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27% das mortes por Covid no estado de SP foram registradas em dois meses de fase de transição2

O estado de São Paulo completa nesta semana dois meses desde que a nova fase de reabertura de comércio e serviços, a chamada fase de transição, foi adotada.

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Redação Publicado em 19/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h25


Desde 19 de abril, o estado apresenta indicadores compatíveis com a fase vermelha, e 13 das 17 regiões estão no pior patamar de pacientes em UTI Covid. Governo diz que ‘segue analisando a situação da pandemia para adoção de medidas adicionais, se necessário, para frear a disseminação da doença’.

O estado de São Paulo completa nesta semana dois meses desde que a nova fase de reabertura de comércio e serviços, a chamada fase de transição, foi adotada. Nesse período, foram registradas 32.888 mortes por Covid-19, o que representa 27% de todos os mais de 121 mil paulistas que perderam a vida desde o início da pandemia. Por enquanto, essa fase deverá durar até pelo menos 30 de junho, segundo o governo.

Atualmente, 13 das 17 regiões estão no pior patamar da pandemia até agora, considerando a média de pacientes de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) internados.

Desde 9 de abril, o governo paulista deixou de divulgar publicamente os indicadores da pandemia por Departamento Regional de Saúde (DRS). Aplicando as regras do Plano SP publicadas no Diário Oficial aos dados divulgados diariamente pelo governo, a produção da TV Globo calculou as fases correspondentes de cada região, e do estado como um todo, em cada um dos 61 dias de fase de transição, entre 19 de abril e esta sexta-feira (18).

O cálculo leva em conta os dados de novos casos, novas internações, novas mortes, taxa de ocupação de UTIs e leitos de UTI por 100 mil habitantes e chega à classificação final atribuindo pesos diferentes a eles. A taxa de ocupação é o fator com maior peso.

Pelo levantamento, a média do estado de São Paulo como um todo foi compatível com a fase vermelha em todos os dias do período, inclusive nesta sexta-feira (18). A Grande São Paulo também apresentou indicadores de fase vermelha desde o início da transição. Considerando cada DRS, apenas a Baixada Santista apresenta indicadores compatíveis com a fase laranja nesta sexta:

Se as regras de reabertura ainda fossem vinculadas aos indicadores da pandemia, apenas a Baixada Santista não estaria na fase vermelha — Foto: Ana Carolina Moreno/TV Globo

Se as regras de reabertura ainda fossem vinculadas aos indicadores da pandemia, apenas a Baixada Santista não estaria na fase vermelha — Foto: Ana Carolina Moreno/TV Globo

Taxa de ocupação segue alta

A taxa de ocupação é o principal desafio das regiões para conseguir melhorar os indicadores da pandemia. Apenas quatro DRS conseguiram manter, em parte dos dias desse período, indicadores compatíveis com a fase laranja: Baixada Santista, Campinas, Piracicaba e Araçatuba.

No entanto, desde 10 de junho apenas a Baixada Santista mantém indicadores da epidemia compatíveis com a fase laranja.

No caso dos municípios da Baixada Santista, o motivo da classificação laranja não é a redução de casos, internações e mortes, mas o fato de que a região decidiu abrir ainda mais leitos de UTI em abril do que os disponíveis em março, quando a Baixada registrou o pico de pacientes internados concomitantemente.

Mas desde março a média de pacientes graves de Covid-19 não baixa do patamar de 400, um valor 44% mais alto que o recorde de 2020, que foi de 277 pacientes em UTI em junho.

Regras da fase de transição

Na fase de transição, ao contrário das etapas anteriores do Plano SP, as medidas de reabertura não são mais atreladas aos indicadores da pandemia e tampouco existem medidas diferentes, de acordo com a situação de cada DRS. Antes, dependendo dos indicadores, as regiões poderiam aplicar regras mais ou menos rígidas de restrição da circulação de pessoas.

Agora, as medidas adotadas pelo governo estadual se referem ao estado, e não leva mais em conta a situação regional.

O governo chegou a afirmar que esperava retomar a regionalização após a fase de transição. “Essa possível nova etapa – nós não sabemos ainda, temos ainda um período para cumprir, pelo menos uma semana toda – mas já se sabe que, se formos para a fase laranja, voltaremos para a análise regional”, afirmou o governador João Doria em 22 de abril.

