por Kleber Carrilho
Publicado em 01/07/2023, às 09h29
Os últimos dias, de mais um julgamento de um ex-presidente da República, têm levado muita gente às redes sociais para falar sobre Justiça e História. Para alguns, Jair Bolsonaro começa a pagar as suas contas com a História. Para outros, há um sentimento de que a Justiça está sendo usada de forma incorreta.
Dos dois lados, há interpretações exageradas. A História, por mais que ocorra agora, somente vai ser lida daqui a algum tempo e, mesmo que saibamos do papel do ex-presidente na condução irresponsável do país principalmente durante a pandemia, além de todos os ataques ao Estado Democrático de Direito, não dá para ter a certeza de que ele terá a importância histórica que damos hoje.
Afinal, para personagens como Bolsonaro, talvez haja uma ou outra informação de rodapé (ou o nome que isso tenha nos ambientes virtuais) depois de 50 ou 100 anos, assim como pouca gente sabe quem foi Ranielli Mazzilli, por mais que ele tenha tido um papel importante em um dos momentos mais terríveis da nossa História.
Quanto à Justiça, e o seu provável uso político nesta situação, vale a pena entender que a Justiça Eleitoral serve exatamente para proteger a democracia liberal. Como as eleições são escolhas deste modelo, qualquer ataque a elas é um atentado contra a própria democracia. Se a Justiça Eleitoral é parte integrante da democracia brasileira (e não tem um papel acima dela), não há possibilidade de que ele não se torne inelegível. Esta Justiça tem, sim, um lado: o da democracia que a sustenta.
Isso porque Bolsonaro não questionou detalhes técnicos das urnas ao convocar embaixadores para “denunciar” o processo eleitoral. Ele optou por atentar contra a democracia que temos, sem provas, apenas usando como argumento o terrível medo de perder.
Se a inelegibilidade for confirmada em todas as instâncias, Bolsonaro ainda participa do processo político. Tem a sua popularidade, principalmente para parte daqueles que não gostam da democracia. Para os outros, que gostam de votar e participar do processo político, mas só votaram nele porque não enxergavam opção contra o atual presidente, logo haverá um substituto, provavelmente mais preparado e mais inteligente.
E talvez aconteçam mais condenações, na esfera criminal, que podem levá-lo à prisão. Ou não, afinal tem gente que, politicamente, prefere não prender quem pode se beneficiar com um tempo na cadeia.
O que me parece claro é que Bolsonaro, preso ou não, será esquecido. Sem a prisão, o esquecimento será antecipado. De vez em quando, nos próximos anos, alguém pode se lembrar do seu nome, talvez Tarcisio quando tiver mais algum sucesso eleitoral, mas apenas para não parecer ingrato com quem o deu destaque.
Para a História, não o vejo como alguém que acerta contas com ela. Afinal, nunca teve tamanho para isso.
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