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A inteligência emocional é a última fronteira para as máquinas

Por Reinaldo Polito

A inteligência emocional é a última fronteira para as máquinas
A inteligência emocional é a última fronteira para as máquinas

Redação Publicado em 28/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h52


A inteligência emocional é a última fronteira para as máquinas

Por Reinaldo Polito

Chega até ser lugar comum dizer que, nos dias atuais, nossas opiniões, atitudes, decisões, hábitos passam por um estado de transformação constante. O desenvolvimento tecnológico, a expansão de bens e negócios, a ampliação e a proliferação dos sistemas de comunicação atuam como forças importantes de uma dinâmica que nos obriga a coletar informações, selecioná-las, aproveitar umas, deixar de lado outras que, entretanto, não ficarão esquecidas ou abandonadas.

Quer um exemplo? Vamos analisar a importância da inteligência emocional em uma atividade emblemática – a do gerente de banco. Por serem profissionais simpáticos, muito comunicativos e competentes, alguns chegavam a ser contratados com salários vultosos. Era comum nesses casos levarem com eles quase toda a carteira de clientes. Em muitas circunstâncias as empresas se sentiam clientes do gerente, e não do banco.

Eram profissionais bons de conversa, sedutores, cativantes, mas nem sempre muito bem preparados tecnicamente. Mas quem se importava? O que valia mesmo eram os resultados apresentados. A maioria nem sabia calcular a rentabilidade das operações que realizavam.

Nos anos 1970/80 não havia computadores, e as calculadoras portáteis que estavam surgindo só faziam as quatro operações básicas. Era tudo feito à mão. E não eram só os gerentes de banco, quase ninguém sabia matemática financeira. Se calcular a rentabilidade de uma operação era fundamental para o desenvolvimento das atividades deles, sem essa competência como conseguiam se virar?

No início dos anos 1970, esses gerentes, sem nenhum constrangimento, usavam umas tabelinhas. Assim como não nos esquecemos de levar o celular quando saímos de casa, também naquela época todos tinham a tabela na pasta ou na gaveta. Era ferramenta de trabalho. Ah, vale ressaltar que a maioria dos gerentes financeiros das empresas também não dominavam os cálculos.

Ninguém se apertava. Ao discutir a operação imediatamente lançavam mão da tabelinha. Encontravam ali as informações de que precisavam para calcular a rentabilidade ou o custo do empréstimo: diferentes percentuais de reciprocidade em depósitos à vista e arrecadação de impostos, taxa de juros e prazo da operação.

Às vezes, entretanto, alguns dados fugiam do que estava programado. Se fosse sugerido um percentual de reciprocidade diferente, uma taxa de juros quebrada em décimos, ou prazo fora dos 30, 60 ou 90 dias, a tabela já deixava de ter utilidade. Era comum ajeitar operações só para que se enquadrassem nas variáveis da tabela.

A vida do gerente foi facilitada com o surgimento das HPs financeiras. A primeira foi a HP 22, lançada em 1975. Com um pouquinho de conhecimento de matemática financeira todos os cálculos podiam ser feitos em segundos. Em pouco tempo ninguém mais se lembrava da existência das tabelas. 

As mudanças passaram a ocorrer rapidamente até que, finalmente em 1981, chegou a HP 12C, considerada por muitos como a definitiva. 

Da época das tabelinhas até aqui muita coisa mudou. Saber calcular custo ou rentabilidade de operações passou a ser competência essencial para gerentes de banco ou financeiros de empresa. Mesmo que o profissional não tenha tanto domínio, os programas de computador darão o resultado de que precisa.

E a boa conversa e a simpatia dos gerentes deixaram de ser importantes? Há pouco tempo fui contratado para treinar 150 executivos de um grande banco. Na conversa inicial que tive com o presidente da organização, ele me disse: Polito, estou contratando você porque de nada adianta os “meus meninos de ouro” conhecerem tudo sobre matemática financeira se não souberem falar.

Nós não estamos precisando de “pilotos de HP”. Queremos que os nossos profissionais saibam se comunicar bem para inspirar confiança e credibilidade. E completou: qualquer gerente de banco hoje sabe fazer conta, mas nem todos sabem falar de forma clara, objetiva e persuasiva.

Que interessante! A mesma habilidade que os gerentes de banco e os financeiros das empresas tinham há quarenta ou cinquenta anos é exigida hoje – a inteligência emocional e a insubstituível capacidade de falar bem. 

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Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]
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