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COLUNA

Lula erra ou acerta ao pedir votos para o pré-candidato Guilherme Boulos?

“Contrariamente ao que creem os chorões, todo erro é uma propriedade que acresce o nosso haver. Em vez de chorar sobre ele, convém apressar-se em aproveitá-lo”. Ortega & Gasset

Boulos e Lula. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Boulos e Lula. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 05/05/2024, às 06h39


No dia 1º de maio, Lula, de forma ostensiva, pediu para que votassem no pré-candidato Guilherme Boulos. Essa iniciativa é proibida pela Lei das Eleições. As regras eleitorais determinam que os infratores poderão incorrer em multa que varia de R$ 5 mil a R$ 25 mil. Uma ninharia se comparada com os gastos previstos pelos partidos políticos. Disse Lula:

“Ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições. Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018 (corrigiu)...2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”.

Com ou sem intenção?

Não adianta os ministros e os advogados que apoiam o presidente dizerem que foi apenas “força de expressão”. Sob qualquer análise, está claro que Lula, com todas as letras, pediu voto para Boulos. E não podia ter agido assim antes de 16 de agosto, data prevista para que todas as candidaturas estejam registradas na Justiça Eleitoral.

Será que Lula, sendo experiente como é, cometeria um deslize tão primáriosem ter alguma outra intenção? É quase certo que não arriscaria infringir as leis eleitorais sem um plano arquitetado para beneficiar seu apadrinhado. Alguns pontos devem ser avaliados nessa situação.

Baixo público e pesquisa

O primeiro deles é que o evento foi um fracasso de público. Na verdade, flopou. O próprio Lula reconheceu que não fizeram um bom trabalho para mobilizar as pessoas. Assim sendo, o presidente não ultrapassaria essa linha amarela para conquistar os votos daqueles caraminguás que se dispuseram a levantar umas bandeiras em comemoração ao dia do trabalho.

Outro aspecto a ser considerado são as últimas pesquisas que colocam Ricardo Nunes com boa margem à frente do candidato do PSOL. A cada novo levantamento de opinião, o prefeito aumenta sua aceitação junto ao eleitorado. Esse crescimento pode ter se apresentado como uma luz de perigo na candidatura de Boulos.

Se os números estivessem favorecendo o candidato da oposição, provavelmente o presidente não correria esse risco. Como Lula abraçou a disputa paulistana como causa pessoal, irá lutar com unhas e dentes para chegar à vitória. Até ferindo as determinações da Justiça Eleitoral, como fez.

Ponderações sobre o fato

A partir desses dois fatores, seria interessante refletir se o presidente fez esse pedido conscientemente ou foi levado pela emoção do momento e, por isso, se expressou de maneira irrefletida. Independentemente do motivo, a verdade é que os benefícios para Boulos foram excepcionais. Embora o público diante do palanque fosse diminuto, essa mensagem atingiu uma população infinitamente maior.

Durante dois dias inteiros a imprensa, criticando ou não, repetiu esse pedido à exaustão. O assunto esteve nas manchetes dos jornais, das revistas, dos portais. Destacou-se também nas chamadas dos noticiários das emissoras de rádio e televisão. Foi uma mídia espontânea como poucas vezes se viu. Quanto dinheiro precisaria ter sido investido para que uma propaganda tivesse o mesmo resultado?!

Multa é dinheiro de troco

Ainda que os meios de comunicação critiquem a atitude de Lula, a mensagem com o pedido de voto para Boulos precisou ser repetida para que os leitores, ouvintes ou telespectadores tivessem o contexto do fato. E assim, a cada repetição lá estava o presidente fazendo propaganda para o seu candidato.

Se o Tribunal Eleitoral aplicar a multa prevista em lei, será menos que troco quando comparada com os milhões que serão gastos assim que a campanha oficial for iniciada. Se nada além da multa surgir como penalização, ficou barato demais.

Tiro na mosca

Tendo Lula feito esse pronunciamento de propósito ou não, em termos eleitorais foi um tiro certeiro. Se foi com intenção, o plano funcionou perfeitamente. Se agiu por acaso, mesmo sem querer, também acertou na mosca.

Alguns de seus aliados correram para justificar a atitude do seu líder. Além de afirmarem que tudo não passou de força de expressão, também disseram que foi obra do acaso, que não houve nenhum tipo de premeditação. Será? 

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