ao médico do clube ou a alguma unidade de saúde da cidade por um dos supervisores. Certamente a vez ou as vezes que o Eduardo possa ter precisado ele foi encaminhado e isso relatado em seu prontuário.

ge: Recebemos a informação da Secretaria Municipal de Saúde de Volta Redonda que Eduardo Felipe foi atendido no dia 25 de março de 2015 e repetiu o exame dois dias depois na mesma unidade de saúde. De acordo com a nota, “os resultados dos exames sugerem que Eduardo poderia estar com dengue. Como a contagem baixa de plaquetas”. O Volta Redonda tomou conhecimento sobre esses exames? Constam na ficha do jogador?

Volta Redonda: Esse documento não se encontra no processo. Inclusive foi a própria defesa do clube que solicitou o envio de ofícios à Secretaria de Saúde de Volta Redonda até para embasar sua defesa de que jamais teria utilizado um atleta sem condições fisicas de jogo, como quer fazer crer a família do atleta buscando uma situação desfavorável ao clube que não aconteceu. É importante frisar que o pedido de ofício à Secretaria de Saúde com as informações de todas as entradas do atleta foi feito no processo pelo clube. Mesmo assim, como mencionado anteriormente, a última partida realizada pelo Eduardo pelo clube foi dia 21 de março. Depois disso o atleta não participou de mais nenhum jogo e logo no início de abril foi liberado para voltar para sua cidade natal, em Ribeirão Preto, onde ficou mais de 40 dias antes de vir a óbito.

ge: O que fez o clube após a morte de Eduardo? Prestou auxílio à família? Houve pagamento de algum valor de seguro de vida?

Volta Redonda: Sim, como devidamente comprovado nos autos. Imediatamente o clube se solidarizou, buscou tentar confortar mas jamais deixou de cumprir com qualquer obrigação. E mais uma vez a família tentou se beneficiar da Justiça com pedidos indevidos. Basta uma análise dos autos que veremos que na inicial a família alega que não foram pagas as verbas rescisórias e o clube junta o comprovante do pagamento dessas verbas na conta do pai do atleta (fls 230 e 237). Família cobra pagamento de férias que o clube comprovou que foram gozadas pelo atleta mesmo sem ter um ano de clube (fls 232/233). Pagou auxílio funeral e seguro de vida também devidamente comprovados (fls. 235 e 238). Infelizmente uma fatalidade que a família, ao que parece, busca um conforto tentando imputar uma responsabilidade sem qualquer nexo ao clube.

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Globo Esporte

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