A ida para a fase laranja nos indicadores, porém, nunca aconteceu, e a fase de transição passou a ser prorrogada. As medidas de reabertura da fase, no entanto, são compatíveis com a própria fase laranja, com a permissão da maioria das atividades. As modificações aplicadas nos últimos dois meses dizem respeito apenas à ampliação ou não do horário de funcionamento e da capacidade máxima permitida nos estabelecimentos.

Histórico dos indicadores

A fase de transição só foi adotada após três semanas de melhora dos indicadores, principalmente da média de novas internações em enfermaria e UTI, que caíram de quase 3,4 mil no fim de março para cerca de 2,2 mil no fim de abril.

No entanto, a queda foi estancada em 6 de maio, menos de duas semanas após o início da fase de transição.

Em 5 de maio, João Gabbardo comentou a desaceleração da queda de novas internações. “Esses indicadores não indicam que haja necessidade de fazer qualquer retrocesso no nosso plano. Esses indicadores desta semana, eles simplesmente mostram que houve uma redução na queda que estávamos apresentando”, afirmou ele.

Desde então, esse indicador passou por períodos de estagnação, retomou uma alta e agora está desde 22 de maio em um patamar entre 2,5 mil e 2,7 mil. Para efeito de comparação, em 5 de março, primeiro dia da fase vermelha, esse índice era de 2.141 e, em 2020, a média não passou de 2 mil novos pacientes sendo internados.

As mortes por Covid-19 também se mantiveram num patamar muito acima do registrado em 2020, variando entre 417 e 776 mortes diárias em média. O recorde de 2020 foi 289.

Em 9 de junho, a fase de transição foi prorrogada até o dia 30. “O Centro de Contingência vê com preocupação o momento que nós estamos enfrentando da pandemia com manutenção de casos, uma elevação, ainda que numa velocidade pequena, do número de internações hospitalares, internações em leitos de UTI, e por isso então recomendou a manutenção dessa fase de transição por mais duas semanas”, afirmou Gabbardo.

Ele disse ainda que, a partir de agora, o governo estadual não mais vai decretar regras mais rígidas às regiões, mas que irá apenas “sugerir”, aos municípios com taxa de ocupação acima de 90% dos leitos de UTI, a “redução do horário de funcionamento de determinados setores econômicos”, entre outras medidas.

Segundo ele, a sugestão servirá “para que os municípios avaliem a necessidade, avaliem a pertinência de tomar medidas mais restritivas do que aquelas que já estão estabelecidas no plano de contingência do estado de SP”.

Em nota à TV Globo enviada nesta sexta, a Secretaria Estadual da Saúde (SES-SP) negou que a decisão traga ônus às prefeituras “para que adotem medidas municipalizadas”, e afirmou que “os municípios sempre foram parte das estratégias de combate à pandemia de COVID-19 e que em toda a vigência do Plano São Paulo tem sido reiterado que as cidades podem e devem acionar estratégias mais restritivas, se necessário, para o cenário local”.

Ainda segundo a SES, “a decisão de colocar o Estado de São Paulo na Fase de Transição do Plano SP foi adotada após recomendação do Centro de Contingência do Coronavírus, com foco em análises e pareceres médicos para permitir, de forma consciente e gradual, a retomada das atividades econômicas dos setores”, e “o Estado segue analisando a situação da pandemia para adoção de medidas adicionais, se necessário, para frear a disseminação da doença”.

Atendimento de UTI é feito em rede, diz pesquisador

Para Diego Xavier, pesquisador de saúde pública da Fiocruz, o esforço de atendimento de pacientes nas UTIs Covid precisa ser feito em rede, e não municipalizado. “A saúde, quando a gente fala de atendimento de UTI, procedimentos com complexidade maior, ela funciona em rede”, afirmou ele em entrevista ao SP2. “Então as decisões deveriam ser tomadas em rede. Pra isso foi constituído o Plano SP, para que regiões adotassem o mesmo comportamento, porque esses municípios que compõem [a região] dependem dos mesmos recursos.”

Segundo ele, “se a gente abandona esse plano, isso traz um problema, porque a maioria dos municípios não tem condições de atender seus residentes em uma UTI, então eles enviam para outro município”. O pesquisador defende que todos os governos articulem uma resposta de combate ao vírus.

“O que tem acontecido nessa pandemia é a transferência de responsabilidade. O governo federal se isenta, transfere a responsabilidade para os gestores estaduais, que transferem para os prefeitos, que muitas vezes transferem para a população”, afirmou Xavier.

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Fontes: G1

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